quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Do que chega


"You put your arms around me
And I'm home"

É que eu fiquei me sentindo a pessoa mais boba do universo quando você sorriu e me abraçou com os olhos, aquele gesto tão simples, tão íntimo e carinhoso e seu, só seu. Eu me senti tão aconchegada que quase engasguei engolindo o ar que tentei respirar pra sempre, tentativa de sorver o instante, de eternizar.
Foi tanta coisa, tanta, já contei mil vezes não é mesmo? Eu desaprendi, desculpe.
Fui criança um dia e enchi a casa de flores de primavera recente, abri a janela, decorei a prateleira, coloquei o disco favorito, o tapete mais macio, o sorriso que mais iluminava, mas não foi o bastante. Um dia o meu máximo não foi o bastante e será que você entende quando digo que talvez eu só tenha desaprendido a ser assim, mesmo com tudo bagunçado, apreciada?
Lua em câncer que sou, guardei tudo e desisti de ser amada. Não, estou sendo exagerada, você sabe como me cabe tão bem essa capa de exagero. Foi mais uma coisa de 'vamos para frente, ninguém tem tempo e nem disposição pra cobrir leitos de flores'. Fui seguindo, engolindo em seco a reverberação do amor dentro de mim, fui aprendendo a ser feliz me abraçando todas as manhãs, recitando Drummond e Quintana, engolindo a vontade de chorar quando queria e não é que uma hora a máscara de menina forte tinha se adequado tão bem que até eu acreditei que tinha deixado de ser uma boba que ainda se ri por dentro de afetos inocentes?
Voltei a saber ser criança. Sabia que nessa primavera fria os meninos estão adorando tudo porque esse vento faz as pipas enfeitarem o céu azul? Outro dia me peguei rindo do céu estrelado por trás de um ipê branco que quase me impossibilitava de ver o fundo escuro. Ah, talvez seja por ter aprendido a ser meu próprio bem que agora você tenha vindo, não foi? Alguém que se foi de carona naquele último trem me disse que as pessoas são muito mais agradáveis quando estão de bem consigo mesmas.
Pousei o sorriso, vê daí? Enchei tudo de perfume gostoso, vem cá. Não vou insistir pra você ficar, não cabe a gente pedir ao outro mais tempo no que já acabou nele, não cabe insistir pela permanecência de folhas que já mortas se despreendem, a verdade, demorei para aprender, é que quem ficar sempre encontra um jeito.
Mas hoje me fez tão bem o seu gesto, me fez sentir um afeto recíproco tão delicioso que andava esquecida de como era bom ter quem sorrisse e afagasse, hoje me fez só bem saber que esteja onde eu estiver, completa em mim, tenho ainda o que me acomode, tenho ainda espaço pra ser grande em corações bonitos.
Com toda a força do verbo conjugado, quando o te amo retumbou nos meus ouvidos e dedos e olhos, e senti dentro do peito o ninho já feito se abrir mais um pouquinho.
A gente sempre pode acreditar que o espaço jamais será maior do que a beleza do que vai ocupar. A beleza de quem vem só pra trazer bem.

Ao som de Arms, Christina Perri
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