quarta-feira, 17 de abril de 2013

Dos engasgos



Querido,
É tarde e certo que você esteja dormindo já, das tantas coisas que aprendi a achar lindo em você sua metodologia diante das coisas bestas dessa nossa vida tão banal sempre me fez rir, no fundo eu achava bobinho o fato de você se importar com a hora que vai dormir mesmo sem ter a certeza que vai acordar amanhã. Mas é lógico que você não entenderia se eu te explicasse, diria que sou uma louca sonhadora com os dois pés acima das nuvens e que deveria crescer, no mundo adulto a gente faz planos e acorda todas as manhãs a tempo de dar a ração do peixe antes de sair.
Se eu fosse do tamanho que você diz para eu crescer acho que as pessoas fariam fila ali na porta de casa para ver a mulher mais gigante do mundo com o peito pequenininho de tanto guardar coisas. E talvez porque agora estou pensando no que o médico disse para minha mãe quando eu ainda tinha nove anos e sentia dor por todo o corpo sem explicação, talvez porque em alguns lugares doam eu ache que esteja crescendo e que puta merda, eu deva dizer algumas coisas.
Um bocado de vezes eu já disse que te amo não é? Eu aqui, do alto dos meus vinte e poucos me achando dona de todo amor do universo pra ficar dando por aí assim. Olha, pode parecer que eu falo demais mas você não tem ideia do quanto eu calo.
Calo quando quero gritar que você é um idiota. Não, não é um idiota qualquer, lógico que não, é o meu idiota. Você com seus olhos de pessoa madura que já passou por tanto e enxerga além, você com sua fala de quem pondera mil vezes antes de dizer, você com seu jeito de causar um estrago descomunal nessa criança que ainda e ainda e ainda insiste em tentar ver coisas fofas porque se o mundo for sempre cinza talvez as outras cores se cansem de tentar morar aqui e partam para outro universo.
É tarde e tenho certeza que amanhã quando você abrir os olhos pela segunda vez depois de ter feito o mesmo movimento e fechado vagarosamente vai notar o recado reciclado do papel toalha que sobrou da refeição relâmpago da noite em que eu tagarelava sobre como adorava estar ali com você, e você, no seu mundo, me achando a pessoa mais egoísta do planeta por expressar, dizia alguma coisa sobre o último filme do Wagner Moura que eu devia assistir porque realmente era uma obra prima do cinema nacional.
Olhe, com o perdão do termo bem chulo, que se foda o cinema nacional meu querido. Que se foda o Wagner e todo mundo que não sabe o que eu sinto e calo e agora grito. Que se dane quem pensar que eu sou o egoísmo em pessoa por querer dizer, por pintar estrelas e corações no espelho do banheiro enquanto você toma banho. Que se exploda por eu me preocupar com você quando sei que vai atrasar no serviço e corro da faculdade para cá na intenção de te preparar um café forte e quente e com poucas gotas de leite pra te receber sorrindo.
Eu tento de todo modo que é possível para esse coração que você ridiculariza sempre que pode aceitar a sua forma de amor numa tentativa assim meio Lulu de acreditar que toda forma de amar vale a pena, mas cabia um pouco de cumplicidade da sua parte, cof cof a parte pseudo-adulta da relação, em olhar para a minha e tentar aceitar.
Vê bem, não estou te pedindo para entender, não tente entender porque eu te amo sendo você tão cruel comigo às vezes, não tente entender porque eu te amo quando você parece não fazer a mínima questão de perguntar como eu sobrevivi depois de um fim de semana de tpm, não tente entender porque eu te amo quando você tem seus surtos evasivos ouvindo blues enquanto eu explico as causas de gostar de uma banda pop nova. Ou vai ver você até consiga entender, você é o entendedor mesmo no fim das contas. E se conseguir a proeza venha já me dar aulas se sentindo o maior sabe tudo desse planeta que a gente acha que é grande e me diga o motivo disso, porque, raios, juro que passei a madrugada procurando uma resposta.
Juro juradíssimo com todas as mãos para frente pra você ver que não estou cruzando dedo algum. Juro pela minha temporada original de FRIENDS que eu adoro e você vê e nem acha graça.
Queria entender o motivo de te amar porque talvez eu tivesse coragem de ir até aquela parte e modificar alguma coisinha mínima, tem aquela teoria do caos que diz que se algo, ainda que pequeno, for alterado todo o resto sofrerá consequências, aquela que eu aprendi no filme Efeito Borboleta que não importa o quanto eu sugira para você baixar você nunca vai ver, sei que você nunca assiste o que eu indico. Talvez eu fosse até lá e só lustrasse um pouquinho na intenção do brilho ser tão forte pra você ver de onde está, mesmo dormindo, mesmo ignorando, mesmo não querendo que eu te ame porra nenhuma.
Ou quem sabe eu apenas fizesse o que estou fazendo agora, engoliria o choro e a vontade de te abraçar apertado e te dizer no ouvido em como, mesmo parecendo uma loucura, você me faz feliz de um jeito legal, gostoso de ser feliz, estranho. Engoliria junto tudo que precisava te dizer e que fica pra próxima, fica pra quando eu for grande o suficiente e fale uma língua que você respeite, uma língua que você ouça com carinho, que você deseje ouvir.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dela que se faz tão perto



'É morena, tá tudo bem
Sereno é quem tem
A paz de estar em par
Com Deus'

Ei menina,
Tem espaço aí para mais um abraço hoje? Tem espaço pra eu te dizer algumas das palavras colhidas depois de um dia de chuva em que o verde é tão lindo e vivo que a gente confunde estar dentro de um filtro especial?
Hey menina, tem lugar do seu lado pra eu te cantar uma canção doce, pra te dizer que você é linda e que eu sinto que a gente tem bastante em comum, mesmo tendo tão pouco pra falar sobre isso? Tem como menina, tem como você parar esses olhos delicados e abrir aos poucos o sorriso assim, como quem diz: 'vambora, mas vamos com calma pelo prazer de saborear minuciosamente'?
Sabe menina, a gente passa por poucas e boas nessa vida não é mesmo? Lição ou não, tudo é motivo pra agradecer porque as coisas surgem pra gente que é bobo entender o propósito. Não, não o propósito delas, mas o propósito de estarmos aqui: amar e perdoar. E quando for demais perdoar mais um pouco e aprender a amar de novo, outra vez e até o fim, porque se não é de amor que se morre, que de amor se viva né?
Oh minha irmã, coubesse eu ia hoje me desfazer em pétala pra enfeitar esse cabelo tão lindo, eu ia pedir pra Deus deixar eu morar no céu que dá pra ver da sua janela e até brincar de ser estrela cadente um pouquinho pra que você pudesse fechar os olhos e fazer um pedido cheio de ternura.
Não é porque hoje é seu dia, não é porque você é sempre incrível com minhas palavras, não é porque eu queria mesmo ter um jeito de dizer que aniversários são pra gente refazer mentalmente os planos e fortalecer as pernas. Hoje menina, é porque você merece, porque por tantas vezes foi um presente que eu queria mesmo tentar ser também. Porque menina, é pouca gente que tem a leveza de ter paz e ser par, olhe bem, você tem.
Que o seu ano seja grandioso em poesia e música linda, que a pele reflita a alegria que invadir e que muita muita alegria invada mesmo, todo dia, cheia de coragem, cheia dessa força que você tem. Que seu céu seja repleto de lembranças de um amor puro e que vence, vence sempre porque se a gente acredita nada é mais real do que um amor.
Morena, menina, aproveita essa vida toda que tem suas mãos, aproveita essa delicadeza toda que tem seu sotaque e seja feliz como nunca, feliz como daqui pra frente será regra, feliz como convém a alguém que tem dentro de si o mundo inteiro sorrindo faceiro pra gente aqui de fora. Seja feliz como você merece ser.
Um bocado de Los Hermanos pra enfeitar seu dia e todo amor do mundo pra nós e pros outros, a ponto de não existir outro lado. Saiba ser o melhor na vida e sempre peça bis quando alguém lhe fizer feliz.
Feliz aniversário menina flor de laranjeira.

(Ao som de Morena - Los Hermanos)

[Hoje é o aniversário da Maiara Bonfim do blog Vestida de Saudade, a Mai que tantas vezes já me deu temas perfeitos para postar aqui e que sempre está ali para dizer palavras lindas. Deseje a ela um bem tremendo, juro que ela merece!]

sábado, 6 de abril de 2013

Das levezas que vieram




"Here's to us, here's to love
All the times the we messed up
Here's to us, fill the glass
Let's toast 'cause things got better
And everything could change like that
And all these years go by so fast
But nothing lasts forever"

Porque gente de verdade cai, quebra a cara feio, rasga o joelho e tem cicatriz espalhada pelo corpo inteiro. Gente de verdade se apaixona mesmo sabendo que noventa e oito por cento das paixões dão em dias inteiros jogados na cama querendo que o tempo passe rápido e o esquecimento tenha sabor de brigadeiro de panela.
E chora o mundo inteiro até soluçar e ficar parecendo cosplay do Bozo, e fica insegura e tem sonhos secretos e fantasias bizarras.
Quando você olhar pro espelho e ver seu sorriso de praxe vai lembrar que gente de verdade sangra. Vai sentir falta da época em que era criança e sabe, crianças são pessoas de verdade, livres de preconceitos e prontas para levantar depois de todo e qualquer tombo.
Vê se aprende menina, ser gente de verdade tem um valor inestimável. Vá em frente, enfrente, pule a onda, firme as pernas, abra os braços e se precisar feche os olhos, às vezes o vento é forte e dá medo de que não embarace só o cabelo. Seja corajosa a ponto de assumir que veja bem, você não é de ferro e mesmo se fosse, há fogo para moldar tudo nesse Universo sem fim.
Não queira ser o espantalho da história, não deseje trocar seu coração besta por um cérebro extra, mas pare por aí, não me venha querer ter dois corações também não. Não queira nada além de acordar e sentir a vida amanhã. Coisa besta a gente ousar desejar mais que isso.
Sabe aquela personagem do seu livro favorito? Ela não é real. A mocinha da novela, a princesa do filme, até mesmo a bruxa má que se parece com aquela vizinha chata ou a Bella de Crepúsculo que de tão clichê poderia bem ser toda menina do planeta, elas são de mentirinha. Do mesmo jeito que são as relações perfeitas que a gente desenha na mente. Telepatia não existe. Reciprocidade caiu de moda e pare de desejar algo assim, a medida do outro está longe de ser a sua e não existe medida ideal, queira cumplicidade, reciprocidade são outros mil e quinhentos.
Pare de imaginar que seus sonhos são os escolhidos para se tornarem reais nesse mundo tão cheio de sonhos e de pessoas dispostas a vivê-los. Pare de achar que você vai morrer se doer um pouquinho porque tanta gente sente dor de verdade e enfrenta a vida na raça, seja Maria Maria, tenha fé na vida.
Quer ter esperança de alguma coisa? Tenha esperança de se tornar melhor. Só e por favor, por favorzinho, apenas isso. Descobri recentemente que esperança é a expectativa camuflada de sentimento fofo, quem espera fica parado, estagna, quer receber alguma coisa. Não cabe a gente se achar merecedor de nada não, bonito é a gente ir atrás, meter a mão na taça e gritar bem alto quando conquistar. 
Bonito é ser gente do mundo real, esquece a raposa, o Pequeno Príncipe, a rosa. Ignora a carta de Hogwarts que nunca chegou. Olhe aí pra ponta dos seus dedos, sua digital. Sua marca única. Sua prova de sangue. Você é de verdade e seu país não é outro, você não nasceu no tempo errado e muito menos as pessoas foram feitas para corresponder as suas necessidades.
Ah, vira gente. Arregala os olhos, coça a garganta, engasga de vergonha ao perceber que estão te olhando, conjuga o imperativo errado. Who cares? Vai ser bonita de dentro pra fora, vai gargalhar em público, dançar sem música, desafinar suas canções, vibrar com teu time. Erga seu copo por cada momento!
E só pra variar, seja o tipo de gente que tá difícil de encontrar, seja agradecido. Gratidão anda em desuso mas cabe bem em todo tipo de pessoa. Agradeça por ter amigos, por ter cúmplices, por ter amores, por ter ainda os que passam. Já pensou que congestionamento seria se todo mundo resolvesse ficar? Agradeça porque assim vai dá pra sentir o prazer genuíno de ser satisfeito por dentro. Vai dar pra saber a diferença de ser gente de verdade e ser personagem. Gente de verdade pode uma coisa extraordinária: sentir.

(Ao som de Glee: Here's to Us)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

De tudo que lhe quero bem


Cause even the stars they burn
Some even fall to the Earth
We got a lot to learn
God knows we're worthy
No I won't give up


Eu teria ficado acordada a madrugada toda, como naquela música do The Fray que tanto me faz chorar revendo a Izzye jogada em cima do corpo do Denny. Eu permaneceria em vigília facilmente se eu soubesse que salvaria uma vida. Tantas músicas, tantas. Eu iria a pé do Rio a Salvador. Pra te ver sorrir eu poderia colorir o céu de outra cor. Clichês baratos sabe?
A verdade? Se dependesse de mim nada teria sido assim só que em algum ponto dependeu da gente e por erro de percurso não se notou. Eu teria dado o meu melhor, mas já era tarde demais para dar qualquer coisa.
Sabe, eu sofri. Não vim aqui destilar álcool sobre isso, acontece que eu em um momento de tudo parei de pensar que talvez você também sofresse. Sofre-se por ser morto e eu preferi não pensar que também se sofria por matar porque sempre que eu pensava que falta é uma dor comum eu me colocava em estado de vigília imaginando se estava fantasiando que você sentia ou não saudades. Sou confusa e estou realmente me saindo melhor ainda escrevendo tudo isso né?
Eu teria feito o impossível mas você uma vez só me pediu uma coisa, e eu não fiz. Como é fácil falar, como é! Você pediu que eu respeitasse os seus limites e eu até hoje, até agora estou cruzando suas linhas.
Desamarrei meus cadarços e voltei a pisar no chão, passo medroso no começo mas ciente de que a força está no cérebro que firma as pernas. Olhei o céu, as montanhas e o além, olhei o tanto de vida que tinha aqui dentro e até sorri, pois é, eu voltei a sorrir, aos poucos. E eu ainda teria permanecido acordada se soubesse como salvar uma vida.
Agora fico aqui pensando se existe fórmula para isso. Aquela minha mania de filosofar e viajar: vidas não foram feitas para serem salvas, talvez a medicina seja uma vaidade de quem tem medo de passar a fronteira. Vivia dizendo que tudo dura o tempo exato que tem que durar e olhe que outra vez falar isso é bem mais fácil que vivenciar, eu só sinto muito sabe. Por antes também, mas de forma diferente, não sei explicar. Sinto por ter causado qualquer dor e sinto se estiver causando agora, se por negligência minha o que eu digo ainda te dói. Não é por mal, é só porque lembrar você deixou de doer em mim e acontece com naturalidade agora, veja bem, as pessoas vão embora mas as lembranças não, elas se acumulam em caixinhas na estante que a gente tira poeira vez ou outra. Por tudo que foi para mim é impossível (por enquanto é, sinto muito) não lembrar de você vez ou outra. Não gostaria que isso te doesse, não gostaria mesmo que se ao cruzar com você e sorrir você desvie o rosto. Não gostaria que as coisas tivessem tomado o rumo que tomaram mas já que foram por esse caminho, que ao menos sobre aquela magnífica vontade de fazer o outro bem. Pelo amor, eu te quero todo o bem do Universo e olhe, não me aproximo para esfregar nada nos seus olhos bonitos, não me aproximo para implorar que você me deixe ser qualquer coisa parte da sua mobília só para estar perto, eu só venho quando preciso externar que ainda te quero bem e que algo me lembrou você. 
Cabe ter alguns direitos, eu tenho o de lembrar com carinho, você mesma me concedeu. De verdade, sinto muito por não ter compreendido o quanto o seu espaço era tudo que você queria, eu sou péssima em entender coisas, ando cogitando seriamente entrar pro ramo das exatas porque meu cérebro não é lá essas coisas com cognição, entretanto é parte do que eu sou tudo isso. Sou piegas, lembra? A gente não pode pedir desculpas por ser o que é, acaba soando falso. Estando você perto ou não eu vou me lembrar vez ou outra de coisas suas porque eu sou estranha assim, acontecimentos me lembram pessoas e pessoas, mesmo a gente não sabendo como salvar uma vida, algumas pessoas são imortais dentro da gente.
Não quero te fazer sofrer, não quero que por dizer uma ou outra coisa que faça referência a algo que foi lindo isso cause rebuliço aí dentro, só quero ter a liberdade de dizer sem que isso te machuque porque eu sei que já machuquei não fazendo o possível que foi pedido, não tem necessidade de machucar mais. Não quero nem ter que ficar tentando entender se um gesto meu teve ou não significado para você porque isso voltaria a me fazer ficar pensando em reciprocidade e me botaria a ficar indagando coisas que estão chegando aos eixos.
Às vezes fazer o impossível parece mais fácil do que fazer o que está bem diante das nossas possibilidades, dessa vez eu não estou passando por cima de nada, só estou e isso eu sei que vou estar por muito tempo, querendo que algo te faça sorrir.
Pra sempre eu vou me lembrar com carinho, tivesse eu direito de pedir alguma coisa ainda seria o mesmo.

(Ao som de I Won't Give Up)

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