quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dos que me assistem - Enrolados


'Nunca pensei que eu pudesse te ouvir dizendo um adeus pro teu sonho que estava por vir'

Sou fã de animações. Então 'Enrolados', a animação de número 50 dos estúdios Disney, assistida essa semana criou em mim uma certa expectativa. Explico, conheço desde sempre a história da Rapunzel, já assisti aquele filminho da Barbie, já li muitas historinhas quando criança e realmente nunca consegui compreender a lenda. Quando o filme começou e fui  apresentada a pequena princesa loirinha de olhos grandes e verdes me apaixonei, mostrar criança acaba comigo.
O filme começa e confirma todas as expectativas, fico feliz em saber que a Disney tem consciência de que as crianças de hoje (e aqueles que não são tão crianças assim) desenvolveram seus gostos e não se contentam mais com princesas inocentes e mocinhos perfeitos. O amor impossível saiu de moda, até nos contos de fadas.
Enrolados me fez pensar sobre os sonhos, aliás acredito ser esse o chavão do filme, a moral. Todo mundo tem um sonho, do mais bruto ao mais culto, da menina trancada na torre que sonha em ver de perto as lanternas flutuantes ao ladrãozinho de meia tigela encrenqueiro que cresceu em um orfanato. Mas não é só ter um sonho. É saber a hora de abrir mão dele.
O casal me encantou por sua história de amor (eu sou apaixonada por histórias de amor), não porque ela vence a mamãe Gothel, ele acaba se tornando aliado do cavalo que o perseguia, a história me cativou porque ao estarem juntos eles descobrem que os sonhos mudaram.
Pouca gente tem essa consciência de coletividade de que quando encontramos um amor um sonho individual perde um pouco a graça, é muito mais gostoso sonhar junto.
Quando o filme termina a gente fica com a sensação gostosa de que amores reais são maravilhosos por isso, justamente por isso, porque eles não são sonhos de consumo, mas ele transformam os nossos sonhos. Ter um amor é isso, transformar o seu sonho.

Ficha técnica e dados essenciais:
Nome: Enrolados (Tangled) - 2010
Estrelando: Mandy Moore (fazendo Rapunzel na versão original e soltando o gogó) e Luciano Hulk (o Flynn Rider ou melhor, José Barbosa, na versão dublada).
Gênero: Animação
Classificação: 4 estrelas (ainda que tenha canções bonitas, elas me cansam)
Assista com: irmãos mais novos, namorado, pais, amigos. Assista com quem estiver disposto a se divertir!
Preste atenção em: Alguns personagens são muito engraçados, as variações de humor de mamãe Goethel são uma história à parte. Animaizinhos fofos também fazem o riso rolar, Pascal o camaleão bom de briga que eu queria ter e Maximus, o cavalo com vocação canina.

Bom filme!




sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Do truque do desejo


É que você chega e de repente não há mais chão.
E é que você, só você, me faz não querer mais dizer 'não'.


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Da estrela da minha vida


Amor, é primavera novamente e eu venho sempre ao seu lugar no mundo para ver o céu azul quase lilás, aquele tom que me lembrava os olhos que nossos filhos teriam.
As pessoas dizem que isso é masoquismo, mas não acredito ser, seria se meus olhos ainda se enchessem de lágrimas dolorosas, hoje me basta apenas sentir falta, não dói mais.
É como uma saudade de um tempo que ainda não passou, algo parecido com aquela canção do Legião que você fingia saber tocar no violão, era você quem tinha a cura pro meu vício de insistir na saudade que eu sinto de coisas que ainda não vi.
Como faço agora? Não faço, sinto essa coisa boba aqui dentro mesmo, sem motivo.
Rabisco estrelas, aquelas que você em uma noite prometeu que me daria. Qualquer pedaço de papel bobo vira um céu estrelado, o lugar em que eu, como o aviador do Pequeno Príncipe, acredito que você esteja, minha estrelinha brilhante.
Não compreendo dessas coisas de morte, acho terrivelmente injusto alguém como você, tão cheio de potencial ter partido tão jovem. Mas me basta de sentir sua falta. Algumas coisas apenas são.
E a saudade é. Tínhamos planos para o futuro, você queria ser astronauta e depois não queria mais nada, era um menino ainda. E quando eu me pego pensando que você não será nada me vem uma vontade de ser tudo por você, porque era o que você me cobraria, você que sempre esperava tanto de mim.
O nosso tempo nunca passará não é mesmo? Amor, a gente nunca terá a chance de entrar correndo em casa depois de um banho de chuva e fazer aquela cena linda que a gente assistiu junto de um casal que se ama alucinadamente. Éramos tão inocentes para pensar em coisas desse tipo e hoje eu sou quase uma mulher e você vai ser pra sempre aquele menino levado por um acidente tolo.
Eu sinto falta de tudo que não vivemos, sinto falta da alegria de ver você passando no vestibular, sinto falta dos meus dedos roçando o seu cabelo recém rapado, da implicância pelo fato de que você ficaria parecendo um extraterrestre com essa cabeça branquela de fora.
Sinto alucinadamente a saudade de assistir com você todos os filmes que saem em cartaz e escutar você dizendo que eu sou patética por chorar tão facilmente no cinema.
E eu sinto o modo como a sua mão apertaria a minha em cumplicidade ao notar que meus pais estavam nos vigiando namorar, sinto o cheiro que teria quando você me abraçasse e diria que meu vestido floral é o seu preferido, esse que eu visto agora e que você nunca viu.
Sabe, quando minhas lágrimas caem elas não são desesperadas, eu sei que você foi porque era sua hora e que me coube ficar porque existem propósitos para isso. 
Mas superar você é impossível, apagar o meu moleque que era péssimo de futebol e que eu deveria ter dado um primeiro beijo antes de partir é pedir demais para esse coração que até hoje vem até aqui desenhar estrelas, aquelas estrelas que você foi buscar para mim e nunca mais voltou.
Eu não queria mais nenhuma delas. Desculpe amor, eu devia ter te falado no primeiro dia que estrelas eu já via nos seus olhos, uma fala que te faria rir da minha cara e dos meus modos piegas, mas que diria o que até hoje me culpo por ter deixado você sair sem ouvir.
Quem sabe por tanta estrela desenhada você entenda onde estiver que meu céu só tem beleza porque existe ainda a esperança de que a saudade mesmo sem passar, acabe um dia.
Quem sabe um dia eu mesma vire uma estrela e a gente fique junto, pra sempre.

(Ao som de: É o que me interessa - Lenine)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dos que me assistem - Comer Rezar Amar


'Às vezes perder o equilíbrio por amor
faz parte de uma vida equilibrada'


O amor pode ser terrivelmente claustrofóbico. Ou pode ser uma gaiola aberta. Depende muito mais de quem está disposto a voar do que das circunstâncias externas.
Aprendi com a escritora Liz que às vezes a melhor maneira de achar uma resposta não é aproximar os olhos do papel, é afastar a mente.
Em 'Comer Rezar Amar' (assistido hoje pela tarde) Julia Roberts se encontrou. Consigo sentir veracidade em cada lágrima derramada, a cena do banheiro em que ela conversa com Deus pela primeira vez me pareceu de uma realidade e simplicidade únicas! 
O filme é bem mais que a história de uma mulher que tinha tudo e se descobre vazia. É a história da renúncia do que se acredita possuir, a história da coragem de quem vai para países novos sem nem dominar completamente o idioma e principalmente a história da busca de alguém por si mesmo, um caminho difícil de trilhar que não deixa carimbos em passaportes.
Liz (Julia Roberts) é uma escritora que tem seu nome feito, uma casa hipotecada e um marido meio esquisito, mas ainda assim um bom homem. Mesmo assim ela entra em crise (entra aí aquela teoria minha que toda mulher um dia entra em crise), pede o divórcio e se prepara para uma viagem de um ano por três países desconhecidos. Começamos aí a morrer de inveja. Na deliciosa Ítalia ela redescobre o prazer de se amar corporalmente, tornando-se livre sem a preocupação obsessiva que quase todas nós temos contra os pobres coitados dos carboidratos. Na Índia ela encontra a parte mais elevada de sua alma, e se completa mais um pouco entendendo que é parte de Deus e que por isso ele também é parte dela, não há necessidade de busca exterior. Mas quando chega à incrível Bali é que Liz percebe o que estava perdendo (um brasileiro lindo chamado Felipe, qualquer semelhança é mera coincidência).
Brincadeiras à parte, amar é sempre complicado, não por soar compromissivo até o último fio de cabelo, mas porque todo mundo tem alguma cicatriz e às vezes até um restinho de veneno onde o espinho já fincou anteriormente. Amar é sempre um risco desmedido e nossa tendência humana é evitar correr tais riscos.
A maior lição que o filme me mostrou hoje é que fingimos que complexo é sair de nossa zona de conforto e sim, abandonar família, um casamento falido, um bom emprego, tudo e mais um pouco é loucura e exige muita coragem.
Mas tudo isso não vale se não houver porque mudar e esse amor não é externo, não vem do outro, mas da renovação da nossa eterna capacidade de amar. Quando nos dispomos a sair da nossa área de conforto emocional o choque é forte e quase igual a cair de uma altura considerável sem dobrar os joelhos. O susto grita. O pulso acelera e as costas ficam tensas.
Porque pode não dar certo e pode-se magoar de uma forma nova e péssima, como as outras.
Mas como saber se a balança aguenta sem testar o peso?
Se não valer a pena pelo sentimento, que valha pela história que se terá para contar aos netos, pelos suspiros das primeiras semanas e pelo brilho de olhos. Que valha pelos ensinamentos de que ser inteiro não é buscar no outro a metade, mas abrir o peito completo e cheio de amor próprio pro outro tentar pendurar boas novas nos galhos de tudo que brota ali dentro. O filme me fez querer fazer a minha história da certo.
Eu gostei da história da Liz, e olha que já tinha lido o livro!
P.S.: E achei a minha palavra no mundo, é 'palavra'.

Ficha técnica e dados essenciais:
Nome: Comer Rezar Amar (Eat, Pray, Love) - 2010
Estrelando: Julia Roberts (bem convincente), Javier Barden (falando um portunhol arranhado na intenção de convencer como brasileiro, podia ter sido melhor) e a lindíssima Anakia Lapae (interpretando a pequena balinesa Tutti, cheia de charme e desenvoltura contracenando com todos).
Gênero: Romance
Classificação: 4 estrelas
Assista com: amigas ou sozinha (não é filme para ver com o namorado, é muito auto-ajuda para o gosto masculino). Se você for homem alugue e assista com a namorada, ela provavelmente não entenderá a sua escolha, mas ficará feliz!
Preste atenção em: os cenários realmente são dignos de nota! Lugares deslumbrantes para todos os gostos, das clássicas paisagens de Roma, passando pelas ruas tumultuadas e confusas de Nápoles, visitando uma Índia de verdade, com meninos pedindo esmolas e vacas soltas pelas ruas, praias paradisíacas e plantações de arroz até perder de vista na Indonésia. Quando acaba o filme você praticamente viajou com a Liz.

Bom filme!


(Quase sempre que assisto a um filme fico com a sensação de que ele me assiste em algum aspecto, me auxilia mostrando por outro ponto de vista a resolução de um problema meu. Por isso o título da coluna semanal do Sucrilhos que saíra toda quarta-feira acabou sendo esse. Muitos filmes me assistem, me transformaram e ainda irão ajudar a formar minhas opiniões. Essas resenhas não têm a pretensão de serem consideradas críticas literárias, são apenas o que eu achei do que foi visto, o que eu considero ser importante citar e compartilhar. Espero que despertem a curiosidade!)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Das leituras que faço - Dia 20



Dia 20) Você gosta de poesia? Qual seu poema ou poeta favorito?

Tive um período da minha vida mais poético, meio da adolescência para ser mais exata. Escrevia poesias compulsivamente e lia, lia e lia livros e mais livros de poesia. Das leituras que fazia me lembro bem de alguns nomes, Vinicius de Moraes, sempre Vinicius, com seus sonetos deliciosos e tão belos, Cecília Meireles, Mario Quintana. Era apaixonada por Quintana, na quinta série a professora de português leu para mim o 'Poeminha do Contra' e nunca mais me esqueci:
'E todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!'
O versinho mora comigo até hoje, mas ainda existe outro do Quintana que gosto mais, provavelmente pela profundidade do que me diz, sempre que leio lembro de como é preciso ser forte com nossas decisões, o poema chama-se 'Das Utopias':
'Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!'
Quintana é lindo! Mas não é o único que gosto, leio muito Martha Medeiros, adoro o jeito como ela mostra a mulher, adoro a escrita produtiva dela, que limpa o pensamento e esclarece. Adélia Prado me comove. Leio poesia para descansar e sempre funciona.

Do pedido





Querido,
Fujo ao protocolo e te escrevo novamente, não sei esperar respostas, não sei contar carneiros e muito menos estrelas.
Conto os dias para te ver, coisa infantil de quem risca com lápis de cor vermelho de ponta ruim o calendário, fazendo vez ou outra um coração apaixonado, bobo e solitário em meio aos milhares de 'xizes' existentes naquela folhinha tola.
Eu espero que você esteja grandioso e bem. Veja, grandioso. Sim, eu espero que você esteja vencendo os desafios que te movem da mesma forma que eu estou aqui tentando fingir conformidade com a resignação que me propus.
Verdade fosse dita e se ainda pudesse ser esse o meu forte, eu diria que te amo.
Eu diria que não me importa como você está, me chame de egoísta ou do nome que desejar, importante faz-se a sua presença aqui. Importante é o calor que emana do seu abraço quando eu sinto medo a ponto de perder o controle. Importante era a nossa música cantada no programa da madrugada da rádio porque você sabia que eu ficaria estudando e o rádio estaria ligado, porque você ligava e pedia e me fazia acreditar que eu era terrivelmente importante para você, a ponto de não importar mais nada.
Eu fujo do assunto, você me conhece.
Os acontecimentos prosseguem, eles vão indo em frente, a fama está começando a me atingir e vez ou outra alguém desse mundo tão pequeno me para na rua e comenta alguma coisa sobre as coisas que eu escrevo. A vontade de dizer que é para você tudo some em algum lugar, no meio do buraco que fica porque você parte sempre.
E então talvez seja a hora de começar a usar todas essas palavras que se dizem tão minhas amigas para te contar algumas inconveniências aleatórias. Eu torço para o Vasco. É paixão boba, de menina, aprendi com o tio. Flamenguista que só você nunca aceitaria e por isso a minha sina de torcer calada, não quero mais. Eu sou mimada e odeio as roupas jogadas pela cama, as dos outros, as minhas eu posso colocar onde desejar. Eu sou machista e penso que homem sensível é bonito, mas não é para mim.
Eu te desejo com uma urgência e ardência de dar medo. Eu te quero de uma forma que me assusta porque eu não sei lidar com essa necessidade toda de dizer te amo. Eu nunca digo isso.
Eu deixei de me importar com o lugar que escolhi para criar meus filhos, eu deixei de querer uma filha com o nome que você não gosta, eu mudei sem que você me pedisse nada. E eu passei a querer pedir.
Aquela menina que sempre se disse livre e pregava relacionamentos modernos. Eu comecei a querer pedir, e a sussurrar para a cortina da sala, o abajur do quarto, o telefone mudo que você podia ficar.
E a ficha caiu.
Não é uma amizade com desejo. Não é um desejo amigo. Não é apenas a vontade de que você seja o meu melhor amigo, o meu homem. É vontade de que seja meu.
Meu tudo. E principalmente meu marido.
Sou terrível, eu sei.
Mas grita aqui dentro que a gente precisa se casar como na canção do Jeneci, domingo de sol e um tecido claro e fino se balançando pelo ar.
Casa comigo dono do meu plano perfeito?
Casa comigo porque você é o meu plano perfeito, porque eu brinco de ser gente mas quando você está aqui eu nem sei o que eu sou, eu quero só ser com você.
Marry me, love.
Você quer casar comigo para ser o marido de uma mulher boba que durante as noites acorda para te ver dormir? Você quer se casar comigo e ser o meu sonho de consumo mesmo voltando de uniforme suado depois da pelada do domingo?
Você quer se casar comigo e experimentar todo dia o felizes para sempre que a gente sempre abusou e implicou?
Porque meu querido, eu nunca tive tanta certeza de algo como eu tenho agora, palavras tremendo ao saírem, pedaço de linha pronto para dar um nó no seu dedo e dizer que somos bem casados.
Lembra daquele filme em que um lindo garotinho dizia querer se casar com a mocinha para poder beijá-la a vida inteira?
Case-se comigo porque por todo esse tempo e por todo que virá eu quero ser beijada apenas por você.
E não bastasse isso eu quero que meus filhos tenham os seus cílios, eu quero sua companhia na cozinha e em todos os cômodos.
Eu nunca te pedi para ficar e talvez hoje seja o pedido mais difícil da minha vida. Mas eu te juro que se você disser sim a gente pode tentar encher tudo de balões e voar como naquela história infantil de um casal que se amou tanto que borboletas vinham realizar os sonhos de viagem deles.
Amar você acaba com minha moral de pessoa adulta, madura e séria.
Amar você me faz querer estar com você a cada loucura pensada.
E não é uma aliança que mudará tudo isso, nem a toalha molhada em cima da cama, nem o seu sobrenome colado no meu.
O que me fará melhor é a certeza de que para sempre, todos os dias, é o seu beijo que vai me acordar do sonho e me mostrar que o conto não é de fadas, mas o amor é mesmo o segredo.
Perdido o medo, pedido não é mais segredo.
Amo você.


Tay.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Do que traz a alegria


Eu tenho convenções a zelar. Eu sou madura suficiente para entender que determinadas relações levam a nada.
Eu sou egocêntrica demais para dividir minha vida com alguém, sou imatura demais para estar em uma relação sem sentir ciúmes, sem querer só para mim. Eu só penso em mim e na minha casa não tem espaço para mais ninguém na cama de casal. Em cima da pia os copos e canecas formam um desenho ritualístico, as cadeiras têm lugar predeterminado e as almofadas do sofá não estão lá para ninguém sentar, são acessórios de enfeite.
Eu falo muito de mim e sempre sou compulsiva quanto ao modo de ouvir dos outros.
Mas você sorri desse jeito e eu perco a conexão cerebral. Você sorri e eu não consigo mais articular nada para dizer ou pensar ou agir.
E então eu sou uma molécula fortemente atraída pelo seus lábios entreabertos e meio tortos. Eu passo a existir numa órbita relacionada à precisão um tanto desalinhada desse sorriso de menino olhando para uma mulher imaginada. Eu não sou nada disso, queria ser para manter vivo e eternizado esse pequeno fragmento de felicidade roubada que você compartilha comigo de forma única, tão diferente do sorriso clichê de covinhas que você divide com todos os outros.
Você sorri e eu me lembro daquela canção do Engenheiros em que os lábios eram labirintos. Os seus são avenidas. Avenidas decoradas para o carnaval de alma que sempre vem depois que eles surgem. Avenidas em que eu sambo, pulo e danço, no ritmo que você sugerir e deixar tocar.
Porque quando você sorri o mundo não sorri junto, a vida continua sendo vida, as coisas permanecem com são. Mas eu mudo.
E mais nada tem esse poder de transformação.

Texto para a Edição Musical do Projeto Bloínquês.
Ao som de: Vermelho - Marcelo Camelo

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Da resposta



Eu não acredito que as coisas simplesmente aconteçam, mas eu tenho que admitir que de uma hora para a outra eu queria que elas acontecessem sempre ao seu lado. Eu não acredito na sorte e por mais absurdo que possa soar aos seus ouvidos desatentos, eu ando perdendo todos os jogos e não me importando, mesmo sendo a competitividade em pessoa, eu tive muita sorte em encontrar você. Eu tive muita sorte em teimar e você insistir. Eu tive muita sorte em ouvir da sua boca o meu nome bem próximo ao meu ouvido e sentir estalar qualquer coisa em algum lugar, porque seria banal dizer que meu coração se abriu pelo som da sua voz.
Não foi por ela, não só por ela.
Eu queria acreditar no amor de conto de fadas quando era menina e talvez por isso eu não queira mais crer naquela coisa surreal de olhar alguém e desejar tocar a mão daquela pessoa, talvez por achar que é coisa que criança acredita eu não quero acreditar que desenhar bem pequenininho nossas iniciais no cantinho do caderno seja uma coisa normal a se fazer.
Eu não acredito em amor assim, mas a resposta está escrita em meus olhos, eles não sabem mentir.
Não sei que coisa mais incoerente se abateu sobre minha vida e eu me pego pensando em você na hora do almoço, garfo catando batatinhas fritas?
Que aberração tomou posse do meu coração que minhas mãos sorriem quando pego o celular e vejo que é seu número que está me ligando?
Que tipo de pessoa sentimental eu me tornei por sua causa?
Ou não foi por sua causa, foi por minha culpa que desacreditei tanto que alguém quis provar que era capaz que me apaixonasse uma hora ou outra, perdesse o ar e quisesse buscá-lo no peito de outra pessoa. Eu que via comédias românticas e achava que estava imune ao vírus mortal de suspiros quase poéticos...
E você se questiona do que eu sinto? Você não sabe a bagunça que está dentro de mim porque uns insistem em dizer que te querem tanto e eu teimo que é comum, normal, querer alguém assim. A sanidade foi morar na Floresta Amazônica e plantar árvores para reflorestar o Planeta, cansou da confusão que tem aqui dentro.
E sabe o pior, nem ficou buraco da falta dela. Algo anda crescendo bastante aqui, acho que é seu pedacinho piegas enraizando.
Deveria ter medo, mas você sorri de um jeito tão confortável, faz parecer tudo tão simples, faz parecerem bobas todas minhas listas de prós e contras. Você faz com que pareça forte e perece meu coração cimentado por tolice de menina ingênua que acreditava mesmo que paixão não vinha sem avisar.
Você bateu né? Bateu na porta e foi entrando, meio esbaforido você. Mas não posso negar que algum som você deu, eu é que estava tão ocupada fechando as janelas que quando notei lá estava você, sofá seu íntimo, controle na mão e copos em cima dos livros da mesinha, mostrando já o desalinho que seria.
Sujeito folgado.
E o pior, ou melhor, já que ser coerente deixou de ser necessário, é que não quero te expulsar. Não quero nem tirar os olhos da sua figura marcando presença por onde passa de modo mais desajeitado impossível.
Eu descobri que não fazer sentido é ter sentido algo.

(Texto para a Edição Musical do Projeto Bloínquês)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Do que é mar mas queria ser porto


'Só ao amor pode juntar
O que o desejo separou
Não poderia ontem
Se vestir de amanhã?'

Vinte e poucos anos e aquela dificuldade imensa de compreender coisas tão simples. Ela o queria a ponto de doerem as pontas dos dedos. Ele nada mais desejava que tocar o espaço pequeno da nuca pertinho de onde nasciam os primeiros fios loiros dela.
E agora estavam se casando ali naquele cais improvisado que representava o que cada um era para o outro, lugar de espera. Um casamento sem juiz, tendo por testemunha aquele mar que ficaria entre eles, ele na Europa realizando o sonho de um doutorado precoce. Ela aqui hibernando os desejos de estar ao lado dele o tempo todo.
O vestido branco foi minuciosamente escolhido, o buquê comprado em uma loja de flores vinte e quatro horas, a calça social dele fora emprestada por um primo gordinho e insistia em cair.
Mas eles se amavam com um amor tão bom de viver, que ousadia do destino cobrar esse tipo de decisão deles! Porque assim, tudo de uma vez?
Não haveria bolo, não haveriam madrinhas para disputarem as flores jogadas pro alto, não haveria um álbum que registrasse a família toda bem vestida e as lágrimas dos dois.
Mas haviam lágrimas pesadas e uma dor sufocante no peito dela, algo dizia que ficar seria tão terrível quanto partir.
Quando o sol começou a se pôr e ela entendeu que na próxima manhã ele não estaria ali quis jogar alguma âncora ou coisa parecida, mas sabia impossível.
Ele começou os votos:
- Eu, tão bobo e metido a dono da razão, não só aceito como espero do fundo de algum lugar que talvez eu nem soubesse que existisse aqui dentro, me casar com você. Eu digo sim e grito, corto o dedo e faço pacto se for preciso. Eu te amo e quero que você seja minha esposa, o porto que vai me receber quando eu retornar.
Engolindo o choro ela ainda sussurrou:
- E eu, tão cheia de medos, prometo que tudo que me bastará por esse tempo será o seu sobrenome, a sua aliança invisível feita de tudo que é real brilhando no meu dedo...
O Sol quando se cansou de enfeitar a cena foi embora de prova do casamento marcado e consumado num píer maltrapilho que poderia ter sido a igreja mais linda de todas não teria abençoado mais um amor tão único.

(Ao som de: Por Um Triz - Skank)




segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Do dono do All Star


'You came around and you knocked me off the ground from the start'


Você veio para me ensinar cores, com aquele seu all star verde.
Veio para fazer com que eu me sentisse menos louco a tivesse um pouco mais de fé na raça humana. 
Eu me lembro de como ficávamos horas falando sobre filmes e músicas que eu nunca tinha visto ou escutado, mas que você me fazia querer conhecer por ter um jeito tão seu de falar delas...
Às vezes eu tento encontrar um momento em que ficamos assim, tão íntimos, mas não há. Acho que desde o primeiro dia foi tanta cumplicidade de sonhos que a gente pulou etapas, a gente bem gosta de pular mesmo.
Quando eu percebi éramos irmãos, você tinha o dom de transformar em quase real todas as palavras que eu sonhava, que eu dizia, e por vezes e vezes conversamos sobre casamentos que seriam perfeitos!
Ah meu menino, você tem o dom de me surpreender, de me deixar sem ter o que dizer porque você vem e briga comigo porque eu solto o abraço primeiro, você me exige atenção mesmo eu estando ultra ocupada, você me faz ficar com muita raiva e dois segundos depois eu já te amo com aquele amor de irmã mesmo sabe?
Queria te dizer que eu não estarei aqui pra sempre, coisa clichê isso. Eu estarei com você, não aqui. E você vai ser sempre o menino com quem eu ria do que as pessoas grandes diziam e faziam, aquele menino que saia da escola meio dia e ficava aqui em casa até sua mãe enlouquecer constando que já eram cinco da tarde e você ainda não tinha ido almoçar.
Com você eu passava tardes inteiras sonhando... Nem sei mais se eu consigo fazer isso novamente, porque uma hora ou outra a gente vai se tornando grande também.
Mas o trigo vai sempre me trazer você, o meu Pequeno Príncipe, o meu Petter Pan que nunca vai ser adulto, que eternizou a infância nesses olhos verdes.
Queria te fazer chorar como você me fez e sempre faz com suas cartas, mas eu não sou mais tão boa nisso. 
Queria te fazer sorrir olhando pessoalmente pra você e te dizendo coisas absurdas e incontáveis, queria te abraçar e deixar você soltar o abraço, apertar muito e dizer que você tem um perfume que fascina. Você tem cheiro de sonho meu Pequeno.
Acho que no fundo no fundo eu te descobri em sonho porque é isso que você é e sempre foi, um momento bom que me vinha quando eu fechava os olhos. Ou melhor, que me vinha quando eu abria os olhos, abria pra valer.
Obrigada por tudo que você é pra mim, por todos os milhares de galhos que você já me quebrou e até por ser um chato que me cobra, é um jeito de estar sempre presente.
Eu amo você.
Mesmo, muito.

(Ao som de: Christina Perri - Arms)
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