quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A dona daquele Sonho


'Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem'


Era uma rua comum, naquela vaguidão clara dos postes às duas da manhã.
Aqui e ali poças ainda teimavam em reluzir vestígios daquela chuva.
Janelas apagadas, portas bem trancadas, até a solidão canina brilhando em olhos lá longe cabiam naquele espaço.
E ele acabara se lembrando que rua um dia fora ruga, em latim. Coisa besta de se lembrar naquela circunstância.
Havia o mundo lá fora e um coração enrugado no peito, cheio de memórias de ruas e casas e vidas...
Exausto, jogou-se na calçada a espera de alguém se compadecesse e o levasse embora.
Coisa mais triste de ver era aquele sonho jogado ali, ao léu, numa rua qualquer, só porque por desajeito de nascença não vingara.
Passando por ali voltando para casa ela nem pestanejou, de mãos estendidas recolheu o sonho e desde então a rua tem uma moradora mais sorridente, uma moça de olhos fortes que guarda um sonho secreto encontrado às duas da manhã de pleno dezembro molhado.
Sonho é assim, não tem hora pra encontrar lugar no peito alheio.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Querência


'Truque do desejo
Guardo na boca o gosto do beijo'

Amor, venha com força, como esses ventos tempestuosos do verão que nós tanto amamos.
Arrase com tudo ao meu redor e me pegue no colo, me salvando do caos que você mesmo trouxer.
Não me venha com delicadeza, já me basta a brisa.
Atire as flores no chão e me chame para fugir, uma casa na árvore, na beira do penhasco ou apenas nos nossos sonhos tolos de adolescentes.
Diga que serei apenas sua e que nada mudará nosso destino construído muitos anos antes.
Apele para a força se eu relutar e me ame.
Me ame como se eu fosse uma tartaruga fraca recém saída do ovo e precisasse de toda a força nas pernas para alcançar o mar.
Assista meus tombos e me ofereça a mão, implique com minha mania de inventar palavras, leia Guimarães para mim e toque canções desafinadas no violão.
É do incerto e imperfeito que eu gosto, você sabe tão bem.
Seja a melhor companhia, presente ou não, seja o meu namorado.
Quase sempre o melhor, mas em todo tempo o único que eu quero ter.

(Ao som de: Palpite - Vanessa Rangel)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A good good night



I gotta feelin'
That tonight's gonna be a good night
That tonight's gonna be a good night
That tonight's gonna be a good good night

Caberia muito bem as resoluções para o próximo ano, mas eu ainda nem disse o quanto todo esse dezembro me valeu por mil!
Meu presente de Natal eu abri antecipado, sou precoce. Ele veio no dia 17 de dezembro, naquela bagunça interna que foi me despedir de pessoas que por três anos estiveram tão comigo que em alguns momentos foram parte mesmo.
Eu que pensei que choraria o tempo todo durante a formatura não derramei uma única lágrima. Era felicidade demais por mais essa etapa, por ver realizado o sonho ou apenas por saber que deu certo, no fim das contas.
Jamais imaginei que seria tão feliz! Quando bati o pé e teimei em cursar Letras nem de perto poderia prever que no meio do caminho encontraria pessoas que levaria para sempre, que faria amizades e criaria vínculos que ficarão de um modo mágico.
Ali no meio daquela festa toda, ao lado de pessoas com as quais já briguei muito e ao também de amigos que o foram desde o primeiro dia eu não conseguia mais pensar, não conseguia articular que depois dali seria quase nunca.
Somente essa semana eu fui sentir a nostalgia de olhar para as fotos e me lembrar que no ano que vem não haverão mais brigas por conta de ventilador, nem cola, nem aula matada dentro do banheiro, nem nada.
Vai ficar só na memória, e até a memória tem inveja da felicidade, porque ela é para sempre.
Quando o Natal chegou eu só agradeci porque ver um sonho concretizado não tem preço, que dirá compartilhar essa realização com os melhores amigos.
A todas as pessoas que estiveram lá fisicamente e também de coração, muito obrigada!
Se eu pudesse trazer um tantinho da alegria que me inundou eu aposto como o blog se encheria de um tom amarelo e cada palavra sairia no ritmo inesquecível de 'I Gotta a Feeling'.
Eu vou morrer de saudade o tempo todo.


(Ao som de: I Gotta a Feeling - Black Eyed Peas)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O destino que eu mudei

'Entre todas as novelas e romances
De você me lembro mais
De você não me esqueço
Jamais'


Se você tivesse a chance de ler o livro da sua vida, como seria? Se nas suas mãos, lauda por lauda você enxergasse os seus erros e acertos, você teria a coragem de alterar seu próprio destino?
O Sol nascia e ela virava mais uma página. 
Era um presente dele, aquela história narrada em terceira pessoa mas tão em primeira, tão dela em cada linha, em cada angústia ou medo transcrito. O dia passou e sem conseguir parar ela suspirava ao virar as folhas, coração na mão por ver o final tão próximo. Fechou os olhos e bateu as capas, desnecessário reler o sofrimento que lhe causara, a dor que impusera a si mesma por puro comodismo, fosse como fosse, não queria ler o fim.
Atravessou o orgulho e foi até ele:
- É lindo.
- Obrigada, de fato o foi.
E terminaria assim? Uma vontade de rasgar tudo aquilo a invadiu e ela apenas o estendeu para ele:
- É seu, eu já li.
- E como termina?
De relance ela olhou para o chão, sem saber o que dizer, ele insistiu:
- E como termina?
- Como todos os romances do planeta?
- Você acha que essa história merece mesmo um 'felizes para sempre'? - ela precisava começar a acreditar na felicidade.
- Eu não sei.
Virou as costas e sairia com o livro, não fosse o som forte da voz dele chamando seu nome.
- Ana.
Encarou-o novamente.
- Toda história tem um fim, mas jamais se é feliz para sempre. Não se culpe por isso.
- Não me culpo. A
gora eu preciso ir.
Ela forçou um riso tímido, ele esboçou um olhar crítico.
- Não, você não vai. Eu ainda quero escrever muitas histórias.
- Então, não é o fim.
- Foi, mas sempre haverá espaço para novas histórias se você quiser.
Talvez não houvessem chances de se mudar o que foi escrito, mas haveria, certamente, a oportunidade de se escrever novas histórias, ainda que com mãos calejadas.


Texto para a 6ª Ed. Roteiro do Bloínquês, essa imagem perfeita é do filme 'Orgulho e Preconceito', versão cinematográfica do romance de Jane Austin. Eu não poderia não aproveitá-la.

(Ao som de: Minha vida - Rita Lee)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pra lá de onde o vento faz a curva


'Me deixe cavalgar nos seus desatinos
Nas revoadas, redemoinhos...
Vento ventania
Me leve pra qualquer lugar!'

Era vocação pra pipa ou qualquer coisa do tipo, vontade de soltar os pés e ir-se indo, pleonasticamente, ao vento.
Já pensara ser medo de viver, já ousara chamar de covardia... Mas achava agora que era coragem em excesso, essa coisa de quem nasce com o umbigo livre, jogado no rio. Faltou quem enterrasse e dissesse que era ali o seu lugar.
Era um sem-lugar até interno, aquela presença de alguma coisa ali dentro do peito, coração inteirinho e bem lustrado, mas faltando um pedaço que não vinha com ninguém, era um pedaço destinado a ser ausente mesmo.
Vai ver era a regência do ar sobre seu signo, devia ter nascido terra ou qualquer outro elemento... Até a água tão feroz tinha seu destino certo, o mar.
Verdade fosse dita, ela estava sempre pronta pra partida, mesmo sabendo-se fixa.
Qualquer hora conseguiria ter a leveza suficiente para decolar.
Faltava esvaziar-se de algumas pendências antigas, ou deixar de ser besta e acreditar novamente em conto de fadas.
Pensar em coisas belas e decolar.

(Ao som de: Vento Ventania - Biquini Cavadão)

domingo, 5 de dezembro de 2010

O que eu não quero ouvir


Ana Terra não era a mais experiente no quesito Amor, então quando a professora de Literatura questionou com entusiasmo o poema ultra sentimental da segunda geração romântica ela fisgou os olhos no quadro, mordiscou o lábio e deu de ombros, aquele gesto tão seu:
- Ah professora, para mim o Amor é só ele, deixo ele meio em paz.
Não satisfeita a professora insistiu em uma definição mais objetiva da menina, que impertinente não poupou sinceridade na fala:
- Bem, é que o Amor é como uma coisa estragada que a gente não consegue jogar fora. É isso.
Atônita, a mulher desistiu de arrancar alguma coisa poética daquela criatura já tão prática, tão ciente dos acontecimentos reais da vida, virou-se para o quadro e suspirou.
Vai ver que lá no fundo, onde a gente guarda as coisas em segredo, fosse um pouco assim mesmo.
Algo lindo trazido da infância que te traz as melhores lembranças e que de vez em quando você precisa apertar bem próximo ao peito pra sentir o coração bater mais forte. Que faz com que você se sinta segura por saber que está lá apenas, bem guardado, tão seu.
Ou não.

(Mais uma dessa menina-mulher, inspirada em uma definição dada por uma grande amiga para o meu TCC, sobre o Amor. Ela nem sabe o quanto essa definição norteou o meu trabalho, e algumas vezes até o meu sentimento. No fundo todos nós já pensamos assim em algum momento, não é anti-romântico, é só provável, concreto. Bem dela mesmo)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sîl vous plait



God bless the child
(Deus abençoe a criança)
Inside the girls of summer
(que há dentro das garotas de verão)


E já é dezembro novamente, deixe de ser tão emburrada, o ano está acabando e você terá o próximo só para isso.
Troque o cd, arrume alguma canção animada e faça o favor de se deixar dançar.
Encontre o seu melhor sorriso e abra essa janela, deixe o Sol entrar, ele é soberano de uma forma ou de outra, se não pode detê-lo, junte-se a ele e faça o espetáculo mais belo.
Passeie pelo jardim ou pelo quintal, importa é por os pés no chão e sentir a terra queimar, pulsar, você ainda vive nela, sabia?
Tome sorvetes sem medo, você não está gorda, está aproveitando enquanto pode, depois de morta vai ser gelado demais para você saborear qualquer coisa, pode apostar.
Deixe dezembro contaminar você e te tirar da cama cedo, deixe o verão entrar todo cheio da sua preguiça típica de sol de meio-dia, deixe ele pulsar nesse coração e derreter aquele gelo acumulado desde invernos ultrapassados. Já era.
Olhe o azul do céu e pense que a chuva logo o levará embora para trazê-lo sempre novo, num ritmo tão constante quando as notas musicais de La Bamba.
Ache cada segundo proveitoso, faça com que seja verão por dentro, por você e por mim.
Faça com que dure ao menos essa estação e que valha tão a pena, o seu melhor verão.
Já dizia a propaganda que é agora que acontecem todas as coisas que contaremos.
Vá viver! Ficar parado é para samambaia de quintal, e até elas se abusam no verão.
Hidrate-se e abuse do protetor.
Abuse de tudo que puder te fazer melhor.
Dezembro está só começando, mais para o fim a gente para pra fazer planos, ainda há um mês para cumprir aquelas metas sonhadas no começo do ano.
Anda, vamos começar a ser feliz, dá um tempinho ainda, te juro que dá.
Vem comigo, porque como diz a canção, as melhores coisas da vida são grátis.


(Tradução do título: Por favor)
Ao som de: Girls of Summer - Aerosmith
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...