quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pedaço de mim


'Uma vez, quando eu tinha quatro anos,
achei um caco de vidro no monturo.
Lavei, enxuguei, guardei bem guardado
e fui comer com vontade, ficar obediente,
emprestar minhas coisas, por causa do caco,
porque tinha ele,
porque eu podia quando quisesse
pôr ele contra o sol e aproveitar seu reflexo'


Agosto significa um ano de Sucrilhos e Neuroses, significou um mês de julho inteiro repensando em tudo que mudou desde julho passado. E vai significar muitos abraços de agradecimento, muitos silêncios de gratidão a Deus, muita alegria compartilhada ainda. Amor a gosto.
Então resolvi retirar os 'cacos de vidro' guardados como pedras preciosas do fundo do armário e colocar pra fora pra recolher brilho novo de Sol. Resolvi sacudir a poeira guardada na alma e a deixar a nostalgia fluir e me trazer abraços tímidos, abraços arregalados, apertados, desengonçados. Veio um caminhão de abraços, todos empilhados feito bóias-frias indo pra lavoura. Até disseram que era perigoso carregar tanto carinho assim, de uma vez só, ainda mais em um transporte assim bem improvisado, mas eu disse que essas coisas são bem assim, vão chegando quando bem querem, não ia impedir toda a felicidade de ter com quem compartilhar, jamais!
Cheios de um brilho renovador eu segurei bem firme meus cacos, alguns ainda esbarraram na cicatriz causadora de tudo isso, mas a pele que cresceu ali é tão forte que nem arranhão o caco provocou, fez cócegas e mostrou que o que não mata... cicatriza. Afinal, engordar não é lá coisa muito boa a se fazer mesmo.
E eu fiquei de novo pensando nos fundamentais, nas minhas pessoas preferidas do Planeta. Meus caquinhos começaram a brilhar tanto que eu até chorei de felicidade de ver toda aquela riqueza acumulada.
Então eu agradeci a Deus e resolvi nomeá-los de 'milagres diários', aqueles que me motivam em dias de chuva, que me fazem querer ser melhor, que aturam meu caos. Meus pedaços de vidro cheios de vida e de luz, brilhantes e com pontas cortantes, que é pra ensinar que não é de qualquer modo que se achega a um coração.
Meus presentes, fundamentos de toda construção, base sólida da minha vida. Meus amigos e quase donos desse espaço que vai fazer um ano já.
Um ano já e eu nem me lembro mais como era triste, nem me lembro mais o que é me sentir sozinha.
Ainda bem que a gente pode ter pra sempre quatro anos e pode sair por aí, catando cacos e guardando na alma. Ainda bem que pra fazer amigos, pra guardar caco de vidro, não importa o tamanho do armário, não importa o tamanho do abraço que vai caber no caminhão, não importa nada além do brilho que vem deles, dos olhos que brilham ali.

(Citação entre aspas: Adélia Prado, que encontrei no blog Caixa Mágica)

3 comentários:

  1. Parabéns pelo ano de blog! Espero que ele continue com os mesmos textos encantadores da mesma autora incrivelmente talentosa. ^^

    Que seus cacos de vidro continuem a brilhar sempre.

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  2. Parabéns pelo texto. Profundo e autêntico.

    Até mais!

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  3. Não estive nesse um ano de Sucrilhos e Neuroses, mas o pouco que senti, foi uma jovem com muito a falar, com muito a sentir, com muito carinho e abraços feito bóias-fria indo a lavoura rs. Espero que quando eu fizer um ano de Paranóico, possa eu escrever um post assim, parabéns, escrever nunca é fácil, é sempre como ter um filho, complicado e depois é só sorrir com o texto que te revela que você é mais do que um humano, é como um rastro da cauda de um cometa caindo do céu, é luz, é beleza graciosa e mágica.

    Com carinho, Charlie B.

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