terça-feira, 26 de julho de 2011

Não sei se eu saberia



'Não me salvo
Porque não me acho
Não me acalmo
Porque não vejo
Percebo, mas desaconselho'


É que vai chegar o inverno e eu vou sentir um frio insano, eu sinto demais.
E vou precisar que você me abrace e me distraia contando histórias de folhas que caíram no outono passado mas que o vento fez voltarem por estarem despencando antes da hora.
É que eu sou insistente e chata e você vai ter que me dizer que me ama mesmo assim, porque se você me pedir menos eu vou ficar confusa, triste e magoada, porque não sei não dizer tudo isso sem sentir, e se digo, se sinto, como fazer pra ser avesso?
Assim do meu jeito distraída, rabugenta, pegajosa e piegas eu vou querer aguar suas plantas e talvez eu acabe matando alguns cactos, eu posso te ajudar a plantar outros, prometo.
É que você vai ter que me mandar desacelerar a moto na curva porque eu me encanto com o vento batendo no rosto e quero mais, sempre mais, curva ou reta, quero voar. E você vai precisar puxar meu pé pro chão, ser minha âncora, e também vai ter que me dar asas nos dias nublados e chuvosos em que eu acordar meio Paulina e melancólica e londrina.
Você vai ter muito trabalho comigo, muito. Pense bem.
Porque se o amor é objeto e eu concordo que seja, existe devolução, mas existe aquele vínculo que se cria quando se toca, se pede pra tocar, existe os dois pedaços que eram e passaram a ser por algum tempo uma coisa só no encontro das duas peles.
Eu sou terrível, você vai ver isso na primeira semana porque quisera, mas não sei esconder meus defeitos de estimação.
O que sei ser de bom você vai ter que notar sozinho, porque dizem por aí não cabe da gente ficar esfregando as qualidades. 
É que vai ter sol e vou querer sua companhia na roda gigante amor, porque algumas giram e giram e eu fico tonta, mas gosto da sensação de medo de não ter mais os pés no chão.
Eu sou tão complexa, mas eu simplifico pra você: se quiser me amar, que venha e me ame e que permita. Que quando me faltar sanidade você se enlouqueça e vá pular poças comigo, vá rir de estrelas cadentes imaginadas e fazer pedidos infantis.
Que as nossas infâncias coincidam em plena esquina e a gente se permita o sorvete em dia frio, o banho de chuva mesmo resfriado, a falta de juízo que faz acontecer os melhores momentos da vida.
É que tenho cicatrizes. Você tem.
Se eu pudesse te escolhia de berço assim você me conheceria tanto que não haveria espaço pro estranhamento, mas não me foi possível, não é sempre possível realizar os meus sonhos mais diversos.
Envolvem você quase todos.
Eu vou ter pesadelos, medo de escuro, saudade que não é permitida matar, dias ruins por meses, sem contar a tpm que você pode prever.
Mas é que eu vou ter tanta coisa e matéria pra te fazer sorrir se você quiser, não ensaiado, não não. Eu vou querer te fazer sorrir, eu vou querer sorrir com você, vou querer que você sorria pra sempre.
É que eu vou te pedir e até cobrar, acaba acontecendo, vez ou outra. E sabe, é que você não sabendo lidar comigo poderá facilmente esquecer tudo, mas eu não. Aquele mecanismo que faz com que esqueçamos o que não nos faz tão bem lembrar não funciona direito na minha cabeça, deve ter sido substituído pelos outros milhares de pensamentos abstratos feito quadros cubistas, cheios de cores e pontas.
Só psicopatas fazem sofrer de propósito e veja você, não tenho vocação pra maldade.
Eu vou errar tantas vezes que por fim você pode se cansar de tantas falhas, mas eu sou imperfeita de natureza, não que isso me conforme. 
É que eu vou precisar que você me ensine a voar. Porque tem dias que minhas asas parecem atrofiadas de tanto pouso forçado e você tem cheiro de vento.
E é que se eu amar você terei uma dificuldade imortal de ver você se distanciar, então, dê a mão pra dormir.
Dê o sorriso antes de partir.
Dê um beijo de boa noite e me diga que ficará.
Fique.


(Ao som de: Zélia Duncan - Enquanto Durmo)

2 comentários:

  1. Que lindo esse texto, complexo. mas lindo.
    O amor... que sentimo mais estranho. Ao menos eu acho. Porque quando pensamos amar alguém nossas vontades ficam voltadas para o objeto do afeto. Desejos, carinhos e conversas; todas essas coisas ficam voltadas para um mesmo ser. Acho que o amor é algo surreal, e não sei se saberia viver com um. Vai ver é por isso que escolhi ser sozinha. É mais fácil assim.
    Você escreve bem, mas confesso que em algumas partes me confundi. Whatever.
    (Se o texto não falava de amor propriamente dito, sorry me, mas foi o que eu captei da essência de suas palavras).
    Bjo! (:

    http://miasodre.blogspot.com/

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  2. Coisa mais linda de se ler!
    Me identifiquei muito com essa parte:"Aquele mecanismo que faz com que esqueçamos o que não nos faz tão bem lembrar não funciona direito na minha cabeça, deve ter sido substituído pelos outros milhares de pensamentos abstratos feito quadros cubistas, cheios de cores e pontas."
    Parabéns, ta lindo, lindo, lindo!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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