segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Apodrecido por amor


Fazia o tipo sério, daqueles que escolhiam amores a dedo.
O problema era que apesar das unhas bem feitas, ela tinha o dedo podre. De infância diagnosticado, ainda que o pai lhe aparecesse com bons pretendentes, os dedos se moviam e apontavam aleatoriamente.
Coração ia querendo um ou outro vagabundo e na dança do malandro entrava já de olhos fechados, suspirando.
Ah, o amor...
Tão banal!
E o pobre coitado do colega de trabalho que mandava flores, ia a missa, pagava o cinema e emprestava o ombro nunca ia ter chances se continuasse assim...
Inventou uma amante, apareceu de barba por fazer, perfume vencido, cheiro de vodka barata soprando na nuca. E a mulher nem charme fez, comentou qualquer coisa da mudança e lançou-se alvoraçando os cabelos...
Nem chegou a saber que ele passara de fato a noite em claro com uma dama, aprendendo a ser o homem ideal: fora visitar a mãe, abandonada pelo pai há anos.
Tornara-se phd em vagabundagem, daqueles dignos dos dedos mais apodrecidos.
Coração em flor, pintado de brejo.


(Achei a imagem no blog: O Amor é uma Falácia, excelente por sinal!)


sábado, 27 de novembro de 2010

Estou aprendendo também


'É poder ser você mesmo
E não precisar fingir'


'Felicidade completa e redonda era a dos hipopótamos num domingo de Sol' - Ana Terra pensava caminhando pelo zoológico. Fosse um pouco maior e tivesse lido Clarice entenderia que essas coisas não são bem assim, não explica-se e muito menos entende-se a felicidade.
Mas eles estavam ali tão imersos no seu banho habitual de lama, tão exploradamente contentes em serem vistos nus e sujos e obesos. Eram gulosos de alegria mesmo.
Impaciente, cutucou o irmão:
- Os hipopótamos são felizes?
O menino afim de demonstrar conhecimento esclareceu:
- Lógico que não são, os animais nunca são felizes, eles não sabem sentir.
E ela quis mais ainda entender porque sentir significava ser feliz, afinal de contas, já sentira tanta coisa, de dor ao prazer de saborear um bom sorvete. Aquilo era felicidade? Aquela coisa móvel que se passava num piscar de olhos? 
Vai ver os hipopótamos eram felizes por não sentir mesmo, assim não havia nada que atrapalhasse, nem medo ou injustiça ou raiva ou mesmo a procura boba pela felicidade.
Deu de ombros, talvez os humanos pensassem demais e sentissem de menos, falha na evolução, certamente. Vai ver tinha nascido pra bicho.



Ao som de: O que eu também não entendo - Jota Quest

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Somehow




And I don't want the world to see me
(e eu não quero que o mundo me veja)
'Cause I don't think that they'd understand

(porque eu não acho que eles entenderiam)



Por favor, permita que eu chore um pouco antes de me abraçar, antes de sorrir novamente e dizer que sabe que vai ficar tudo bem, que sabe que sou capaz.
Não quero saber o que você sabe, não agora.
Sinto muito mas o medo me invade, ele não te escuta, não há nada que alguém diga que o convença a ir embora, vou ter que levá-lo comigo, pode apostar.
Ali na beira do penhasco é tão bonito sabe, eu vejo tanta coisa lá embaixo mas nada me prende os olhos, eles estão no céu, nas nuvens que você diz que posso sobrevoar.
Mas eu não consigo tirar meus pés do chão.
Como eu vou saber se as asas são fortes com tanto medo assim?
E se eu cair? E se o ar for tão gelado e eu não conseguir respirar? Se por algum motivo tolo as asas não baterem na velocidade necessária?
Você sabe que eu sou um desajeito de pessoa.
Foi culpa minha que insisti pro mundo que queria aquela liberdade do bater de asas, eu que agora planto os pés porque sentir o vento daqui é tão mais seguro.
Me desculpe, eu não sei perder.
Dizem que sempre tem a primeira vez e o medo é mais dela do que de qualquer outra coisa.
Promete que se minhas asas não forem fortes o bastante você vai jogar uma corda e me tirar lá debaixo? Diz que eu vou ser pra sempre a mesma, independente de tudo ou nada.
É tanto medo, faz tanto frio que eu sei que vou, mas não sei que parte inteira de mim vai sobreviver de asas abertas ou não.
(Ao som de: Iris - Goo Goo Dolls)

(O post ficou tão confuso quando a bagunça que está na minha mente. São tantas coisas em tão pouco tempo que eu nem me lembro mais como é sentar, respirar fundo e ter um pensamento romântico. Eu espero que tudo dê certo de um modo mágico, é a melhor maneira, acho que é a única de que fato eu consigo acreditar)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Feita de pólvora e pérola



Não há pedra em teu caminho,
Não há ondas no teu mar,
Não há vento ou tempestade
Que te impeçam de voar

O sorriso dela me faz tão bem, amolece o coração de um jeito todo infantil, feito maria-mole em pleno verão. Duas da tarde e eu me pego morrendo de rir das coisas que só ela sabe dizer, da 'falta de segurança' que vem de um lagarto em plena porta da frente.
Tem alguma coisa nela que me faz querer ser melhor, querer ter essa segurança pra trazer pra ela. Talvez seja o jeito em sépia do olhar ou as pérolas mesmo, que habitam naqueles olhos tão doces e fortes e cheios de mistérios. Uns olhos que nem Capitu se atreveria a encarar por muito tempo, com medo do mar e do lago que vez ou outra variam lá dentro.
E tem o modo como ela impera pedindo ou pede imperando, eu nunca sei dizer. Um jeito meio intransigente de te fazer querer aceitar a vontade dela, ou de transformar a sua para lhe caber. Vai ver é a vontade de deixar o sorriso reinar mesmo.
Ela tem essa coisa imensa dentro dela que faz aquietar e em silêncio cúmplice partilhar olhares, pensamentos, mundos inteiros.
E ali dentro do mundo dela você vai encontrar tanta coisa linda que nunca imaginou estar ali, tudo bem organizado e separado no seu lugar, a não ser os sentimentos, insano isso de pensar que sentimento tem lugar reservado pra estar.
Dentro dela existe uma força motivadora, um líquido efervescente e milhares de superlativos e metáforas. Todos em total sintonia, em pleno companheirismo, formando essa personalidade tão cheia de mistérios.
Quem dera falar dela fosse simples como sentir todo esse carinho, como desejar tudo de melhor. Mas há um quê sempre ausente, sempre indefinido, sempre pairando em algum lugar entre os lábios e os olhos. Haverá sempre uma palavra desencontrada, porque ainda que eu estude linguística e ame metáforas, como dizia Adélia Prado, as palavras só contam o que se sabe. E ali dentro daquele espaço pequininho mora a essência dessa mulher tão encantada que de bruxa jamais teve nada. 
Ali é um território inabitado, por isso tão expressivo, por isso tão sem palavras.
Tão dela, e só.

Feliz aniversário Pessoíssima linda, inteligente e ótima motorista.
Minha amiga, irmã, orientadora, orientanda, cúmplice e comadre.
Menina-mulher tão cheia de personalidades e pluralidades, sempre.
Deus te crie.
Amo você.

(Ao som de: Dona - Roupa Nova)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Passarinho de papel, voou e nem vi.


'Faz tempo que eu me perdi de você'

Vou fazer um origami do meu coração, está todo amassado mesmo, ao menos vai ficar bonitinho.
Dobro tudo e colo uma fita pra guardar na estante.
Venha visitar vez ou outra para ver a poeira acumulando no que você jogou no lixo, quem sabe você até assopre e tenha compaixão.
Quem sabe se compadeça e afague o buraco que me restou aqui no peito.
Ou talvez, num golpe de muita sorte, ele nem esteja mais lá.
Origami ganha vida e aprende a voar.


Ao som de: As cartas que eu não mando - Leoni


(Totalmente fictício)
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