Eu tenho convenções a zelar. Eu sou madura suficiente para entender que determinadas relações levam a nada.
Eu sou egocêntrica demais para dividir minha vida com alguém, sou imatura demais para estar em uma relação sem sentir ciúmes, sem querer só para mim. Eu só penso em mim e na minha casa não tem espaço para mais ninguém na cama de casal. Em cima da pia os copos e canecas formam um desenho ritualístico, as cadeiras têm lugar predeterminado e as almofadas do sofá não estão lá para ninguém sentar, são acessórios de enfeite.
Eu falo muito de mim e sempre sou compulsiva quanto ao modo de ouvir dos outros.
Mas você sorri desse jeito e eu perco a conexão cerebral. Você sorri e eu não consigo mais articular nada para dizer ou pensar ou agir.
E então eu sou uma molécula fortemente atraída pelo seus lábios entreabertos e meio tortos. Eu passo a existir numa órbita relacionada à precisão um tanto desalinhada desse sorriso de menino olhando para uma mulher imaginada. Eu não sou nada disso, queria ser para manter vivo e eternizado esse pequeno fragmento de felicidade roubada que você compartilha comigo de forma única, tão diferente do sorriso clichê de covinhas que você divide com todos os outros.
Você sorri e eu me lembro daquela canção do Engenheiros em que os lábios eram labirintos. Os seus são avenidas. Avenidas decoradas para o carnaval de alma que sempre vem depois que eles surgem. Avenidas em que eu sambo, pulo e danço, no ritmo que você sugerir e deixar tocar.
Porque quando você sorri o mundo não sorri junto, a vida continua sendo vida, as coisas permanecem com são. Mas eu mudo.
E mais nada tem esse poder de transformação.
Texto para a Edição Musical do Projeto Bloínquês.
Ao som de: Vermelho - Marcelo Camelo
Sorrisos são realmente especiais. Adorei seu texto :)
ResponderExcluirVocê sorri e eu não consigo mais articular nada para dizer ou pensar ou agir. quee lindo saudades daqui
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