'Só ao amor pode juntar
O que o desejo separou
Não poderia ontem
Se vestir de amanhã?'
Vinte e poucos anos e aquela dificuldade imensa de compreender coisas tão simples. Ela o queria a ponto de doerem as pontas dos dedos. Ele nada mais desejava que tocar o espaço pequeno da nuca pertinho de onde nasciam os primeiros fios loiros dela.
E agora estavam se casando ali naquele cais improvisado que representava o que cada um era para o outro, lugar de espera. Um casamento sem juiz, tendo por testemunha aquele mar que ficaria entre eles, ele na Europa realizando o sonho de um doutorado precoce. Ela aqui hibernando os desejos de estar ao lado dele o tempo todo.
O vestido branco foi minuciosamente escolhido, o buquê comprado em uma loja de flores vinte e quatro horas, a calça social dele fora emprestada por um primo gordinho e insistia em cair.
Mas eles se amavam com um amor tão bom de viver, que ousadia do destino cobrar esse tipo de decisão deles! Porque assim, tudo de uma vez?
Não haveria bolo, não haveriam madrinhas para disputarem as flores jogadas pro alto, não haveria um álbum que registrasse a família toda bem vestida e as lágrimas dos dois.
Mas haviam lágrimas pesadas e uma dor sufocante no peito dela, algo dizia que ficar seria tão terrível quanto partir.
Quando o sol começou a se pôr e ela entendeu que na próxima manhã ele não estaria ali quis jogar alguma âncora ou coisa parecida, mas sabia impossível.
Ele começou os votos:
- Eu, tão bobo e metido a dono da razão, não só aceito como espero do fundo de algum lugar que talvez eu nem soubesse que existisse aqui dentro, me casar com você. Eu digo sim e grito, corto o dedo e faço pacto se for preciso. Eu te amo e quero que você seja minha esposa, o porto que vai me receber quando eu retornar.
Engolindo o choro ela ainda sussurrou:
- E eu, tão cheia de medos, prometo que tudo que me bastará por esse tempo será o seu sobrenome, a sua aliança invisível feita de tudo que é real brilhando no meu dedo...
O Sol quando se cansou de enfeitar a cena foi embora de prova do casamento marcado e consumado num píer maltrapilho que poderia ter sido a igreja mais linda de todas não teria abençoado mais um amor tão único.
(Ao som de: Por Um Triz - Skank)
Lindo texto, como sempre, não é?
ResponderExcluirTem presente para você lá no meu blog. Não deixe de ver, não mesmo.
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