terça-feira, 25 de junho de 2013

Tambor


Where the streets have no name
We're still building, then burning down love
And when I go there
I go there with you

Eu poderia passar toda uma noite segurando seus dedos ágeis, brincando de erguer cartas imaginárias no lençol branco com a janela entreaberta o suficiente para entrar uma luz amarelada e tudo ter ainda mais tom de sonho. Poderia insistir para os olhos permanecerem abertos mesmo bêbada de sono e da sua presença cheia de vida que fala compulsivamente de músicas e cantores e estilos e vidas que eu vejo beleza por saírem dos seus lábios. Já falei do quanto gosto deles? Era escuro e eu enxergava o seu sorriso por errar a letra da música, era escuro e eu queria tocar seus dedos, porque tocar você parece tão absurdamente certo que preciso me conter e me perguntar porque mesmo a gente não enxerga a mesma beleza em todos os rostos.
Em tom de brincadeira eu proferia os meus sonhos, sabe, você me leva para a Terra do Nunca e eu posso voar fácil sem medo de ter que escolher qual personagem eu vou ser dessa vez, só você domina a arte de me peterpanizar e então olhe só, temos quantos anos mesmo?
Tenho idade para me casar? Porque vontade eu tenho de gastar um bocado de tempo livre ouvindo suas histórias e até resmungos, tá pra nascer resmungação mais sem propósito que essa que brota do seu tom de voz.
Fosse a madeira um pouquinho mais escura eu teria que criar uma metáfora pros seus olhos de chão e a gente ali deitado olhando pro teto e tentando adivinhar o padrão de cores da parede. Foi um ano de tanto medo esse meu 2013, mas é que quem foi mesmo que disse que ouvir sobre o vocalista da sua banda favorita faria lembrar sóis que já morreram? Alguma coisa em você se parece com outros verões e o louco é que longe de trazer tudo de volta, o fato de você gostar de algo que meu coração reconhece de amores antigos renova tudo, talvez eu estivesse o tempo todo procurando algo do lado de fora quando só precisava descobrir que já existia dentro de mim. Bate vento da pronúncia que você tem de alguns termos e me pego rindo do seu jeito nerdzinho de criticar a disposição das coisas que organizo.
Sou uma bagunça ambulante. Uma bagunça vivente e você me desorganiza, acredito na lógica teoria do caos pra explicar porque fico tão bem do seu lado. Quando se perde o chão só existe queda ou voo.
E você olha a lua um dia depois e garante que ela está maior, logo hoje que ao ver aquela lua tão cheia de significados pisquei os olhos e dei só pra mim um sorrisinho desdenhoso, acho que tão pouca gente sabe que na verdade a minha favorita nunca foi a cheia e eu perco o tempo mesmo é admirando as estrelas.
Quando você insistiu que ela estava maior tive vontade de gritar que procurei bem pra encontrar a lua hoje, fazia tempos que não a achava tão pequena em mim. Meu sorriso era maior.
Meu amor era maior, sabe como?
Dois dias e dois tombos diversos me deixaram com as pernas mais fortes e vou andar até aí, fazer carinho no cachorro e tocar violão na sua janela. Olha aí paixão, tá vendo que desisti da normalidade esses dias?
Conheço um lugar tão lindo que vi poucas vezes, por lá tem um tom meio amarelado como do sonho que acordei e fiquei com a sensação de que o beijo tinha sido real, tão real. Tem por lá uma mesa de sinuca imensa e a gente pode deitar lá em cima e passar a noite falando sobre os filmes e pessoas que têm tanta relação entre si. Ou a gente pode só respirar baixinho pra não atrapalhar o sono alheio. Ou pode só rir muito. Rir demais e agora e o tempo todo de como somos bestas. De como somos demais. De como tocar seu rosto quase pintura que tem alguma simetria mágica me acalma. De como eu queria que você uma hora ou outra parasse os olhos em tudo isso.
A gente pode só fechar os olhos e apertar as mãos também.
Pode só continuar assim, fazendo parecer tão simples fazer o outro feliz.


(Ao som da canção que achei pra gente, Where the streets have no name - U2)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Da possibilidade que não existe



"Não vá dizer que eu estou ficando louco
Só porque eu não consigo odiar ninguém"


Tem quem mereça afeto eterno e como as folhas que enfeitam primavera sem ser de tudo flores, tem quem mereça afeto de temporada. Tem quem te acorde de manhã com beijos e quem te faça dormir com lágrimas nos olhos. Tem quem te espere num dia de chuva com uma notícia triste que dada pelos lábios certos tem um tom de esperança bonita e tem quem faça um dia de Sol nublar por proferir palavras duras naquela voz típica de veludo.
Tem quem faça a vida valer cada segundo e tem quem faça alguns segundos especiais pra toda vida. Tem tanto tipo de gente que é comum a gente amar e desamar.
E tem gente assim que haja o que houver não sabe odiar.
Não é prazer pelo desprezo alheio, longe disso. Cabe análise científica do coração com mais de vinte que insiste em parecer um coração tolinho de menina no jardim de infância que recebeu areia nojenta nos olhos e após chorar rios e limpar toda a sujeira sorriu com timidez desculpando mesmo sem ouvir do outro o pedido de perdão.
A gente odeia o fato de ser menosprezado. O fato de ser deixado pra trás. Odeia o caso que por horas parece ser pouco. Odeia repetir e não ser ouvido. Odeia explicar em vão, sorrir em vão, amar em vão.
Mas cadê que consegue odiar alguém?
Cadê a força que faz o sangue pulsar e gritar e proferir palavrões e desejar que o outro suma/exploda/vire poeria cósmica bonita que faz aurora boreal?
Não tem.
Não há Amanda Clark que ensine o ramo da vingança tão bem a ponto de convencer o coração abestalhado a ser indiferente. A revidar. A odiar.
Que se odeie a chuva que vem e estraga os planos de verão e sol e piscina. Que se odeie o calor que se faz em horas que se quer cobertor e filme. Que se odeie do fundo do ser a vontade que a gente tem de brigar e gritar e proferir injúrias mas que engasgam nos olhos mirando a imagem alheia.
Fácil ia ser por demais se eu soubesse odiar. Fácil do nível de zerar Super Mário World depois que já se fez vinte anos.
Quando se é capaz de odiar não se quer mais ser parte da vida que o outro tem. Quando se é capaz de odiar é possível gastar com raiva e gritos e socos na parede todo o carinho que a gente deposita e o outro nem paira os olhos por lá.
Sucede apenas que, infantilmente ou não, o amor não cede. Morre até sabe? Já testemunhei e juro que no fim de um amor moribundo a gente até agradece quando a morte vem visitar e deixa ali o leito vazio sendo limpo por raios de Sol pra que outro habite. Agora ver o amor virar ódio, ah, só na tevê mesmo.
Aqui dentro o amor vira qualquer coisa, até enfeite de prateleira, mas nunca vi virar ódio.
Agarra uma raiva por parecer tão besta aos olhos alheios, um quase ódio por dar pra tanta gente poder de não me permitir odiar, mas a verdade, ah, a verdade, é que eu consigo seguir bem aquele trecho lindo, eu odeio no fundo no fundo, não conseguir odiar nada em você.
Mesmo você merecendo.
Mesmo você causando o ódio.
Eu não consigo odiar você.


[talvez seja bom né?]


Ao som de Não Consigo Odiar Ninguém: Engenheiros do Hawaii
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