Era a Paris dos postais da infância, dos cartões das aulas de francês e principalmente a Paris dos sonhos dela com ele. Era a cidade-luz que iluminava e reluzia e inebriava burguesia romântica soando das falas sussurradas no boulevard e se mostrando faceira e sedutora por todas as ruelas do mundo que habitava ali.
Era a cidade que tinha abrigado o amor da vida dela e agora ela enfim criara coragem pra soltar os pés e cortar o cordão umbilical, indo atrás da realidade firme de um amor de adolescente. Cheia de medo e sem uma direção específica além do nome de um restaurante e de uma escola gastronômica onde ele fora estudar, ela se enfiara no avião, passagem e passaporte nas mãos trêmulas. Quando pisara na Europa, aquele velho continente transbordou em nostalgia de planos feitos e na vontade de que fosse a hora de concretizar mãos dadas suspirando o l'amour.
O idioma trôpego pediu ao taxista para deixá-la onde julgara ser o lugar certo, esperando por ele em frente ao seu trabalho. O fim de tarde dava ao céu uma combinação de azul e laranja e vermelho e ela só pensava em como fora louca, não por estar ali agora, por ter decidido no último momento, por ter dado um adeus rápido aos pais.
Era louca porque fantasiara-se ali anos atrás, quando ele partiu. Ela viria fazer aulas de dança e ele se tornaria um grande chef.
Por medo ou bobagem que se passa na cabeça de uma menina de 17 anos, ela soltara a mão e terminara tudo, que ele fosse para Paris e a esquecesse. Que realizasse os sonhos que iam além do Oceano e que fosse feliz.
Mas felicidade não encontrava desde então e talvez fosse meninice demais isso de temer a realização de sonhos tão bons. Ele fora e estudara e crescera. E ela ficou parada no tempo, esperando o coração entupir de saudade e de rancor por não ter tido a coragem suficiente quando foi necessário.
Com os olhos em lágrimas ela o viu sair pela porta da frente, três anos mudava qualquer pessoa, mas ela o reconheceria de qualquer modo, as pupilas eram as mesmas, a cor que vinha dele, o traço do sorriso formando uma covinha tímida no canto esquerdo do lábio e o nome dela dito num sotaque francês que ele ganhara. Tudo era ele. O ele dela.
Não conseguiu se mover, ele poderia ter se casado, ter desistido dela, ter se tornado um homem estranho. As coisas na vida real não funcionavam como nos filmes. Ele podia ter simplesmente ódio dela e ela nem o poderia culpar, afinal, fora sua escolha. Não dele.
Mas ele sorriu. Ele gargalhou e lá de onde ela estava, no fim da calçada, um metro e meio de distância dos braços que a tinham feito percorrer tantas horas e tantos medos, ela ouviu o próprio coração bater, sentiu aquela dor na ponta dos dedos que se sente quando a vontade de tocar algo é tão mais forte que o impulso cerebral e quis dizer qualquer coisa, saiu apenas 'sonho', suspirado, quase calado, imperceptível não fossem os ouvidos dele tão treinados.
Se recompondo e imaginando o quanto soaria ridícula, ela se forçou a dizer:
- Paris é mesmo linda!
E aqueles olhos que tinham o tom de castanho mais parecido com chocolate derretido dele jogaram-se no chão, o ar entrou e saiu do pulmão dele e ela ficou sorvendo cada molécula de oxigênio que sobrara pra própria respiração até ele dizer, meio sorrindo, meio desconfiado do golpe de sorte de tê-la enfim ali, na realização de um sonho que nunca desistira:
- É bem mais agora. Pode apostar.
E no fim de tarde de um dia de meio de semana Paris sorria uma história de amor.
(Ao som de: Quelqu'un m'a dit - Carla Bruni)
Oi tay, feliz aniversário.
ResponderExcluirLindo post, gosto da simplicidade e da exploração ao amor rs nos seus textos.
Bjão que Deus te ilumine e te abençoe.
Lindo *-*
ResponderExcluiramoo essa musica!
:)
É Tay, histórias de amor em Paris fazem a gente ir longe. Longe mesmo, ir lá em Paris, ver de penetra a cena do conto e voltar pro interior de Goiás. Adorei suas palavras. E a história ainda mais.
ResponderExcluirAbraço !