domingo, 29 de novembro de 2009

A Eternidade Momentânea da Vida

'Mas essa vida é passageira
Chorar eu sei que é besteira
Mas meu amigo,
Não dá pra segurar...'

Havíamos nos conhecido no ano anterior, André sempre fora tão diferente de todos os outros que eu soube que minha vida, se escolhesse estar ao lado dele, não seria nada normal.
Ele dizia que nosso amor tinha sido ao primeiro olhar, mas eu sei o quanto me custou sair da minha cidade, largar minha família em São Paulo e vir para o interior de Minas.
Em quase dois anos de namoro planejamos tudo e nosso casamento foi perfeito.
O sol começava a se pôr, estávamos em uma fazenda de algum amigo de infância dele, estavam lá todos os meus amigos de São Paulo, minha família e os amigos e familiares dele. Eu estava tão encantada com tudo!
Me lembro do sorriso dele ao dizer sim, do modo como ele me beijou tão delicadamente na frente de todos, de como me conduziu enquanto dançávamos. Hoje eu vivo eternizando todos esses momentos.
Nossa lua de mel foi em Angra dos Reis e aquela foi a melhor semana da minha vida, ele me acordava com flores, passávamos o dia no mar, as noites eram no mínimo inusitadas para mim, uma mulher de vinte com experiência de menina de doze.
Voltamos para casa e a vida acabou voltando ao normal, aos poucos.
Ainda assim, viver ao lado dele era tudo que eu sempre pude desejar, ele me amava, ser amada não tinha preço, eu não conseguia mesmo entender tudo que eu sentia, tudo que ele me fazia sentir.
André trabalhava na cidade vizinha, ele era fazia softwares para computadores em um shopping.
Antes de nos casarmos ele sempre viajava de moto, mas eu temia muito o transporte e por isso nós compramos um carro.
Naquele dia ele saiu no horário normal, me deu um beijo de bom dia, perguntou pelo exame de sangue que eu faria, estávamos na confiança de uma gravidez, ele beijou minha barriga, disse que me amava e que se não fosse dessa vez, ainda teríamos a vida inteira para que acontecesse.
Ele disse.
Eu arrumei tudo que tinha que ser feito e saí pro ginecologista, pro meu exame.
Pouco tempo depois a tia dele me ligou, disse que iria me buscar, achei estranho mas aceitei a carona, estava um dia muito quente.
No caminho ela me contou que o André tinha sofrido um acidente, ele havia chegado ao trabalho e teve que fazer alguma coisa em outra cidade, estava indo de carro quando uma caminhonete na contra-mão o fez sair da pista, capotar.
Na hora eu não consegui chorar, não consegui pensar nada, não fiz nada.
Eu só dizia que ele ia sobreviver, ele ia sobreviver porque nós tínhamos que ter a vida inteira para ter um filho.
No hospital o clima era péssimo, ninguém acreditava, quando cheguei fui logo encaminhada a ele, somente quando o vi que desmoronei.
Meu marido, ali, praticamente morto, todo entubado, quebrado, sujo de sangue.
O pai dos meus futuros filhos.
André morreu.
Naquele mesmo dia. O meu amor, o homem com quem eu escolhi passar toda a minha vida. O meu.
Ninguém sabia da minha suspeita de gravidez, mesmo assim, todos me trataram com todo cuidado possível.
Quando aconteceu essa tragédia tínhamos quatro meses e meio de namoro.
Eu demorei algum tempo para me adaptar à falta dele, a suspeita se confirmou e eu estava mesmo grávida.
Durante toda a gestação eu pensava no bebê que cresceria sem o pai.
Quando Elisa nasceu e eu vi o olharzinho dela, o furinho no queixo que ela tinha que era do pai, sentindo o toque da mãozinha dela eu entendi: 'Será difícil, mas tenho certeza que irei vencer'.
Hoje minha filha tem quatro anos, é a luz da minha vida. Eu passei por uma depressão quando o André morreu, mas ela foi o presente que Deus me deu para confimar a linda história de amor que nós vivemos.
Minha filha não cresce sem pai, eu ainda não encontrei um homem para estar ao meu lado, na verdade não sei se vou conseguir voltar a amar de novo alguém como amava o André, mas sei que o futuro não me pertence.
Moro com meus pais e minha filha, que é muito mimada por eles.
Todas as noites me lembro que tenho que viver cada dia como se fosse o último, porque uma hora será mesmo. Faço planos, mas não vivo por eles. A vida inteira pode durar tão pouco.
E eu quero ser feliz, apesar de todo a dor que senti, a vida inteira.

(Música: Vida Passageira - Ira!)

2 comentários:

Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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