domingo, 23 de dezembro de 2012

Do caminho que eu vou percorrer


'Cê sabe que as canções são todas feitas pra você?
E vivo porque acredito nesse nosso doido amor?
O dia amanheceu chovendo e a saudade me contém
Vem logo.
Amor, eu gosto tanto, eu amo tanto o seu olhar!
Por isso não demora que a história passa e pode me levar
E eu não quero ir, não posso ir pra lado algum enquanto não voltar
Não quero que isso aqui dentro de mim vá embora e tome outro lugar.


Amor,
é quase Natal e eu pudesse ter idade novamente para fazer pedidos ao velho Noel diria sorrindo de olhos fechados que te queria aqui. Pretensioso não é? Talvez eu pedisse menos, talvez eu pedisse com os olhos ainda mais fechados e o sorriso mais aberto e as mãos juntas, quase uma prece piegas: queria mesmo um abraço seu, só isso tudo.
Como te explicar das coisas que nem sei? Porque eu vejo que você tenta, você tenta me ver fazendo sentido e tenta fazer sentido para mim, só não sei dizer porque sou tão boa em dizer tudo e tão ruim em fazer com que os outros compreendam o quanto. É tanto.
Às vezes aperta tudo na garganta de tal forma que meus olhos vão enchendo de lágrimas e quando vejo estou chorando, deve ser o fim de ano que me deixa ainda mais sentimental, deve ser o mundo que não acabou e a gente acordou no outro dia e olhou de lado, a bagunça ainda estava lá, não desapareceu, a bagunça que a gente mesmo fez e que sonhou ter desaparecido junto com tudo. Nada desaparece, talvez seja a verdade.
Quando eu era uma menina ainda e tinha aquele milhão de perguntas que meninas têm me lembro de alguém me explicando que o gelo virava água que virava vapor. A água não desaparece, ela muda de estado. Coisa mágica aos meus olhos pequenos, coisa extraordinária essa vida aos pedaços inteiros que a água podia fazer, como eu queria ser água quando ainda nem sabia ser gente.
Certamente hoje me falta aquele olhar porque não há graça real no mundo adulto em notar simplesmente que as coisas sempre mudam de estado. Não tenho mais direito de ser uma menina insegura com medo do próximo estágio.
Só que existe uma coisa em que eu sou melhor do que não saber explicar a dimensão do que eu sinto: eu só ótima em sentir medo.
Mesmo que eu prometa o contrário. Mesmo que eu queira o contrário. Mesmo que seja um medo pequeno que esprema os cantinhos do peito, nada grandioso que faça mover moinhos. É só que fico pensando se a água não gostava de ser água. Só isso sabe?
Porque de todas as coisas que eu amo, de todos os nomes que me dão e soam como títulos, o que eu mais gosto é o que sai da sua boca. De todos os olhares que me lançam admirados de uma forma ou de outra, o seu me encanta tanto. Eu até desisti de querer ser a pessoa que tantos outros esperam que eu seja, eu só quero ser a pessoa que sou porque você pareceu gostar tanto de mim assim, você gosta, eu sei.
Tem hora que eu queria conseguir dizer tudo que penso, queria mesmo. Queria sentar com você e dizer que eu já disse tantas vezes que eu te amo e isso significa que eu vou me magoar se sentir que estou perdendo território do mais precioso já conquistado nesse universo, eu vou me magoar se perceber e mesmo que negue, eu vou ter percebido um pouco porque apesar de todos os pesares de distâncias físicas desse Brasil sem tamanho e sem uma operadora de telefonia móvel digna, eu sempre tive você tão perto. Tão do meu lado em todos os momentos.
É seu nome que escutam os meus. Você é das minhas pessoas favoritas no mundo e são tão poucas, tão!
Eu sei que crio tempestades em copinho de xarope, que faço dramas dignos de causar inveja em personagens de série, inclusive sei que prometi não pensar sobre isso. Não estou pensando. Não mesmo. Porque não tem cabimento o tanto que eu te amo e a consciência insana para alguém tão inseguro quanto eu que tudo isso não existiria se você não sentisse o mesmo, eu me lembro daquela última frase, me lembro de você dizendo que eu sou parte do que é mais especial, eu sou parte do que você é. Eu sei do tipo tão bem sabido que você me ama porque você me abraça quando eu menos espero, só você sabe me surpreender e me fazer parecer uma bobinha de doze anos de idade dando sorrisos e falando para todo mundo sobre como alguém consegue me fazer sentir tão única. Isso que você consegue o tempo inteiro.
Você não sabe o poder que suas palavras têm em mim. Não tem ideia de como eu fico outra só de sonhar com você e te rever gargalhando, aquele riso que eu sei de cor o som, aquele brilho de olhos que vou te dizer, nossa, eu faria textos e textos só sobre ele.
Preciso só de uma coisa, uminha. E não é reafirmar a promessa. Eu nunca me esqueço de uma promessa e faço o impossível para não quebrar, você sabe disso porque você me conhece como se eu fosse parte de você, me conhece como se me pegasse a mão desde sempre. Desde quando eu ainda nem sabia o rumo e você era como ainda é hoje, a minha consciência. O meu ponto de equilíbrio. O meu porto de paz, aquela que você acha que eu tenho.
Mas ainda preciso dizer que, droga, engolir palavras não é fazer com que elas voltem para onde não deveriam ter saído. Que pareça insegurança porque eu sou insegura e porque eu tenho mesmo um medo indigno de um dia piscar e sua mão não estar aqui, um medo de criança que pula na cama de uma vez quando apaga a luz. Eu me despeço e pulo e cubro os olhos porque essa sou eu, mesmo sabendo que você moveria o mundo porque você já move e passa por cima de muita coisa por mim, não é como você, é comigo.
Hoje eu só preciso falar que eu amo você tanto. Não vou me desculpar porque não cabe, a gente faz escolhas e boa parte delas são involuntárias, já estavam feitas antes mesmo de serem proferidas. Se eu precisar andar até doerem as pernas eu vou arranjar forças e fazer. Se precisar aprender a dar espaço são outros quinhentos que eu posso ir percorrendo, eu tento! Entende a diferença? Eu vou atrás, eu fui porque você vale a pena de uma forma que você nem sabe o tanto, você vale a história, vale mais, você faz valer a vida.
Você vale cada minuto. Vale cada palavra. E vale além! Sabe os espaços entre as palavras, sabe? Os que fazem todo o resto ter significado? Você vale cada um desses. Cada silêncio, cada pausa. Vale cada vez que eu olho o céu, vale cada vez que fechos os olhos falando seu nome porque não me caibo mais de saudade. Você vale o mundo para mim e talvez eu tenha falado isso demais. Talvez seja isso, talvez eu só saiba dizer, vou começar a te mostrar.
Olhe pra mim, você vê? Papai Noel me ouvisse com 23 anos de atraso eu teria vinte segundos pra sentir o cheiro do seu perfume mesmo sem respirar, eu teria um abraço de pôr-do-Sol que nunca vi mais lindo. Eu teria só você por algum tempinho aqui, sem distância geográfica, sem distância alguma.

(Ao som de: Outra Lugar - Milton Nascimento)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Do vento


'Eu vejo a vida mais clara e farta
Repleta de toda satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão'

Aproveite que é dezembro e você vai fazer mil promessas para o ano novo e inclua ser mais leve. Inclua trazer aos dias pela manhã a certeza de que eles vão valer no mínimo serem lembrados, veja bem, você um dia ficará velho e vai se lembrar de algo. Já pensou se o único dia que você for capaz de se lembrar tiver sido um dia ruim? Já pensou se você ficar procurando na memória e fazendo anos luz de força para tentar encontrar um dia em que sorriu para o cara da fila na sua frente, um dia em que o Sol estava rachando e você pensou que no Sol as crianças de algum país distante acham jeito de brincar em chafarizes, já pensou se você só conseguir se lembrar que foi um dia triste, que foi um dia pesado, um dia reclamado, um dia que você teria preferido ter permanecido dormindo.
Aproveite que é dezembro e jogue fora a carranca do ano todo, vá, se estiver de férias aproveite, se estiver trabalhando, aproveite meu caro, não é todo mundo que vai ter 

dinheiro para compras de Natal esse ano, se estiver estudando, que delícia, você tem a chance de aprender algo novo, isso é mágico, só você não repara.
Aproveite que é dezembro e o vento é forte e amarre balões. Amarre a alma na pipa, coloque aquela saia rodada, segure a linha e vambora. Vambora porque já dizia o profeta Lulu que não há tempo que volte. Se o seu ano até aqui não foi o melhor, que culpa ele tem? Dizem que a gente faz como quer e que faz por merecer. Mereça um dezembro de Sol raiando, deixando as nuvens com jeito de algodão e o céu quase lilás. Mereça o sorriso do vizinho, o abraço do amigo, o amor de quem vier.
Mereça se lembrar no futuro de um dia bonito, leve. De um dezembro de despedida e esperança de algo novo que virá e você poderá fazer diferente ou igual, a chance não está nele, está em você.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Do que foi feito Novembro


O tempo é que vai passar
A gente só vai rodar

Já é novembro amor, aquele novembro do Sol raiando clareando tudo nesse gerúndio preguiçoso e aberto, brincando com a gente se pondo aos poucos por trás da janela da cozinha. Veio sorrateiro assim ou fui eu quem me desliguei olhando tanto o relógio esperando chegar que veja, está aí por trás da porta nosso fim de ano de resoluções já prontas? 
Você se lembra de quando desfiávamos pétalas de margaridas que você roubava da sacada do vizinho do segundo andar, se pendurando e me fazendo tremer do medo de você por bobeira de me presentear se perder? Pois me lembro das tardes de Sol laranja feito o sorvete de tangerina que derretia no pires que você insistia em usar para tomar sorvete e me irritar, eu me lembro do entalhe que havia nos talheres do almoço quase naturalista que você uma vez me fizera, salada e salada e não havia mais necessidade de mais nada, a gente se tinha para matar a fome, a gente se tinha para matar o tempo, para matar a vida e morrer de amor e reviver de paz, de plenitude jogados em um lençol que não sei dizer se era branco ou azul claro porque era o céu refletido nele.
Eu nunca fui capaz de entender como a sua presença alterava de tal forma os meus sentidos que eu quase conseguia decorar toda a cena, o chão com aquela poeirinha baixando de cinco da tarde e você de pés branquelos e molhados desfilando pela casa, toalha mal amarrada na cintura, a razão me implorando um descuido só para dar um pulo no seu mundo tão fantástico, tão feito pro meu sonho de brinquedo desenhado ainda menina. Eu, você, nosso pequeno castelo, nosso faz de conta que nunca mais passaria novembro.
E veja bem amor, é outra vez novembro, outra vez essa mistura de primavera que é verão e o vizinho se mudou, na varandinha ao lado da nossa não existe sequer sombra do que foram flores brancas um dia. A cortina anda de tal jeito desbotada que não diferencio mais se há sol, até ontem foi o outubro de chorar o modo como você foi arrancado de mim e hoje acordei com esse novembro me beijando a nuca, aquele beijo que era só seu, que vinha de manhã perfumar meu leito de café com leite fresquinho e pão com ervas e hortelã.
Fez sol no seu novembro amor, fez sol dentro de mim pela primeira vez desde que veio qualquer coisa que não tento nomear e que uns chamaram de destino e o médico cheio de técnicas e estudo prenunciou como tumor, é novembro e você não está aqui mas pela primeira vez eu me sinto livre para não doer o peito ao levantar e olhar a pia da cozinha sem sua bagunça habitual, porque a gente teve o tempo que houve para se ter, não é mesmo?
Porque fosse um dia a mais você teria reparado que minha orelha esquerda é um pouco menor que a direita, coisa de milímetros, mas eu sei amor, eu sei que uma hora ou outra talvez feito meninice de criança viesse alguém e nosso laço tão bem feito se soltaria.
Acordei com novembro me mandando sair da cama e ir plantar margaridas eu mesma, o café não vai ficar pronto sozinho mais, o piso anda seco, feito foi seco meu peito esse ano todo sem você. Mas hoje o céu está molhado, está com aquele Sol laranja molhado que tinham os seus lábios depois de tanto sorvete, depois de tanto me sorver gota a gota, de longe.
Um dia houve um tempo, em um tempo pareceu haver tão poucos dias e eu daria o que tenho para tê-los outra vez, mas o calendário mesmo se mantendo parado no novembro passado insiste em me mandar sair da cama, foi você quem se foi, o que posso fazer é tentar no mínimo te fazer bem, de longe, de longe. Como você vai me fazendo, como fez trazendo o sol, trazendo seu cheiro essa manhã.
Novembro passado eu era sua, hoje sou apenas eu. Esteja você onde estiver, sua eu sempre serei.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Do ir em frente



"Tudo bem se não deu certo
Eu achei que nós chegamos
Tão perto"

E numa quarta-feira de Sol rachando você descobre que o seu conto-de-fadas moderno, aquele que você contava pros amigos, aquela história de amor que outro vivia mas que você tinha carinho feito fosse história sua, você descobre que o quase perfeito virou quase eterno e foi-se pra qualquer lugar longe, não se sabe onde.
Cinthya e Fabricio se separaram, mando mensagem pro namorado. E ele tenta buscar por nome amigos próximos, tenho que explicar que ela é a mulher despojada que eu admiro desde o dia que topei com o blog, das poucas pessoas que me fizeram prestar atenção ao Programa do Jô porque estariam lá, preciso dizer que ele era o marido que eu comecei a ler pra entender mais sobre. Carpinejar surgiu pra mim porque veio Verri antes.
Então é assim também na vida real? Os relacionamentos vão terminar. Mesmo aqueles que fazem olhos brilharem de longe porque sabe, eles ainda são feitos por pessoas e pessoas com o tempo mudam, graça maior, as pessoas mudam.
Acho que foi o fim da última parte infantil minha, quase como uma separação dos pais, as pessoas se distanciam, a gente olha o amor do outro e julga tão fácil de ser amado, olha a relação e pensa: eu aqui tenho tantos problemas, esse é fadado ao sucesso.
Mas querida, existe amor fadado ao sucesso? O amor em si já é um fracasso pessoal maravilhoso que nos empurra pro outro por estar cansado de ser sozinho. O amor só é sucesso garantido em best seller de Nora Roberts, aqueles que a gente compra em banca de jornal.
Real mesmo é o medo de perder, real é o ciúme, a implicância, real é a vontade que precisa ser mútua de ficar junto. Coisas assim, prontas para acabarem até mesmo em um dia de Sol.
O que vai se fazer? É a vida, todos dizem.
A gente aprende a dar de ombro, a olhar pro céu até a vista ficar escura, cegueira pra não ver o nome refletindo em cada canto da casa, aprende a se aquecer outra vez, a expulsar o pé de meia que ficou caído no canto da cama, a não esperar o elogio que vinha vez ou outra no tom de voz conhecido. A gente aprende a voltar o amor pra dentro, guardar um tico, fazer brotar outra sementinha pra (coragem e bola pra frente), tentar plantar em outro jardim.
Até os amores mais lindos acabam. Só não não pode acabar a nossa vontade de tentar fazer a história, a nossa história, a melhor de todas, não a mais vendida ou o maior sucesso. Não o amor perfeito de filmes e comerciais de margarinas. Só a melhor história que se viveu mesmo.
Não pode acabar a vontade de ter vida pulsando na gente, no pulso próprio e a partir daí talvez comece a pulsar no alheio, a dar brilho pra outros olhos, a ser morada pra outro amor.



Ao som de Nenhum de Nós - Você vai Lembrar
(Arte de Cínthya Verri encontrada em Super Bem.Com)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nuvem


Era uma vez uma princesa que morava num conto de bonecas e quando ela sorriu da primeira vez houve tanto Sol que ficou iluminado até o que era distante.
Minha menina que está fazendo vinte, essa idade que dá medo de ter porque dizem que traz tanta responsabilidade.
Que venha o melhor, que sopre o vento e bagunce o cabelo, que faça sorrir desse seu jeito bom que cativa pessoas de longe, que faz com que desejem estar próximas, bem próximas. A gente pode trabalhar pra que seja a melhor idade, mesmo vindo todo o terror de estar finalmente se tornando cada dia mais adulto, cada dia mais próximo da realização do futuro quando a gente ainda tem aquele pezinho enraizado num passado bom.
Era uma vez uma menina nuvem, porque sendo nuvem era leve feito passarinho e era água, água que era mar e rio e que cumpria seu ciclo tão lindo de renovar, de fazer viver o que tocasse. Tão cheia da matéria prima dos sonhos, quase feita de algodão doce.
Criança que eu fui e assistia Ursinhos Carinhosos eu sempre acreditei que um dia teria uma nuvem pra mim, a gente não pode duvidar do potencial de realização dos nossos sonhos de infância, olhe só que sorte, hoje tenho você.
Então que venha todo o Sol do mundo pra que te encha de luz, que venha o vento e traga pipas lindas, que o sorriso não se canse de inundar tudo e que quando for preciso, chova. É em chuva que brotam as sementes plantadas. Que você seja forte e tempestuosa, mesmo sendo assim tão linda e doce. Que alcance o que desejar e que nunca, nunquinha, deixe de morar no céu estrelado e ensolarado que é tudo ao mesmo tempo, esse céu que eu pinto todo dia.
Feliz aniversário, que os vinte venham pra trazer coisas lindas, que a idade de forma clichê traga o melhor, e que até o próximo aniversário você consiga se lembrar de que a força pra realizar o pedido quando a vela for soprada, a força mora aí dentro.
Amo você minha menina.



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Da razão das sem razões


Porque você me beijou.
Você se aproximou e rompeu com meu silêncio, com minha relutância por achar inapropriado o que de fato eu queria tanto. Você puxou o ar e eu fui junto, ou você veio e se fez ali, encostado em mim, minhas mãos que já pareciam estar ali na sua nuca sentindo que você tinha acabado de cortar o cabelo. 
Você me beijou e eu esqueci o tempo que não houvera isso, o tempo que eu respirava fundo pra tentar preencher o vazio do que se fazia sem você pra me desafiar a levantar os pés e ficar da sua altura.
Porque eu te beijei e então não notei que todos estavam lá, que havia lá, que havia alguma coisa além do que pulsava tão forte dentro de mim, como eu pude não notar que eu queria tanto estar ali de novo? Que eu quisera o tempo todo não insistir pra ser inteira pronta em você, no seu lábio sugando o meu?
Não era a música lá fora, era dentro da gente. De um jeito ridículo de tão bobo e infantil, parecido com filmes água com açúcar eu queria que chovesse porque eu queria sentir que minha pele estava numa temperatura insana porque sabe, ali estava a sua também.
Você me beijou e eu perdi o ar. Eu perdi o medo de fechar os olhos outra vez e apaguei da mente indícios de fogos de artifício em uma infância de pedidos em viradas do ano, eu não sentia mais a grade fria do portão, havia algo me segurando? Eu só podia sentir o cheiro da gente sendo tão feitos inteiros com um gesto tão simples, só podia notar que sua mão tinha um novo toque, ela estava mais dura, estava mais certa, ainda mais certa do poder de posse. Eu estava inteiramente ali sentindo você menosprezar com os lábios em movimento cada frase que eu deveria ter dito, cada imposição que deveria ter feito e agora não mais conseguiria ter sentido que bastasse pra dizer porque haveria verdade em mim ao afirmar que não queria? Se quando eu mais me encontrava no beijo. Se quando eu mais queria e poderia me deixar ficar e estava entregue?
Havia algo que eu queria tanto que não vinha espetando com gostinho bom da sua barba por fazer?
Eu queria sua força contida, o beijo esperado tanto tempo pra acontecer que a gente fingia ter delicadeza pra dar, queria suas mãos me puxando pra mais perto sendo que era impossível eu estar mais perto que ali, eu já estava lá, já estava. Eu queria que se findasse ou não, que durasse pra sempre porque não pensava o suficiente pra saber se o melhor era começarmos de novo a cada minuto ou prolongar meu encanto até não ter mais tempo de ter fim.
Porque você me beijou e eu voltei a ser gente, a não responder por mim, a não saber o que fazer, não ter certeza de mais nada a não ser de que eu passaria o que fosse preciso porque você me beijou.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Do Redemoinho



"Vem
Que a sede de amar
Me faz melhor."


Querido,
Você não está aqui mas em muito tempo não te sentia tão presente. É possível que eu esteja abrindo outra vez a janela, tirando a cortina e aceitando novamente correr os riscos?
Talvez eu devesse me manter desacreditada de paixões que nos fazem suspirar ao som de músicas que estão longe de serem minhas favoritas, mas me trazem você. Eu poderia fechar os olhos e cavar, poderia buscar por sofrimento, mas como se agora parte de mim parece não se lembrar exatamente dele?
Sorrio e passo de incoerente, você me bagunça e tumultua tudo em mim amor, faz ventar quando preciso de paz e veja bem, você me acalma quando eu estou completamente perdida no meio do mar que fica dentro de mim. Você faz alguma coisa comigo que não sei dizer o que é e não saber direito me assusta tanto, você sabe disso. Estou me permitindo passar por cima dos meus medos porque quando você se aproxima e respira próximo demais ao meu pescoço parece sugar todo o oxigênio de dentro de mim e não sei mais o que mora em meu sangue e faz a cabeça girar nesse nível. Algo parece mais fácil. Mais leve.
Não sou de paixões e olhe, mire e veja, meus olhos te seguem a ponto de me fazerem teimar com os outros que não, que tudo é normal, que não existe isso, que não te quero pra mim esse tanto, que tenho o controle.
Fico na esperança de que negando me convença que te querer é comum, de que feito assim seja mais fácil. Você faz com que eu me desligue, com que deseje fugir mesmo amando tanto tudo isso aqui, com que eu sorria da vida. Me pego brincando com seus dedos finos, você deitado no meu colo eu perdendo a linha mexendo no seu cabeço, meu menino.
De lealdade mútua a gente se cala, mas escrito está na expressão. Não sei se podia te querer, quem é que pode dizer o que é certo ou errado nesse ramo? Mas eu quero, quero até a bagunça que vem junto, o vento que descabela, o coração que não sei mais manter quieto, as mãos que se agitam quando pensam que você está próximo, já está ali, vindo pra mim.
Quero a sintonia que a gente tem, a vontade de te abraçar forte e depois ir dormir com seu perfume em mim, o seu beijo que me morde o lábio inferior e não sei mais se me pertenço depois.
Venha. Traga suas palavras e questionamentos, acabe com meu silêncio. Faça sujeira na minha exatidão, espalhe as roupas, pregue suspiros nas minhas paredes lisas de quem sempre achou que de paixão não se perecia.
Venha porque te espero e hoje entendo que em se tratando de sentimento é sempre bem mais que por obrigação. Traga o caos e venha logo, com paixão.




(Ao som de Como Vai Você - Daniela Mercury e Você me Bagunça - O Teatro Mágico)

terça-feira, 31 de julho de 2012

Do sim que eu quero ter


How can I just let you walk away,
(como eu posso simplesmente deixar você ir embora)
Just let you leave without a trace
(apenas deixar você partir sem deixar um traço)
When I stand here taking every breath with you
(quando eu fico aqui a cada respiração com você)
You're the only who really knew me at all
(você é o único que realmente me conheceu por inteiro)

Insistentemente cortando o temporal que se formara fora de época eu marchava. O vento fazia com que o ar se perdesse antes mesmo de chegar aos pulmões mas eu não precisava disso, eu não precisava de nada, eu respirava você naquela hora, sugava das memórias a força que te fizera me amar tanto tempos antes.
Os carros não se decidiam entre parar ou permanecer num movimento dançante e eu adivinhava o caos que se formaria já já ali, ele já estava morando em mim fazia horas. Em alguma hora a chuva pararia de nublar nossa visão e o Sol voltaria, só que eu não podia esperar por isso, não mais.
Chegaria até você nem que fosse a nado. Chegaria porque era preciso passar por cima do meu comodismo interno de deixar as coisas serem, de acreditar que de querer demais elas uma hora ou outra caminhariam para meus braços.
Era então um querer compulsivo, me doía a ponta dos dedos a vontade de puxar sua pele pra perto da minha, de ter sua boca beijando meu pescoço, sua voz sussurrando algo que eu não ia conseguir saber por não ter foco suficiente pra entender. Eu me pegara te querendo tanto, tanto, que me dera medo. Você precisava saber que eu estava esperando, que estivera longe acompanhando seu riso partir-se em outro que não o meu, seus olhos de príncipe da minha adolescência virarem fundo para o reflexo de uma mulher que eu, de longe, permitia te levar de mim.
Fosse necessário então arranjar um barco pra vencer o temporal, eu arranjaria. Precisava te dizer que queria experimentar ao menos mais uma vez seu beijo pra que tivesse a chance de ver se éramos assim de verdade, tão feitos sob encomenda celestial, um para o outro, do jeitinho que já era nos meus sonhos.
Que ficasse claro que eu te queria comigo. Que lutaria para ser o seu amor, o seu porto e que ficasse mais claro ainda em mim, lavado por toda a chuva e muito evidente, era preciso força e eu tinha de sobra.
Seu prédio sorriu pra mim, velho conhecido das noites de vigília interna quando eu me impedia de bater na sua porta. O porteiro que eu chamava pelo nome. O elevador acarpetado que eu encharcava com restos de chuva e do medo que eu perdia em choro. O número na sua porta e você.
E se fosse loucura, era preciso mesmo isso? E se eu me humilhasse em vão?
Só que eu era feito um rio sem desague, era preciso revirar aquele mar e dar àquela história a chance de ser real ou secar, de uma vez. Que eu já me cansara de chorar sozinha brincando de ter esperanças.
Seus olhos não me entenderam ao primeiro encontro, o cabelo colado ao rosto, o fôlego em um planeta sem atmosfera, bem longe dos meus brônquios. E as palavras que riscaram as paredes bonitas e recém pintadas e destoantes daquela cena de filme rebobinado mil vezes até ser compreendida como derradeira. As palavras que foram tremendo até morarem em você.
- Preciso que você me queira. Preciso que a gente viva de uma vez que lá vem o mundo e tira você de mim pra sempre, tenho medo. Preciso que você me escolha. Não porque ela não te mereça como eu mas porque eu quero isso mais que tudo em mim. Eu quero muito que seja eu. Que me escolha logo! Que me ame no chão ou em qualquer lugar que seja fora da minha mente. Preciso que me ame ou me solte a mão. Porque não podendo vou recolher o que sobrar e me amar até alguém ocupar por merecimento o lugar que lhe ofereço.
Tremia de frio e medo e ansiedade, tentava mas não conseguia me lembrar da última vez que puxara e soltara o ar.
- Não vim destruir seu mundo. Vim pedir de uma vez que me devolva o controle do meu porque não me cabe mais viver de respirar fundo e esperar você se dar conta de que te espero. Você foi meu antes de qualquer outra, não quero te roubar, quero só conseguir ir em frente, entende? Não quero mais te esperar pra sempre. É agora amor. Você vem? Você pode vir e me dar sua mão pra gente sentar e rir de como foi infantil até aqui insistindo em manter distante nossos pés gelados? A gente pode só sentar e eu ter a liberdade de pousar minha cabeça no seu ombro e te ouvir dizer 'princesa' sem a angústia de ver nos seus olhos a falta de certeza de algo? Vem.
Fiquei ali pensando que podia te beijar até meu corpo congelante começar a usar a sua temperatura pra ser meu Sol, eu podia te puxar pelos ombros até você me acompanhar pra qualquer lugar onde fosse só nosso ou podia apenas virar as costas e ir embora. Mas ainda faltava uma coisa a ser dita.
- Eu amo você.
Engoli em seco.
- E eu vou te amar pra sempre. Mas isso não quer dizer, sabe amor, isso não quer dizer que eu vá te esperar pelo mesmo tempo porque preciso tanto que exista, que seja real. Que alimente. Que ame.
Afaguei sua mão, aquele carinho tão nosso. Dei de ombros e permiti ficar ali até que meus olhos redecorassem cada micro ruga ou pelo de barba nascendo que tinha mudado desde a última vez que pousara nele os olhos. E veio o elevador outra vez, o porteiro, a chuva.
Já não fazia frio. Eu estava na luta. Estava viva e poderia finalmente dormir em paz. As cartas estavam sobre a mesa. Que se escrevesse o futuro.


Ao som de Take a Look at me Now - Emerson Nogueira (versão)

domingo, 29 de julho de 2012

Bianca




"O seu amor
Reluz
Que nem riqueza
Clareza do tino
Pétala
De estrela caindo
Bem devagar..."


Porque já no princípio dissera Deus: haja luz. Veio assim o primeiro imperativo. A fuga do negro.
E fez-se luz, fez-se o branco da força da ordenança divina, da busca pra que se pudesse voltar a ver.
Fez-se luz e o branco trouxe em si todas as outras cores ali dentro feito ela, Bianca.
Cabe ali naquela centelha de Sol a luminância reluzente do tom que apazigua mas é forte, da bandeira que estendida sela o caminho da paz, que por ela traz a chance do verde, a esperança.
De branco inteiro ela é vestida por dentro e reluz nos olhos, brilha no sorriso o raio que cativa à distância.
Cheia de cores e pura, inocente, o tom da consagração de quem pra sempre quer ser digno, merecedor da capacidade de refletir. De ser luz.
A luz que invade qualquer brecha e possibilita a clareza, a luz que é força e inunda. A cor que vive, pulsa, transborda.
De branco ela pinta o caminho e as palavras no espaço cheio de possibilidades, não de vazio, e as palavras então, encantadas por aquele mundo de chances de serem inteiras, elas querem morar ali, para sempre.

Ao som de Pétala - Djavan

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Do que a manhã não traz


"Picture perfect memories
(lembranças perfeitas)
Scattered all around the floor
(todas espalhadas no chão)
And I don't know how I can do without
(eu não sei como vou fazer)
I just need you now"
(apenas preciso de você agora)

A manhã chega e com uma palavra ela consegue o que veio buscar. Seu nome rebate em mim e forço a mente pra acordar, forço o peito para puxar o ar, forço a janela para abrir e trazer o sol, mas não tem vestígio de verão nesse inverno que faz tempo habita aqui.
No ritual diário de tentar te expulsar incoerentemente te puxo pra dentro, enrolo a coberta, pego as fotos e volto aos dias em que as nuvens traziam desenhos, alguém bate na porta e eu insisto que está tudo bem, já já estarei pronta, o rosto limpo, os olhos fundos, a maquiagem sorrindo com cara de quem foi em frente.
Até fui sabe, até vou. Novos amigos, novas tentativas de amores, mas toda manhã vem e traz o cheiro que ficou da última conversa, da última vez que tempos atrás suas mãos esbarraram em mim como gesto bobo e eu perdi o controle. Eu perdi o foco e te fiz ficar, eu perdi a chance de ter deixado na mente a vontade e nunca mais ter que acordar pelas manhãs sentido o buraco do peito doer por gritar que já ouve tanto compartilho, tanto preenchimento que agora qualquer sombrazinha faz vazio.
Guardo as fotos na gaveta, guardo o telefone na bolsa e resisto à vontade de discar o número conhecido, abro a porta e resisto ao medo de ir lá fora e ter novamente aquela certeza de que não haverá mais flores no chão, nem vestígios de velas, nem sombra de dúvida de você esparramado no sofá como meu menino amigo que sempre fora.
A gente era fadado ao sucesso sendo amigo? Porque sabe amor, hoje quando eu acordo de manhã e penso que você está do lado dela, dela que tão menos que eu te conhece, hoje quando eu abro os olhos e quase posso sentir a textura da sua mão me dizendo adeus com medo daquela última vez eu enlouqueço e penso que eu podia ter feito mais, eu podia ter insistido pra ser escolhida, mas como eu ficaria com o que sou? É uma escolha só sua, fosse nossa somávamos o sonho e pronto, manhãs seriam diferentes.
E todos os dias se fazem claros e me buscam a paz, porque de noite eu sonho com a gente. O Sol nasce e eu abro os olhos e não te enxergo. Eu aperto as mãos e elas não têm nada pra se prenderem. Eu respiro fundo e cadê o cheiro do seu perfume estampado em todas as minhas memórias de menina? Cadê você amor, cadê você que não vem me descobrir toda manhã, me beijar o rosto e me desejar bom dia?
Então eu fecho a porta, tranco o mundo lá dentro e vou vivendo. Alguém me liga durante a tarde e convida pra vida, eu invento alguma desculpa razoável. Eu invento que tenho você, que o desencontro acabou e que eu tive tempo de te dizer que era o seu amor, você me pegando no colo e rindo maroto. Você me dizendo 'princesa, a gente constrói um mundo'.
Você entendo que construído está faz tempo, pegando poeira de Sol de manhã esperando só você. Só.


(Ao som de Need You Now - Lady Antebellum e Stairway to Heaven - Led Zeppelin)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Do quase eterno em mim


And I need you now tonight
And I need you more than ever
And if you only hold me tight
We'll be holding on forever
Your love is like a shadow on me all of the time...
Every now and than I fall apart

E então o carro parecia pequeno, o mundo parecia pequeno, o peito parecia pequeno porque o ar não mais cabia, eu não sabia o que fazer dele e não havia foco suficiente que me fizesse parar de olhar pros seus lábios se movendo. Você dizia coisas sérias, você dizia coisas que eu ouvia mas não compreendia a necessidade de tanta coisa dita se havia o que fora vivido, havia o que era preciso viver, havia demais vida pra que eu pudesse apenas te ouvir.
Eram seus olhos que eu queria encontrar ao abrir os meus depois do beijo. E era o beijo que eu queria.
A cabeça se aproximando da minha, o olhar que me arrancava das pupilas uma confissão que fazia tempo eu revelara, o meu coração saindo pela boca como se anunciasse de antemão o carnaval que viria quando você me tocasse, quando você com seus dedos passeasse tão devagar na minha nuca me fazendo estremecer só de imaginar que aquelas mãos podiam bem não me soltar nunca mais.
Era você que se aproximava e eu não sabia escolher entre permanecer de olhos abertos pra ter a certeza de que você estava ali naquela promessa selada ou se me jogava de olhos fechados explorando todos os outros sentidos. Deixando que você me tocasse, que me puxasse pra perto, que me dissesse que eu era a sua princesa. A sua.
Permitindo que você me fizesse carinho na orelha esquerda e parasse os batimentos cardíacos em mim estacionando ali no meu brinco do terceiro furo. Eu não podia respirar sem que o ar saísse de você, será que você sabia?
Porque vinha do ar aquele cheiro seu, aquele cheiro do menino que me abraçava mesmo quando eu não estava em condições de ser amada por mim mesma. Tinha o cheiro que vinha me dizer que você era meu desde quando eu nem sabia se teria chances de ter alguém. O cheiro que vinha do seu lábio ali, tão pertinho do meu, tão o raio único da minha visão, da minha sina, da minha vontade de me perder pra que você me achasse.
Eu queria o beijo, queria o suficiente pra me doer cada pedaço de corpo que eu nem sabia ter, cada pedaço que gritava pra que de novo a gente se juntasse e tentasse como deve ser com quem se ama, tentasse ir em frente.
Pousado ali, nos meus lábios, o beijo seu. As mãos que me puxavam e que por sensibilidade minha nunca notada eu podia sentir até pulsando os músculos. Eu podia sentir você em mim, o carinho com que você mordiscava meu lábio querendo ter a certeza de que eu te pertencia, pedaço inteiro. Eu só podia sentir que não havia nada a ser feito que não pudesse culminar naquilo, nos meus olhos fechados por saber de cor o desenho do seu rosto, as minhas mãos brincando com o ruivo do seu cabelo e a textura do atrito do cabelo nascendo que fora recém cortado.
E os olhos se fecharam e abriram. Você ainda falava.
Você ainda lutava com seus moinhos de ventos de dentro e eu quis chorar até o mundo ser de açúcar e derreter.
De quase beijo morri mil vezes todas as noites pensando que se você não dissesse nada, se você não fizesse nada, se não houvesse nada, talvez, talvez tivesse havido o necessário pra que hoje eu não me pegasse assim, parte sua ainda, brincando de ser inteira.


(Ao som de: Total Eclipse Of The Heart - Glee Casting)


[Tradução: E eu preciso de você essa noite/ eu preciso de você mais do que nunca/ se você apenas me abraçar forte/ ficaremos abraçados para sempre/o seu amor é como uma sombra sobre mim o tempo todo... /De vez em quando eu desabo]

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dos que salvam


But there is not enough time
(Mas não há tempo suficiente)
And there is no song I could sing
(E não há música que eu possa cantar)
And there is no combination of words I could say
(E não há combinação de palavras que eu possa dizer)
But I will still tell you one thing
(Mas uma coisa eu ainda vou falar)
We're better together
(Nós somos melhores juntos)

Sou dos meus amigos como se é da melhor parte da vida, a infância. Para sempre.
O tempo vai, a idade chega e eles são parte de mim, parte de uma tarde ensolarada escondida no meio do mato de uma adolescência boa. Parte de uma tarde aprendendo sobre alguém que já se conhece de outros tempos mas que precisa-se reconhecer, porque amigos reconhecem-se. Sou parte de noites inteiras rindo por músicas criadas com temas mais diversos, parte das bandas que nunca formamos mas que embalaram as canções que mais me cativaram até hoje.
Sou parte do ouvido dos que me escutam e como escutam porque falo compulsivamente. Sou a parte das palavras que ecoam e voltam com mais significado porque é de amigo trazer sentido até pra vocábulo inventado.
Sou formada de retratos que nenhuma lente é capaz de captar e que são cheios de luz e cor e vida e têm até trilha sonora. Os retratos dos risos por uma meia calça desfiada, um tombo infantil, um segredo dado nos olhos, um abraço que fez calar o choro. Milhares de fotos de tudo que se vive e que será combustível bom, não poluente da natureza para os dias vindouros de adulto.
Habitam em mim braços longos, finos, cheios de afeto que afetaram em algum momento meu modo de enxergar a vida e me empurraram pra frente com a força de um vento bom de praia. Parte dos olhos de sépia, de seiva derretida que é folha ao vento, de moinho, de vida que me encaram e fazem caras e bocas e me embaralham tudo quando choram.
Sou dos meus amigos porque sou feita deles, de cada parte que vem um entendimento dessa minha loucura que eu sempre acreditei ser só minha.
Sou inteira em partes que completam tão bem, que ensinam lições, sorriem junto, apertam firmes as mãos e zangam e implicam e feito malas que são me amam.
Sou cheia de partes de amor, deu nessa pieguice toda que sou.
Porque eu tenho milhares de defeitos e por horas sou insuportável até mesmo para mim, e mesmo assim, mesmo assim eles estão comigo. Porque ser parte de algo ou de alguém implica conhecer e a gente só conhece bem as coisas que cativou.
Cativa estou, sendo parte deles.
E eu nunca pensei que um dia conseguiria entender de olhar o céu e ver estrelas e lembrar de um amigo príncipe que está longe, amigos são parte da gente, estejamos em qualquer lugar desse Planeta tão tão grande dentro da gente.
Esses, as minhas pessoas, as minhas melhores partes, esses moram em mim e o mais maravilhoso é que não são personagens da minha imaginação fértil, eles vieram morar aqui, vieram pelo prazer da reciprocidade de ser amigo. De complementar, dividir-se e se inteirar, única matemática que consigo dominar sem medo.
Amizade, amizade é matéria de salvação.


"And if you ever forget how much you really mean to me
(E se você se esquecer o quanto você significa pra mim
Everyday i will remind you"
Todos os dias eu vou te lembrar.)

(Ao som de: Better Together - Jack Johnson e Count on Me - Bruno Mars)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Dos me que assistem - O Amor e Outras Drogas



A vida inteira lutando e proclamando aos ventos que tudo que se quer e se precisa e se vive pra buscar é ser você mesmo.
Você mesmo com seus medos bobos que te fazem retroceder, você e suas coragens e vantagens por toda cara de pau e loucura pelo novo, você e a insegurança por se descobrir no fim das contas tão você e tão só você. Sozinho.
Então veio essa história que me deixou sem ar despistada de comédia romântica com capa altamente sugestiva. E o que era uma questão de sexo virou algo sério, o que era pura química e vontade de fugir começou a se transformar numa vontade insana de passar por cima dos limites próprios pela procura da cura do outro, a gente sempre sabe que tem dentro de si esse complexo de Deus que grita que curando o outro será mais fácil lidar com nossa própria dor.
De paixão morreu de overdose muitos aí. De paixão se drogam adolescentes desde tempos imemoriais e hoje em dia de paixão sobrevivem vendendo por aí muitos. A vida é um jogo e cada um luta com as armas que tem, mas a gente quase nunca está preparado pro que pode vir depois de uma esquina. A gente nunca está realmente preparado pra abrir o peito e ver que ali tem um vazio que se tenta preencher com tudo, e não tem como.
Não é o amor que vai me fazer melhor, não é o amor que vai me curar.
Mas eu sei disso, de antes do filme até, que é o amor que vai motivar sabe. 
É tanto tempo tentando provar aos outros tudo, e mesmo que se negue, a gente vive pra provar que é capaz no mínimo de sobreviver. Uns precisam provar mais que outros, é fato. Só que todos, todos incluindo bem você, todos pisam em ovos em alguma parte e querem sair ilesos dali pra mostrar que as opções traçadas foram ainda que não as melhores, as capazes de serem tomadas.
E aí vem aquela droga ilícita que não estava no cronograma, aí vem um amor e tira o seu foco em querer entender tudo e você passa a simplesmente querer fugir um pouco.
Quem sabe um descanso da dor de ter que ser você mesmo o tempo todo? Só ser alguém, não você ou outro, só alguém sem nome e RG e medo.
O que nos salva é saber que existem coisas que fogem à compreensão, ainda que vivamos buscando por ela. Saber que haverá um toque de mão que fará com que o grito se cale, com que o medo passe um pouco, com que se queira ficar.
Haverá alguém que ficará mesmo se você insistir para que vá porque veja bem, o efeito da droga em você anda te alucinando demais e te fazendo acreditar que pode tomar decisões pelos outros. A gente nunca é responsável por saber se o outro estará melhor livre ou não. Olhe lá se der pra saber se a gente será melhor livre, que dirá o outro.
O outro tem o direito e o dever de tomar suas próprias decisões. E vai ver ele te quer.
Vai ver ele te ama e precisa mesmo lutar pra te ver bem porque seu bem absurdamente vai causar o bem dele.
"O Amor e Outras Drogas" trouxe uma personagem tão singular, aquele mundo de vida ali que se tem quando é jovem e a noção exata de que logo logo as coisas escaparão das nossas mãos, nem sempre por descuido, mas porque por hora a gente não tem o controle total da força exata de se manter a coisa ali, a vida ali, firme nos pulsos.
Ser jovem e ter essa certeza é cruel, é doloroso porque é uma perspectiva de futuro que se vai. Como não ter vergonha de tocar, como não ter medo de estender a mão sem a certeza de que talvez ela trema e deixe escapar, talvez ela perca a firmeza e deixe se partir no chão. Talvez só não se saiba bem o que fazer do que está bem ali, dentro da palma.
A doença da insegurança que atinge a gente em cheio e não há remédio que lhe cure.
Ser do outro, ter um amor, requer um tanto de coisas exorbitantes, a conta é altíssima no fim das contas. Pode apostar que você vai falir tentando berganhar com o comerciante e nada lhe custará mais. Só que alguém precisa dizer que vale.
Vale cada choro, vale cada dor por não conseguir apertar firme como o outro deseja, cada silêncio de medo de não saber o que fazer do medo.
Sabe, algumas vezes será impossível encontrar uma cura. Então apenas fuja e procure o máximo que conseguir encontrar somente uma coisa: alguém que faça a cura parecer banal porque não é preciso viver pra sempre, é preciso viver só o que se precisa, agora.


Ficha técnica e dados essenciais:

Nome: O Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs) - 2010
Estrelando: Jake Gyllenhaal (O Segredo de Brokeback Montain) e Anne Hathaway (Um Dia, O Diabo Veste Prada) - Os dois já trabalharam juntos em 'O segredo de Brokeback'.
Classificação: 4 (Ainda que tenha uma história de amor muito bonita, não prendeu minha atenção o tempo todo)
Assista com: Alguém que saiba quem você é mais até que você mesmo. Que aperte sua mão e faça seus medos parecerem bobos.
Preste atenção em: Entre as muitas cenas de sexo tórrido com os protagonistas, uma é especial, de uma delicadeza quase inotável. Eles estão na cama e a mão dela começa os indícios da doença. Então ele a segura. Pode parecer insignificante, mas mexeu comigo. Quase sempre o que mais se precisa em um relacionamento é isso, a compreensão do outro de quando é realmente necessário segurar nossa mão.
Gostei bastante também da atriz de cara limpa (ou quase limpa), é a primeira vez que vejo uma Anne tão natural e gostei do resultado.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Movimento Contínuo


Ana Terra olhava o mundo de mar diante dela, o vento fazendo com que os cabelos desesperados se juntassem ao rosto com lágrimas.
Não era de chorar, não era de se permitir sentir tanto, mas era possível daquela vez?
Estava cansada. Cansada de tantas vezes não esperar e mesmo assim ver que ali na sua frente as coisas viravam ar.
Aquele poder que ela tinha de botar as mãos e fazer tudo virar ar.
Queria só por alguns momentos entender das coisas mais insanas da terra, queria entender porque havia tanta gente no mundo, porque as pessoas se envolviam com coisas estranhas, porque o tempo parecia passar diferente. Queria entender porque saudade consumia os dias, porque o calor que um toque fazia era mais forte que o Sol, porque ser adulto não era nada do que parecia.
Ela se sentia perdida, perdida.
E era detestável não saber onde pisar, um poço no escuro cercado por areia movediça. 
Não era de ter medo, e tinha.
Não era de se perder, e onde estava?
Onde estava a sua força interna que mandava ir adiante, onde estavam as respostas para todas as questões que ela sempre tivera, onde estava ela, a parte boa de tudo, a parte sólida e real e brilhante?
Queria só parar.
Só um instante, parar, chorar e descer, descer até a cama, até debaixo da cama, até debaixo de debaixo da cama, do cobertor, do céu, dela.
Vai ver lá pra baixo iam tudo que procurava e ela encontrasse no fundo da caixa um bilhete avisando que passaria logo fosse noite, a noite vinha pra trazer claridade.
Ou vai ver a noite só vinha pra que ela pudesse ao menos parar de ter que fechar os olhos pra seguir em frente, de noite não se enxerga no espelho o quão vermelho os olhos ficam quando se perdem.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Do toque


"Deixa eu te reparar
Como uma invasão"

Querido,
Eu nunca pensei que um dia estaria aqui, te mandando fotografias e esperando pela chance de contar a você a nossa história, aquela que eu evitei viver.
Há que se ter coragem pra ser gente amor, mais fácil é ser personagem inventado porque o erro ali implica só apagar letras digitadas. Como eu suportaria se te causasse dor e não houvesse maneira de apagar?
Lembro dos dias que antecederam sua ida e como eu não mais conseguia olhar nos seus olhos, eu sabia que não havia em mim coragem para dar o pulo, mesmo sabendo que suas mãos me segurariam daquela forma mágica como você me fazia voar, quase meu Peter Pan.
Eu quero tanto que você leia tudo isso sem mágoa, quero tanto que você aperte a carta e que fale desaforos quando eu disser que você foi e sempre vai ser o amor mais lindo que eu tive. E tenho.
Mas não era suficiente, não em mim, entende?
Era uma vez uma menina que crescera lendo histórias de príncipes e que tinha por brincadeira favorita assistir novelas mexicanas durante a tarde, era uma vez uma menina que por insegurança se trancara e você conseguiu de forma doce abrir a janela da alma dela, você conseguiu chegar tão perto a ponto de não precisar estar ao lado, você estava por dentro. Quando ela era apenas uma garota ela esperava o mundo acontecer para ter resposta para as coisas, mas você veio fazendo vendaval, jogando tudo ao chão e parando pra arrumar goteiras no teto solar que ela tinha. Você fez com que o mundo dela girasse, parasse, andasse num ritmo diferente, você fez com que o mundo dela fosse um mundo de verdade e então as histórias não valiam mais, ela não queria ser a princesa de uma torre, a cigana de uma novela, ela só queria ser gente porque gente ela era com você.
Mas veja bem amor, ser gente implica correr o risco de se ferir, ser gente implica ser cativado e quando se é cativado a gente acaba sentindo falta uma hora ou outra, sofrendo ausência, tendo medo.
Você nasceu a vida em mim, o vento que bagunça o cabelo, o estômago com voltas de ansiedade na vontade de que o outro chegue logo e traga a paz. Por você eu comecei a esperar, não sabia sobre o que a espera faz com a gente. E sabe, era complicado dizer isso pra você porque você era a pessoa com quem eu mais me preocupava, talvez ainda seja, vai ver será pra sempre, mas eu não soube viver.
Eu não soube dar a mão sem olhar pra trás e temer. Porque eu temia tudo amor, e se não desse certo? E se você descobrisse no meio do caminho que não seria a história mais linda de todas a nossa história? E se eu te magoasse um tico e tivesse que te ver sofrer por consequência besta de erros meus?
Aquela menina nunca imaginou que estava ali a história que ela nunca esqueceria, que colocaria todas as outras no chinelo e que ela levaria a vida dando suspiros por lembrar do que foi dentro dela e foi-se embora por erro de conexão, por medo de menina que era, hoje mulher.
Então sabe amor, não há pedidos, não posso vir com letras depois de todo esse tempo e te pedir pra reviver algo que eu mesma abri mão. Mas veja, não posso mais deixar ser só em mim, entende? Preciso, num rompante de coragem tardio, pular. Preciso voltar a sentir o vento e fechar os olhos e ter medo e ter prazer e ter amor e ter tudo que vem quando a gente se abre. Eu quero voltar a viver.
Quero uma resposta que venha me sacudir a poeira e me dizer que ter sido uma menina não fez de mim infeliz pra sempre porque hoje há tempo de fazer de novo, de reescrever histórias, de reatar laços, de pegar na mão e dizer que ama. 
Eu tive medo, mas tive amor.
Se a matemática é essa, estou pronta pra ela, estou sim.


Com carinho,
A.


(Ao som de Ter que Esperar - As Chicas e Paradise - Coldplay)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Do pouco que se entende


"Posso perder o juízo
Mas com você eu tô tranquilo"

Queira. Queira infinitamente bem, apesar da dor, do ciúme, do medo, da raiva. Queira bem e faça bem. Pra ser ter namorado é preciso fazer algo, agir. É preciso que o movimento das mãos digam palavras presas na garganta desde o primeiro dia, é preciso que os olhos pisquem e signifiquem uma certeza buscada pelo outro, é preciso que se compreenda.
Aperte o sinto e firme a respiração, pra se ter namorado é necessário fôlego porque mergulhos hão de vir e não cabe voltar à superfície a cada momento para pegar mais ar. Tenha bons pulmões, tenha braços fortes e uma vontade de atravessar o mar que vem dentro do outro, vez ou outra.
Pra se estar com alguém é preciso estar-se só, primeiro. É preciso estar inteiro porque dividir miudezas não cabe, inteirar-se faz com que a mão estendida ali tenha uma certa firmeza de quem já passou por poucas e boas e vai te ajudar a salvar seu dia. Seu mês. Sua vida.
Deseje que seja para sempre, para os dias de verão caírem preguiçosos na janela admirando a beleza inerte de vocês dois ali, tendo amor. Para que a chuva venha e vocês não notem porque tempestades passam sem que os olhos se desgrudem do filme.
Permita que haja cumplicidade, segredos compartilhados fazem com que duas histórias entrelacem personagens completamente diferentes, espere do outro somente aquilo que você sabe ser capaz de vir, não crie expectativas, nem sobre você.
Enamore-se mil vezes por dia, ouvindo uma canção melosa, notando uma propaganda na esquina da rua, percebendo como o céu é mais azul no inverno, como o vento às vezes faz um barulho engraçado. Estar apaixonado é imprescindível para se ter namorado, mas essa paixão não precisa ser sempre o outro. Apaixone-se por seu trabalho, por seu curso, por seus amigos, por sua vida. E compartilhe isso, espalhe sua paixão pro namorado, pros amigos, pra vida de quem passar perto.
Pisque olhos, aperte mãos, enrugue a testa, deixe o coração soltar pela boca e espere que ele volte ao ritmo normal. Mas vá em frente, vai doer e ser complicado quase sempre.
Fosse simples nem se chamaria miojo, seria alface mesmo, já vem pronto.
Não queira um amor fast food, plante sementinha e regue, tire as pragas, cubra de carinho, deixe o Sol fazer crescer, dê de ombros, por favor.
Nunca espere ter todas as respostas e nem peça que o outro tenha, mas entenda que resposta e solução é algo diferente. Solucione os seus dilemas, peça ajuda porque é de quem nos ama querer fazer o possível pra que fique logo bem.
Tenha uma boa vontade incrível, dessas de vídeo game, de criança que deseja aprender a andar de bicicleta. Metáfora possível, aprenda a andar de bicicleta namorando, equilibre, levante o queixo, fixe os olhos e pedale. Pedale porque se você não agir não há relação que vá para frente.
É preciso esforço, eu sei. É preciso demais, você pode até pensar. Mas é preciso ainda mais esforço para se estar sozinho, porque amor partilhado é sorriso que brota simples, qualquer hora do dia. Confie que pra sempre não é só o que é sem fim, tenha a delicadeza de um menino loiro que veio de outro planeta e cative o que de mais belo puder, será pra sempre. Será eterno.

(Ao som de uma das canções que mais falam de amor, pra mim: O que eu Também Não Entendo - Jota Quest)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Dos 23




"Eu te desejo não parar tão cedo
Pois toda idade tem prazer e medo"

A gente desaprende muito nessa vida. Desaprende a arte do desapego infantil conforme vai ficando mais velho. Desaprende a sorrir porque o novo tá ali, escondido atrás da porta esperando só pra dar o susto. Desaprende a fechar os olhos e pular, mesmo na incerteza do que espera lá no fundo.
Mas tem sempre a chance de olhar para trás e pensar o que está sendo feito de si mesmo, os aniversários.
E então você se pega não mais forte, talvez um pouco menos vulnerável. Você se descobre sorrindo de uma coisa tão simples, sorrindo pra você, pra dentro. 
Fazer 23 nunca esteve nos meus planos, eu planejei só até os 18. Não que eu achasse que não fosse viver até aqui, eu sempre acreditei que viveria pra sempre, mas porque eu sabia que depois dos 18 não cabia mais fazer plano algum, as coisas aconteceriam. 
Têm acontecido. 
Quando a gente faz aniversário no meio do ano fica com a sensação de que é ano novo duas vezes, janeiro e nossa lista de metas está fresquinha, junho e então temos a chance de rever o que deu certo até aqui, o que não deu.
Esse ano, metade de 2011 e comecinho de 2012, foi um ano excelente para mim. Vieram realizações tão lindas, o livro, o sonho ali em letrinhas fofas e capa laranja. Com 22 eu acreditei tanto na vida que quase não tive tempo de implicar, eu comecei a rejuvenescer, finalmente.
Meio Benjamin Button eu fui tirando as traças, movimentando os braços e veja só, estava dançando.
A gente tem a opção de ficar velho, sempre. Ficar velho e resmungar do tempo que afeta as nossas vontades, ficar velho e jogar-se nostálgico em algum lugar lembrando uma felicidade que já foi, ficar velho e chorar porque quase ninguém compreende as coisas.
Mas viver implica vento, implica sonho, implica vontade. Talvez eu tenha descoberto que vão continuar doendo algumas coisas, só que eu provavelmente vou sobreviver.
Eu vou sobreviver e terão pessoas ótimas para partilhar vida comigo, como têm partilhado. E os meus sonhos ainda estarão ali, esperando para se realizarem, e o dia ainda vai nascer e morrer, a música ainda vai tocar, tudo será como é.
A não ser você, você vai ter mudado, aí dentro você vai ser nova, mais jovem. Pra sempre mais jovem.
Obrigada aos que desejaram o melhor, felicidade foi tanta que não tinha como descrevê-la antes, ainda não achei as palavras certas, tem sempre o risco de ficar mais piegas do que o outro pode aguentar. Agora são 23 e mais juízo, mais abraços, mais sorrisos, mais canções, mais livros, mais amor. Mais vida.
Bem mais vida.
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