'Chuva de prata que cai sem parar...
Um beijo molhado de luz
Sela o nosso amor'
Todos os dias ela se sentava lá no mesmo lugar, sentindo o vento bater, ouvindo as folhas brincando nos galhos e os pássaros naquele diálogo lindo.
Naquele dia algo alterou sua rotina, a voz dele.
Não sabia de onde vinha, mas logo sentiu que ele estava ao seu lado, chegou como quase todos os amores chegam mesmo, em silêncio mas em confusão.
Sentou ao lado dela e já começou a tagarelar sobre as nuvens que se formavam com jeito de chuva, sobre como o vento estava mais forte e sobre como tinha certeza que nunca a vira antes.
Sorrindo ela se permitiu calar, mesmo cheia de vontade de gritar que esperara por alguém a vida toda, sorrindo ela se permitiu calar sobre o porque de sua solidão e fingiu enxergar os desenhos que ele descrevia em todas as nuvens, fingiu saber a tonalidade exata do cinza chumbo e fingiu que sabia que os olhos dele eram os mais lindos que já vira.
Mas ela não via nada.
Se acostumara ao destino que a vida lhe oferecera e nunca reclamara, só que naquele dia, só naquele dia ela sentiu muita vontade de ver um rosto, de ver a cor do cabelo que ela sabia que estava balançando enlouquecido no meio de tanto vento.
E a chuva chegou, ele a segurou pela mão e correram para a sacada mais próxima, ela se deixando guiar, sem medo, porque das mãos dele vinha uma segurança tão boa de sentir.
- Você não disse praticamente nada até agora - ele refletiu..
- É porque gosto do som da sua voz - ela mentiu - e também porque estava te desenhando em mim.
Ele sorriu, ainda sem entender.
- Posso te pedir um favor?
Ela sabia que podia então nem esperou resposta.
- Eu queria ver a chuva como nunca vi antes, você me mostra?
Segurando firmemente a mão dela, começando a entender mais sobre aquela garota misteriosa de olhar distante, ele a levou para o meio da rua.
- E como estão as nuvens agora?
Então ele sentiu uma vontade tão grande de não dizer nada que apenas a abraçou.
E ela se deixou ficar no primeiro abraço que sentia de um garoto na vida, o primeiro abraço que a fazia enxergar mentalmente um mundo novo.
- As nuvens ainda estão lá?
- Não, elas estão indo embora. E se você quer mesmo saber, acho até que elas estão envergonhadas.
- Não deveriam, você me disse que elas eram tão belas.
- Disse? É que eu ainda não tinha reparado na menina que se sentava todos os dias no mesmo lugar.
E então ele a beijou nos lábios com a maior delicadeza que conseguiu, esperando uma resposta dela para prosseguir.
E desde aquele dia a chuva para ela tinha o cheiro dos lábios dele, a chuva tinha o som do sorriso do garoto dos sonhos que era real.
(Ao som de Chuva de Prata - Roupa Nova)
(Primeiro Lugar da Semana!! Obrigada galera do Bloínquês!)