sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Erro de tempo



Amor,
Coisa estranha a nostalgia que toma conta das partículas preguiçosas do meu pensamento em épocas do fim. Eu hoje joguei tanta coisa fora, eu vi o meu passado passar por mim. Lembrei uma menina de cabelos quase loiros deitada em um quintal cheio de folhas pelo chão. Lembrei um sol que fazia os olhos se fecharem e o sorriso se espichar porque era sol de vida. Era uma vez naquela época uma guria que sonhava em plantar estrelas e você caçoava dela porque as estrelas moravam no céu, plantas cresciam no chão.
A gente sempre sente falta do que perdeu, mas por que me abate essa coisa ardente no peito que me faz sentir falta do que sou? É como, amor, se eu me perdesse em cada esquina, como dizia uma música ou um filme, não me lembro. Sabe, como se eu fosse em cada água de chuva, em cada lágrima boba, cada esbarrão ou abraço de amor. E onde eu estou que não me acho?
Não há reclamação, o ano foi lindo. Vieram tormentas porque eu gosto de olhar o céu pedrento e pensar na tempestade que virá. Foi de linha a construção do meu sonho...
Mas chega essa hora e eu fico pensando se poderia ter sido mais. Não me quero pela metade. Tem de ser inteiro porque do contrário perde a intensidade, água morna não vira chá e nem gelo.
Acho que foi pro lixo a consideração de que é preciso agradecer e pedir perdão. Dane-se se hoje eu quero só estar ao seu lado e ficar calada, quero você falante, fazendo mil planos para o ano que virá e me incluindo em cada um deles. Quem se importa se hoje eu queria só um espacinho de tempo perdido para poder ter medo de estar me tornando a realização de um sonho que eu não sei se era o melhor a se sonhar?
Talvez o correto fosse resgatar lá do lixo então o passado, aspirar um pouco e pintar de tinta nova. Futuro velho.
Os outros achariam a maior graça do mundo, mas amor, acho que pra ser feliz preciso aspirar e sentir o cheirinho de naftalina e mofil. Acho que nasci no tempo verbal errado.

(Ao som de Os Paralamas do Sucesso - Tendo a Lua)

domingo, 11 de dezembro de 2011

De Profundis





Ana Terra com a sensação de que nunca estaria totalmente pronta completara 18 analisando um desastre. E a mãe dizia qualquer coisa sobre corpos que morriam no mar.
Coração na mão ela sabia. Amores que têm suas memórias afogadas jamais descansavam em paz. Havia sempre algo, uma esperança talvez, de que uma hora ou outra submergisse novamente tudo aquilo e sufocasse mesmo estando salvo, em terra não tão firme. Não havia como velar corpos ausentes. E o choro sempre ficava para depois...


(O título é uma referência ao livro de Oscar Wilde)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Quando breve, para sempre


This could be the end of everything
Isso poderia ser o final de tudo
So why don't we go
Então porque nós não vamos
Somewher only we know?
Para um lugar que só nós conhecemos?

Aquela era a única lembrança que eu tinha e eu não mais conseguia me afastar dela. Havia um bosque, o seu vestido florido colorindo tudo, eu implicava com o modo como você rodopiava em torno das árvores e me permitia ficar tonto ao constatar tanta beleza junto.
Eu amava você como se fosse capaz afastar todo o resto, as árvores dançavam a nossa canção e uma mesa sempre vazia compartilhava conosco a felicidade sem fim que vivíamos.
E então onde estava você e seu vestido? Onde fora parar a canção? Alguém me puxava pela mão e dizia que estava frio e eu estava de pijamas ainda. Mas como eu poderia me afastar de você? Era verão, em breve choveria e eu sei que você ficava ainda mais encantadora com os cabelos molhados pela tempestuosa e passageira chuva. Como eu poderia me afastar da única sensação de eternidade que me era possível apalpar? Se eu fosse alguém, eu era apenas ali.
A menina vinha, os cabelos eram cacheados nas pontas e  tinha uma cor que me lembrava algo que não sabia o que era. Os olhos eram grandes e vivos e fortes e eu tinha medo de decepcioná-la. Um medo mortal.
Ela se sentava ao meu lado e por alguns momentos apenas olhava as árvores também, ela sorria às vezes, uma dia a peguei chorando e não compreendi como algo tão lindo causaria lágrimas. Mas a menina não dava explicações.
Eu contava para ela a história de como você chegara ali, repetia cada detalhe das flores que brincavam no tecido dançante do seu vestido, eu narrava o amor que nós tínhamos ali, o nosso lugar perfeito. Explicava a ela como era o som do vento, como eu desamarrava os cadarços do sapato sempre lustroso que calçava, como você se jogava ao chão e fingia choros compulsivos quando eu não fazia a sua vontade, para logo depois saltar sorrindo e passar os braços por meu pescoço dizendo que me amava, me amava, me amava.
Nessas horas a menina sempre encostava a cabeça nos meus ombros e eu ficava com a ideia de que talvez você tivesse voltado, mas para onde você tinha ido? E ela também me abraçava, mas concentrava-se mais em me apertar bem firme as mãos, quase doía seu aperto. Minhas mãos não eram mais as mesmas e isso me deixava triste, a menina então dizia que me amava, e o eco da sua voz vinha: você me amava...
Fingindo distração com um graveto, ela começava a me contar uma história, alguns personagens pareciam tão reais. Havia um homem completamente apaixonado por uma garota (todas as histórias eram assim?), havia um bosque verde com o nosso e eles foram muito felizes naquele lugar. Tão felizes que seria impossível esquecer tudo aquilo.
E a menina dizia que a mulher de vestido florido casara-se com o moço dos sapatos lustrosos, e fora uma cerimônia maravilhosa, talvez eu fosse bom em imaginar casamentos porque o modo como ela descrevia as coisas faziam com que eu quase conseguisse enxergá-las.
Nessa hora a menina sempre começava a chorar e sem dar explicações ela me apertava as mãos e balbuciava que o casal tinha sido feliz para sempre. E que o para sempre deles para muitas pessoas seria entendido com muito pouco, mas para os dois seria eterno. Como o bosque e a lembrança daquela mulher linda dançando por ali.
Ela havia morrido enquanto ele fora servir na guerra. Complicações de um coração que ficara para trás faltando um pedaço. Tinham uma filha que esperava todos os dias até que o pai chegara e eles tentaram como foi possível seguir em frente.
Agora nada mais importava porque ele estava novamente naquele bosque, ele tinha novamente a mulher que sorria e dançava. Para ele apenas, mas que diferença isso faria?
Ela era a neta daquela mulher e essa era a hora em que ela me chamava para entrar, ela me abraçava e prometia me contar muitas histórias, mas dizia que ali estava frio demais, que eu não poderia me arriscar assim.
Eu sabia que ela me amava, eu reconhecia o amor. Mas não havia como explicar para mais ninguém que ali eu não estava me arriscando. Ali eu estava vivo.
Não era uma espera. Não era tristeza.
Eu apenas vivia quando estava ali.


(Ao som de: Somewhere only we know - Keane)
Texto para o Projeto Bloínquês.

sábado, 19 de novembro de 2011

Das cores dos sonhos





Ana Terra era criança ainda quando desenhou o mundo. Seus sonhos eram aqueles, toda a cor que vinha na caixa de giz de cera enfeitava a paisagem.
Quando cresceu e foi ter com a realidade aquela conversa chata sobre a vida o que tinha de menina falou mais alto e ela se pegou chorando, chorando como se chora quando se tem sete anos. Tentando fugir da água do chuveiro que bate no machucado e faz arder.
Não, ela não tinha sonhos multicoloridos. O problema não era a cor dos sonhos, ela tinha problema de visão e sabia que elas jamais atingiriam o tom da sua imaginação.
O problema era que de repente parecia para a pequena Ana que os sonhos não eram feitos para o tamanho dela. Eram os sonhos de outros.
Eram outros sonhos.
E ela sentia tanta falta de quando ainda era criança suficiente para caber dentro daquele mundo colorido e lindo. Agora era grande e suas pontas furavam balões. Era angulosa. 
Era cheia de arestas cortantes.
Queria os sonhos de volta.
Queria a menina que sonhava, mesmo fugindo da água do chuveiro pra não arder o arranhão.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Do tempo do amor




Não faz mal se quando eu estiver insegura você me apertar a bochecha e acabar fazendo com que eu me sinta ainda mais infantil.
Não faz mal se quando eu não souber o que dizer, ou até quando souber, você completar por mim.
Não faz mal você me amar como se fosse vir a chuva e aquela árvore ainda fosse miúda pra tanta água bruta.
Faz só se você não vier, se não disser ou se não zelar.
Quer saber meu bem, faz só se você não quiser.
É sempre muito cedo quando a gente tem medo de amar.


De quando erramos o alvo



'Fui constrangido por tanto amor
Ele não se importou com meu estado envergonhado
Cristo simplesmente me amou'


Eu fico encabulada pensando, procurando um motivo que me dê um pouco de lógica para o fato de que quando as pessoas pecam, quando eu me afasto do centro da vontade de Deus o primeiro pensamento que me vem é 'o que as pessoas pensarão disso'?

Me lembro do missionário Breno Vieitas dizendo que etimologicamente falando, pecado é 'errar o alvo'. Tomamos o pecado de uma forma tão moral ultimamente, é quase como quebrar regras que a nossa sociedade pagã impõe. Pecar é cometer um crime contra Deus.
De forma alguma acredito que pecar é algo bom. Mas veja bem, pecar é 'errar o alvo'. Socialmente falando eu posso errar o alvo e continuar sendo aceita. O que não consigo entender é como pecar geralmente afeta mais minha vida moral que minha vida com Deus.
Então eu temo mais o que os homens pensam de mim do que o que meu Criador maravilhoso pensa?
Eu temo muito mais ser apontada na rua por essa ou aquela falha do que errar o alvo com Deus?
Peço perdão então Senhor. Peço perdão porque me deixo influenciar de tal forma por esse mundo que me distraio do meu alvo que é glorificá-lo, porque caio e ainda assim não volto os olhos ao céu porque estou focada aqui, tentando desviar a atenção dos outros.
Fecho meus olhos e peço que o Senhor me perdoe porque por medo de pecar com os outros eu encubro os meus pecados e me afasto mais de Ti, por medo de ser rejeitado, de ser 'constrangido' eu visto a minha máscara de perfeição, coloco minha fantasia de não-pecador e não me arrependo, não me lembro do sacrifício que foi feito por meus pecados, aqueles que a sociedade não pode saber porque me julgaria.
Me envergonho Pai porque sou tão baixa a ponto de me preocupar com tais mesquinharias quando Jesus foi parar naquela cruz, foi humilhado, sofreu tudo que sofreu sem merecer nada. E eu que mereceria castigo pior tenho tanto medo de mostrar e assumir que sou pecadora que prefiro me afastar. Prefiro tentar levar as pessoas ao seu altar fingindo uma vida de santidade, não usando o método eficaz e mostrando a cruz em que meu Salvador foi pregado.
Eu me iludo com as boas novas Pai. É tão maravilhoso me sentir próxima, mas permita Senhor que eu jamais me esqueça que sou falha. Que em pecado fui concebida. Que eu nunca vou ser digna do pó dos seus pés, mas que o Amor que o Senhor me tem é tremendo, mesmo sendo tão pouco merecedora.
E permita Pai que eu não tema o pensamento dos outros, que eu não julgue o meu pecado maior ou menor do que o de ninguém, que eu não julgue, simplesmente. E que quando os outros me julgarem eu pense que tenho um Mediador entre eu e o Senhor e tal Mediador falará por mim se meu arrependimento for sincero.Me ensina Senhor, me ensina que errar o alvo é pior do que quebrar convenções morais. Me ensina que o primeiro pensamento precisa estar em Ti, porque foi para te louvar e adorar que fui criada.Perdão Pai, perdão porque querendo ser aceita por uma sociedade religiosa eu me senti melhor que Jesus e por um momento talvez tenha achado que a cruz que me pregariam não tinha o meu tamanho. Ela era minha.
Teu amor me constrange Pai. Obrigada por me aceitar assim, sem máscaras, sem falsa santidade, só cheia de amor e de vontade de fazer a minha vida Sua.
"Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros, que a Deus"

(Atos 4:19)

(Canção citada: Carpinteiro - Aline Barros)

sábado, 5 de novembro de 2011

Daquela que é tanto


Look at the stars
Look how they shine for you

Carolina é essa menina que sempre foi mulher. A que me faz não saber falar ao telefone.
Talvez eu já tenha dito tanta coisa que hoje não saiba mais como tentar não ser piegas.
As estrelas realmente brilham para ela, e não fosse apenas isso, ela ainda tem um jeito maravilhoso de tornar as coisas melhores. Mesmo depois de tanto tempo ela consegue ter uma sintonia absurda e me adivinhar péssima no msn, ela consegue me pedir ajuda em uma coisa simples e fazer com que eu me sinta muito muito importante.
Eu fico boba e sem palavras para falar dela.
Acontece que Carol é aquela amiga que você sabe que estará em todos os momentos importantes da sua vida, é a que eu fico meses sem falar e então em um estalo lá estamos nós, tão diferentes de um ano atrás e tão próximas de novo. A que é feita de pólvora e delicadeza.
Não tem distância que faz com que eu me sinta longe dela. Longe das broncas e do modo como ela tinha de me desvendar, contrariando minha insistência em dizer que sempre estava tudo bem.
Sabe amiga, as mudanças da vida alteram muita coisa na gente e eu não quero construir um texto estilo Paulo Coelho. Mas ainda assim, eu sinto tanto reconhecimento de pupila. Tem como?
Eu te desejo o que você quiser e para ninguém dizer que é falta de criatividade, desejo também muito calor de abraço bom e boa companhia. Muito brilho pra esse olhar de sépia que eu adoro tanto e muitos passeios prazerosos.
Muita saúde porque eu me lembro o quanto você detesta estar doente.
Eu desejaria toda a felicidade do mundo se fosse possível te convencer que a gente pode ser muito feliz um dia...
Parece que foi ontem que te dei aquele abraço de despedida e eu sei que você pensará que eu sou terrivelmente dramática.
No dia mundial da Conspiração da Pólvora eu só queria te dizer que o cinco de novembro não tem tanta graça sem a correria de encher balões para te surpreender de mentirinha. Muita coisa por aqui não tem tanta graça, pode apostar.
Mas saber que você está aí, que você sempre estará aqui, independente do lugar, isso faz com que eu queira te abraçar bem apertado e te fazer ficar sem graça por dizer algo bem piegas, bem típico meu.
Não tendo essa chance, vou recorrer à memória boa que eu sempre soube que você tinha. Você sabe o quanto é especial não é mesmo?
Feliz aniversário amiga, madrinha, irmã.
Que sua alma encontre abrigo.
E que Deus te realize.

Parabéns Pessoíssima.
Você sabe.


(Ao som de: Yellow - Coldplay)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ciclos no escuro deserto do céu


Quero um machado pra quebrar o gelo
Quero acordar do sonho agora mesmo
Quero uma chance de tentar viver sem dor

Você continua aí empaturrando tudo e fazendo um drama me dizendo que eu sempre fujo. É a sua principal acusação. Bem, não que você tenha perguntado, mas talvez eu queira começar a te explicar porque eu realmente sempre fujo.
Acho que fugi desde o princípio, talvez você não notasse, mas primeiro era o mundo imaginário que eu criava para ver se conseguia sua atenção. Entramos em um impasse, o primeiro de alguns que virão, você me dava atenção, não posso mentir. O problema é que sua atenção era quando te convinha. Não me lembro de doer antes dos oito anos.
Lembra? Aquela menina de bochechas grandes que os adultos gostavam de apertar e que já tinha uma queda para a birra. Eu fugi um dia porque você não estava bem e eu não sabia o que fazer para você estar melhor. Era mais que desesperador não ter esse poder.
Que ingenuidade de menina a minha. Quem me dera ter o poder de não te fazer sentir dor ou sofrimento.
O tempo passou mais um pouco e eu percebi o primeiro problema real já quase adolescente. Às vezes você conseguia fazer com que eu me sentisse tão mal. E no outro dia você fazia com que eu me sentisse a pessoa mais linda e amada de todo o Planeta, eu era uma princesa.
Sabe, você era meu Sol. Eu era só um planeta vidrado na força que você tinha, o modo como todas as pessoas eram sempre alegres ao seu redor, o jeito como todos os meus amigos gostavam de você, o domínio que você exercia me fascinava tanto.
É cruel o Sol parar de brilhar, você não acha?
Quanto mais eu tentava ser uma boa pessoa, eu me esforçava para ser a melhor, para ter o destaque, as melhores notas, a popularidade, o carisma... Mais você procurava tantas coisas que eu não tinha...
Tentei tanto. Parece que não, eu sei. Tem coisas que não são de mim sabe? E você dizia que alguém era isso, ou aquela outra pessoa fazia aquilo. E eu me matava aos poucos porque eu me esforçava e não atingia, ficava sempre no quase. Eu era quase aquilo que você esperava.
Acredito que seja impossível para você entender tudo isso, você dirá que sou dramática e que você sempre fez o máximo por mim, veja bem, eu não estou dizendo o contrário.
Você não sabe o que é amar alguém e ter medo. Ter vontade de tocar o cabelo de alguém e aquela pessoa te sorrir e você acreditar que o mundo é perfeito e fazer isso novamente e o gesto ser repreendido.
Então eu vou te explicar porque eu fujo.
Fujo porque sou covarde e cansei de ver doer. Fujo porque eu não consigo mais conviver em cima da linha, não consigo mais gostar desse jogo de amo-desamo. Olha pra mim, enxerga o quanto eu sou sensível, não vê que eu me faço de forte pra você não chorar mais?
Eu te amo tanto, teria motivo para não amar? Você é parte de mim. Mas uma parte que me enlouquece e eu preciso ser adulta agora. Não existe mais espaço para aquela menina que acreditava ser uma personagem de livro.
Estou cansada de viver para tentar suprir suas expectativas.
Tanta gente me conhece e sabe o quanto eu valorizo quem eu amo, eu sou cheia de defeitos, alguns desses mesmos que você aponta com frequência. Mas quando eu quebro alguma coisa, eu tento consertar. Eu faço tanta força para carregar os sentimentos alheios sem derrubar nada, me ajuda.
Você diz que precisa de colo e eu queria ir até lá e te abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, que o choro que me acometeu hoje e que fez com que doesse tudo de um jeito que me assustou tanto, esse choro passou. Eu superei.
Mas eu não superei nada.
Tem tanta coisa presa aqui sabe, eu queria que você me amasse mais do que me ama. Eu queria que você nunca gritasse comigo e me acusasse de qualquer coisa. Eu queria que você fosse o meu Sol de novo, porque eu ainda não estou pronta para ser o Sol de alguém. 
Crescer já é tão complicado normalmente, por que as coisas precisam ser ainda piores?
Dizem que eu sou boba porque sonho em salvar o mundo. Quer saber, é uma hipérbole.
Se eu pudesse eu salvava só uma coisa, você.

(Ao som de: O Astronauta de Mármore - Nenhum de Nós)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Meu Herói inventado


Mas te vejo e sinto o brilho desse olhar
Que me acalma, me traz força para encarar
Tudo

Sabe, antes eu tinha medo de você virar as costas e se deparar com a imensidão do mundo longe de mim. Hoje quando você vira as costas eu penso que quando voltar terá os olhos mais brilhantes.
Houve um tempo em que havia medo. Hoje o amor é tão grande que acredito não caber mais nada, ficam lá espremidos e dançando de mãos dadas sorrindo todos os sentimentos lindos que você me causa. É a certeza do que é nosso, é a beleza que você tem, é a amizade que é essência em você e o amor, o amor com que você aperta minha mão, com que me pega no colo, com que me dá um beijo na testa e me permite cochilar no seu abraço.
E a menina que eu era cheia de imaginação e que tinha o dedo torto para ela e o jeito certo de juntar os outros não conseguiria nunca visualizar a felicidade boa que viria do nosso encontro, dezesseis anos ali, cheios de vida e medo e sonhos.
A gente constrói juntos o nosso caminho e o mundo inteiro olha e diz que somos estranhos, mas nosso amor é real de tal forma que vai de encanto em encanto construindo história.
Nunca é tão bom ser feliz quanto é com você. Entende?
Tem o espaço para todas as coisas, tem as pessoas e tem você. Porque você é tanto e tudo que eu não sei dizer direito.
Era você quem estava comigo quando eu pulei o telhado e quebrei o pé, era o seu sorriso que me fazia ficar sóbria enquanto o caos vinha e se instalava, era o seu cheiro de trás da orelha que me fazia adormecer e ter bons sonhos. É você.
Não sei o nome das coisas e se nem Guimarães conseguia descobrir, me permito só olhar para você e usar aquele clichê velho de que você é minha melhor metade.
O meu sonho verdade, o meu.
Não é só ser namorado.
Não importa o que aconteça, você vai ser meu par.

(Ao som de: Dia Especial - Pouca Vogal)

sábado, 22 de outubro de 2011

Das leituras que faço - Dia 22



Dia 22) Cite um ou dois livros com títulos que você acha interessante

Confesso que compro livro pela capa e pelo título. Foi o caso de Crepúsculo, assim que sai vi aquela capa e li na contracapa uma descrição vampiresca tão legal que me interessei, comprei pela expectativa, meses depois virou modinha. Dos livros que tenho que mais me chamaram a atenção pelo título destaca-se 'O Avesso das Coisas' de Carlos Drummond de Andrade. É um livro de aforismos que diz mais ou menos isso mesmo, o avesso do que se pensa. Adorei o título porque o avesso sendo o lado de dentro me comove. Ainda tenho dois do Gabriel Garcia Marquez que também foram escolhidos pelos nomes: 'Do Amor e Outros Demônios' e 'Memórias de Minhas Putas Tristes'. Valorizo muito quem sabe dar um título criativo porque eu sou realmente péssima nesse critério, sofro para dar nome à cria.
O melhor é que nunca me enganei em relação a um livro escolhido pelo nome, quase sempre são tão atraentes quanto o título!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Das leituras que faço - Dia 19



19) Qual livro você leu, gostou e recomenda para todo mundo?

Eu sempre recomendo os livros que gosto e acabo dando a sorte de geralmente gostar do que estou lendo... Mas existe aquele livro que é chavão, que você fala dele para os pais, os amigos, os conhecidos, os contatos do facebook, todo o Planeta precisa conhecer.
Meu livro recomendadíssimo é 'O Pequeno Príncipe'. Já falei dele aqui mas acho que não expressei bem a paixão que eu tenho pela história. Quando eu era criança tinha uma prima mais velha que carregava o Pequeno feito fosse uma boneca e contava as aventuras dele de cor. Cresci, aprendi a ler e foi o segundo livro que ganhei na minha vida, perdeu apenas para 'Meu Pé de Laranja Lima'. Foi o livro da minha infância, porque eu compreendia muito bem tudo que estava escrito ali, ou pensava compreender. Durante a adolescência tive uma fase Paulo Coelho então ele acabou ficando esquecido até que em uma aula na faculdade a professora me perguntou qual era meu livro favorito e me lembrei do meu menino. Reli prestando atenção à cada metáfora, me deliciando com a história de amizade mais forte que já ouvi falar. Chorei porque me deixei cativar e procurei no céu uma estrela para ser o asteroide que ele moraria para sempre em mim. O livro me fez ser menina novamente.
Gosto e gosto mesmo, tanto que as duas melhores amigas ganharam exemplares dele de presente, e se meus recursos monetários fossem suficientes, cada bom amigo meu teria um.
Se você nunca leu 'O Pequeno Príncipe' por achar que fosse coisa de criança, não tente novamente, você não conseguirá mesmo, algumas pessoas acham que já nasceram grande, são como o acendedor de lampiões, julgam não terem tempo para essas coisas.
Mas se eu pudesse instituir uma lei só no mundo seria para que cada um ao menos uma vez na vida lesse a história do garoto que viajava pegando carona em meteoritos e um dia veio parar na Terra. Quem sabe assim os homens não aprenderiam mais sobre cautela e reciprocidade? Os homens não têm tempo para mais nada, compram tudo pronto, mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.
Ainda bem que eu tenho, ainda bem que o Pequeno me ensinou o significado de cativar.
Recomendadíssimo!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Da incoerência que me cala


Dom Cícero*, Paraná ,25 de fevereiro de 2001.

Miguel,
Dez milhões de coisas passaram pela minha mente antes que eu começasse a tremer as mãos para te escrever. Tantas vezes eu comecei e desisti que nada garante que você abrirá o envelope e estarão lá dentro palavras minhas. É complicado quando não se sabe bem o que dizer.
Poderia mentir dizendo que sei bem o que fiz da minha vida e tenho convicção das minhas decisões, mas de que adiantaria? Soaria tão falso que nem a caneta se convenceria. Não sei de nada. Sinto tanto por isso.
Você partiu e então não consigo passar um dia sequer sem chorar, as fases chegam e me assombram, eu penso que te odeio por ter ido e me deixado aqui, pedaço de sonho quebrado no meio. Penso que te amo tanto e que por isso a dor que vem me sufoca e me lança ao chão. Nem as folhas que aí enfeitam a paisagem estão por aqui para que eu me jogue e peça ao vento para me cobrir delas. Ainda penso que tudo tem uma explicação e que as coisas são quanto têm de ser, mas me canso de filosofias bonitas e nada práticas.
O pior de tudo é saber que eu desatei o laço, eu te mandei embora, eu disse não para uma vida que planejamos juntos, calculamos e mais que isso, sonhamos.
Amor, sinto tanto. Nada foi de mentira, agora pode parecer absurdo te contar tudo isso e talvez o destino dessa carta também seja o lixo, mas eu jamais tive vontade de soltar sua mão. Sinto uma falta sem tamanho dela me apertando os dedos agora e há um buraco crescendo entre elas, vem me completar.
Tenho pesadelos que Paris te apresentará francesas lindas e dispostas a tornarem reais os planos que eu fiz para você. Os cafés que nós visitaríamos, as fotos enquanto a cidade anoitece e os beijos que não serão dados por mim.
Você leria para mim pela manhã enquanto o Sol começaria a clarear o quarto, o vento fazendo tamborilar a cortina branca da janela que apontaria para um muro, o nosso apartamento de estudantes decorado com ar retrô, discos de vinil servindo de prateleiras e porta-copos.
Vê? Sonhei sim, e sonho ainda. Sonho tanto, não há noite que não passe em claro e dia que não sonhe com você sorrindo e cantarolando meu nome com sotaque francês.
Queria te dizer que foi por falta de amor que larguei tudo, resolveria parte dos meus problemas e conflitos internos.
Há dentro de mim um espaço destinado às promessas que me fiz e que ainda não cumpri. Nunca é tarde ou madrugada para retirar tudo dessa caixa e jogar na minha cara que toda dor que vier é por infantilidade e medo bobo de ser feliz para sempre, você saberia me trazer isso.
Não foi falta de fé na possibilidade certeira do nosso sucesso juntos. Minhas promessas são medrosas, covardes, pode chamá-las para a briga se quiser. Mas por favor, não desista de tentar fazer cada uma delas tornarem-se eternas nas lembranças do que a gente viveu.
Prometi que Paris seria nosso lar e que nosso amor causaria inveja nas gárgulas de Notre-Dame, por favor, não deixe isso morrer.
Seria injusto da minha parte pedir para você confiar em tudo isso. Mas como não torcer fervorosamente para nosso amor vencer todos os devaneios tolos que me atormentam e não me deixam largar tudo aqui e ir atrás de você? Quero amar você sem precedentes, mesmo. Quero um filho seu, um sorriso seu de bom dia por todas as manhãs. Quero que você leia trechos dos meus romances favoritos e me diga que não existe história que valha um livro mais que a nossa. Quero que a nossa história continue sendo nossa, mas não posso prometer mais nada.
Não me encontro com credibilidade para pedir sequer que você leia tudo isso. Não sei de mim, não compreendo o medo de realizar o sonho de estar com você, ser dançarina de uma Escola séria e viver em Paris. Mas nem tudo é passível de compreensão nesse mundo, essa é a verdade que me salva da insanidade.
Por hora mon amour, peço até com vergonha porque sei que não tenho mais esse direito, me ajuda a ter coragem para realizar as promessas que ainda nos sobraram. Me ajuda a prometer tudo de novo e a realizar. Me promete Miguel que você nunca vai desistir de me fazer melhor, por favor...
No meu aniversário eu só queria a certeza de que existe em Paris um pedaço de mim esperando minha mão para acariciar os cabelos que aposto estão crescendo já.
Eu só queria que você acreditasse que prometido ou não, você será sempre o meu amor. Cumpra o que se cumprir.
Mon Amour.

Da sua pequena,
Lívia.

Texto escrito para a edição musical do Projeto Bloínquês.
Carta resposta desse texto aqui. Lívia e Miguel são os personagens centrais do romance 'Meus Pijamas em Paris?!' lançado por mim pela editora Biblioteca 24 Horas. Dom Cícero é uma cidade fictícia do estado do Paraná, criada para ser o cenário do romance.

Das leituras que faço - Dia 18





18) Você costuma ler livros que não são para sua idade?

Não tenho nenhum tipo de preconceito literário, ainda bem! Como professora tenho que ler de tudo, inclusive literatura infanto-juvenil, como posso cobrar dos meus alunos algo que não faço? Procuro sempre variar minha leitura entre um clássico, um chick lit e um livro infanto-juvenil. Sou apaixonada por Harry Potter desde que tinha treze anos e li o primeiro livro, isso quer dizer que sempre que posso releio os livros dele, ou seja, literatura intanto-juvenil.
Acredito que todo bom leitor deveria tentar variar os livros da sua cabeceira, ser eclético é bom e faz com que se tenha assunto com todos! Além do mais, assim você poderá indicar um bom livro para qualquer faixa etária!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Das leituras que faço - Dia 17



Dia 17) Cite um livro que você achou que ia gostar e acabou não gostando:

Existem poucos livros que não gostei, sempre procuro algo de bom nas histórias. Um dos raros que até hoje posso dizer que não gostei foi 'O Guardião de Memórias'. Quando peguei o livro emprestado já desejava lê-lo há algum tempo, desde que vi a capa em uma feira da faculdade mas estava sem dinheiro na hora e não pude comprá-lo. O enredo me parecia interessante pela sinopse apresentada na contra-capa, não era só mais um romance água com açúcar.
Não costumo pegar livros com expectativa, o que me move é a curiosidade, e cheia de vontade comecei a leitura. Antes não tivesse feito.
O livro me entediou já no primeiro capítulo, ainda que a história fosse realmente bonita, a autora é altamente descritiva, um parágrafo para cada floco de neve que caia no inverno de 1964, ano em que o livro começa a narração. Gosto sim de detalhes, acredito que enriquecem a história e fazem com que nossa imaginação construa bem melhor os cenários, mas uma coisa é detalhar, outra é focar a história em cima disso. Fiquei com a sensação de que não se sabia bem o que narrar e acabou-se optando por descrever cada mínimo detalhe de todo canto.
Terminei de ler pulando partes, o que realmente não gosto de fazer, eu lia um parágrafo, saltava cinco e a história era a mesma ainda... Em algum momento a história tornou-se coadjuvante dos cenários, das situações tão subjetivamente explicadas... 
Achei uma completa perda de tempo.

domingo, 16 de outubro de 2011

Das leituras que faço - Dia 16



16) Cite um livro que você achou que não ia gostar e acabou adorando:

Quando me emprestaram pela primeira vez 'A Menina que Roubava Livros' eu me interessei e comecei a ler instantaneamente. Não era o momento. Achei a história travada e pensei: não vou conseguir ler. Acabei deixando ele esquecido por muitos meses.
Durante esse tempo o livro começou a fazer muito sucesso e virou 'modinha', o meu interesse caiu ainda mais, fico com preguiça de ler um livro só porque todas as outras pessoas estão lendo também, resolvi deixá-lo mais escondido ainda na estante, para que talvez, um dia, quando estivesse animada, lesse.
Depois de quase um ano li rumores de que lançariam um filme e como estava ocupadíssima na faculdade lendo literatura aplicada e teórica, resolvi procurar pela 'Menina' buscando distração.
Foi difícil passar pelos primeiros capítulos, eu ainda estava determinada a não gostar da história, mas pelo menos leria e poderia conversar sobre ela com meus alunos.
O encanto foi tanto que quando passei do meio não conseguia mais largar o livro, cheguei ao final e chorei como se tivesse vendo a cena na minha frente, chorei depois que larguei o livro por saber que tudo aquilo foi real mesmo, talvez não a história daquela menina de mãos leves que roubava livros, mas a guerra, as mortes, a crueldade humana.
Depois de todas aquelas páginas fiquei feliz por ter insistido. Do contrário não teria lido um dos meus livros favoritos!
Realmente, os seres humanos me assombram.

sábado, 15 de outubro de 2011

Das leituras que faço - Dia 15



15) Qual o seu vilão literário favorito? Por quê?

A primeira escolha foi Lady Macbeth. Shakespeare sabia criar vilões como ninguém! Só que Lady Macbeth era apenas invejosa e ambiciosa, era tipo um mesquinho que passava por cima de tudo para conseguir o que queria, valeria o trono, não fosse...
Bellatrix Lestrange!
Bellatrix era puro-sangue e sempre foi apaixonada por Voldemort, as aparições dela nos livros da saga Harry Potter sempre me davam arrepios. Ela foi uma das servas mais fiéis de Voldemort, uma das únicas a procurar seu corpo após seu desaparecimento. Foi parar em Azkaban por matar os pais do Neville e só saiu de lá com o retorno ao poder do Lord das Trevas. Bella torturou de todos os modos possíveis Hermione e ainda matou Dobby. Mas existe um motivo para que eu a considere uma das melhores criações de J.K. Rowling: Bella sempre desconfiou do Snape, ninguém dava muito crédito a ela porque o próprio Lord aceitava a presença de Severo, no fim, ela estava certa o tempo todo.
Ela tem um papel ultra fundamental e adoro o fato dela quase sempre conseguir o que quer, acaba morrendo na batalha de Hogwarts.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Por que você se fez tão linda?


Paris, 05 de fevereiro de   2001.
Lívia,
Eu sei que a primavera enche seus dias de luz e flores, aqui no velho continente o outono é como nas imagens que víamos na tevê, milhares de folhas tomam o chão e o vento torna quase insuportável sair às ruas sem um bom agasalho.
Sempre soube que Paris era linda, quase como sabe-se que o Brasil é quente e o Rio de Janeiro é a cidade maravilhosa. Existe em cada esquina um ar tão romântico... Sinto sua falta.
Queria seguir o protocolo e te enviar uma primeira carta narrando cada milímetro da minha escolha, essa que desejo veementemente que culmine em uma carreira de sucesso e a mulher que amo do meu lado.
Amor, não entendo seus motivos, não entendo porque de um dia para o outro os sonhos tornaram-se pesadelos e não entendo porque você abdicou de tudo assim, tão fácil.
Sabe, eu não entendo como você desistiu de viver nossa história de amor, não por ser Paris ou pelo curso de dança ou por qualquer motivo. Não entendo como você abriu mão tão fácil do que era pra sempre em mim.
Durante algum tempo tive medo de que a verdade nua e crua fosse que era em mim, só isso. O sonho, o amor, tudo. Mas Paris me mostra você em detalhes, durmo, acordo, estudo, trabalho e o seu cheiro impregnado nas minhas mãos não sai ainda que eu as lave compulsivamente. Em cada milésimo eu penso em você. Em cada café sinto o seu gosto. Em cada livraria sinto sua falta. Em cada 'cada' eu penso que não poderia ser tão forte se fosse apenas em mim.
E a lembrança do seu rosto, do seu sorriso e do seu sotaque forçando um francês fofo me arremessam ao chão cheio de folhas mesmo, praticamente nu em meio ao vendaval. Nossas canções foram expulsas do som, mas elas não me deixam descansar a mente sem trazer você de volta.
Queria que tudo fosse mais simples e se resumisse em 'eu te amo' e 'você me ama'. Talvez o amor não exista ou resista. Mas algo me mata e quero muito morrer nos seus braços. O que é isso então? Me canso de analisar tudo e não consigo mais não sofrer os minutos pingando e me lembrando que em outro continente está o brilho de olhos que mais procuro. Paris é a cidade luz e eu procuro uma sombra que não está passeando por aqui.
É uma carta estranha, eu sei. E estranho mesmo é o fato de que eu não consigo te esquecer, ainda que pense que você desistiu de tudo e de mim, ainda que olhe ao redor e veja o meu futuro me esperando.
Eu assistia você dormindo e acreditava que ali naquele universo de sonho você era ainda mais encantadora, quase sempre sorrindo. E agora eu peço ao vento pra voar longe e trazer você pra mim, porque quando eu durmo não é suficiente a sua presença.
Por dias eu quero largar tudo e ir atrás de você, e Paris me olha de soslaio e eu entendo que escolhas não podem ser largadas assim.
Estou aqui e você não, mas sabe amor, não te deixo assim tão fácil.
A França, o Brasil, o mundo, tudo é bem pequeno se a gente olha de longe. E mesmo que você leia tudo isso, me ache louco e rasgue, eu vou voltar.
Eu vou voltar para você, porque você é a parte que me cabe desse Universo pequeno. Paris pode até não contar nossa história de amor, isso não a tornará menor, amores são amores, onde quer que estejam.
Sou seu.

Miguel.

(O Miguel e a Lívia são personagens do romance escrito por mim,  'Meus Pijamas em Paris?!', publicado pela Editora Biblioteca 24 Horas. As vendas por enquanto estão disponíveis apenas pela internet, aqui. Essa carta não é parte da obra, é apenas um conto que escrevi para a Edição Musical do Projeto Bloínquês. Mais detalhes do livro serão expostos em breve!)




Das leituras que faço - Dia 13



Dia 12) Se pudesse trocar de lugar com um personagem, qual seria?

Os primeiros pensamentos me mostraram Hermione... Depois voaram para Doroth do Mágico de Oz ou a Rosa do Pequeno Príncipe... E me veio um fragmento do livro Dom Casmurro:
"Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira (...) do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada."
Capitu.
A personagem mais marcante de Machado de Assis, a que faz a dúvida de uma traição reinar até os dias de hoje sem resposta exata.
Li Dom Casmurro pela primeira vez com 13 anos e foi em vão, achei o livro enfadonho, não consegui compreender a história direito, mas desde aquela primeira leitura amei Capitu. Eu suspirava com as descrições dela, com o jeito que ela dominava Bentinho com o olhar. Capitolina foi certamente um dos exemplos femininos mais fortes que moldaram minha personalidade.
Na faculdade fiz um estudo sobre ela, comparando-na com Desdemona do Shakespeare. Quanto mais estudava sua história, mais me encantava pelas metáforas da obra. Quando a série global começou fiquei com medo de me frustrar e na verdade me encantei com as interpretações.
Por que ser Capitu? Eu queria viver a história de amor dela, bem além disso, eu queria viver a história de desamor dela, queria ver Bentinho morrer de ciúmes e covarde que só ele, não ter a coragem de me olhar nos olhos. Queria ser Capitu pela natureza misteriosa que eu nunca soube ter, e principalmente para tentar provar o meu ponto de vista em relação à história, o de que a traição nunca existiu.
Ela teve um fim triste e solitário, queria poder mudar isso (embora a obra se alteraria totalmente se houvesse outro final) ou apenas para deixar o olhar pousar no mar e ser parte daquilo, da ressaca de um oceano de vida silenciada.

'Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética par dizer o que foram aqueles olhos de Capitu'

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dos que me assistem - Três Vezes Amor


- Pai, não acredito que você bebia, fumava e dormia com todo mundo... Mas mesmo assim eu te amo.

Em matéria de comédia romântica sou uma chata. A história tem que ter foco, não pode se ater ao clichê, precisa de elenco e cenário cativante... Enfim, assisto quase todas, mas não são nem metade que me fazem querer ter em casa.
'Três Vezes Amor' conseguiu isso, o filme despertou algo tão nobre aqui dentro, talvez a inocência da pequena Maya que desejava reatar o casamento dos pais, ou ainda a ilusão política do personagem principal que se perde com o tempo, ou simplesmente o chavão ultra verdadeiro de que o amor é isso aí, um chute no escuro, definitivamente talvez.
Já nas primeiras cenas soube que riria bastante, mas a comédia não reina, é uma 'história de amor de mistério'.
Will está se divorciando e duas vezes por semana passa as noites com a filha Maya. Em uma dessas noites a menina insistente pede ao pai para lhe contar a história de como conhecera a antiga esposa. Will então narra para a filha seus três amores e desamores. 
O filme poderia ser só isso e já levaria um elogio, mas o elenco é perfeito e os personagens têm seus estilos que acabam influenciando o modo como nós enxergamos o mundo. Todos nós já tivemos um amor inocente, um amor insano e um amor maduro, se alguém estacionou em um deles sem experimentar os outros, espere e verá.
Não bastassem os três romances, Maya nos cativa do início ao fim (filmes com criança fazem meus olhos brilharem), suas falas, modos e biquinhos, é a dona do filme! O carinho que ela tem pelo pai, o desejo de vê-lo feliz mais até do que vê-lo de volta ao casamento, tudo nela fazia com que eu quisesse que o mistério se resolvesse logo.
Para mim a maior lição do filme é que o amor é assim, a gente se prepara, compra o anel e quando vê, ele puxou o tapete, deixou a bagunça pra trás e foi embora. Ninguém pode impedir um amor perfeito de não acontecer, mas todos nós podemos, ao menos uma vez na vida ter a chance de voltar atrás.
Nem o sim é para sempre. Definitivamente, talvez.



Ficha técnica e dados essenciais:

Nome: Três Vezes Amor (Definitely, Maybe) - 2008 [jurava que era mais recente]
Estrelando: Ryan Reynolds (A Proposta - cada dia mais galã do gênero), Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine - crescidinha e bem mais magra, mas com o mesmo encanto de sempre!), Isla Fisher (Delírios de Consumo de Becky Bloom), Rachel Weisz (O Jardineiro Fiel).
Classificação: 5 estrelas (entrou para a lista das comédias românticas favoritas!)
Assista com: Assisti sozinha e com o namorado, a segunda opção é recomendada. Cuidado apenas com as cenas que causam lágrimas, eles costumam abusar depois...
Preste atenção em: Maya, a pequena encantadora! Vale prestar atenção também nos perfis das três personagens do filme e tentar se enquadrar pra ver qual seu tipo... Dá para fazer apostinha de quem foi a escolhida do Will e é a mãe... O filme ainda tem o desenrolar político de uma geração, para quem curte é uma boa opção acompanhar a evolução do personagem principal como pessoa e sua relação com o mundo político, quanto mais ele amadurecia, menos iludido ficava.

Permita-se encantar e conte que ainda dá tempo de correr atrás de um amor, se é o que está faltando!
Bom filme e feliz dia das crianças!

Das leituras que faço - Dia 12



Dia 12) Se pudesse conhecer um lugar/mundo que só existe nos livros, qual seria?

A minha primeira resposta foi Hogwarts! Todo Pottermaníaco que se preze já sonhou andar no castelo, até mesmo visitar as masmorras, conhecer a floresta (embora eu tenha absoluto pavor de aranhas!), falar com quadros quase vivos, ficar tonto com o movimento das escadas e se encantar com o teto do salão principal. Mas tanta gente já falou de lá que acabei optando por outro.
Alguém já ouviu falar no Asteroide B-612?
Já falei aqui da minha paixão pelo Pequeno Príncipe, eu adoraria conhecer o seu lar, puxar a cadeira um pouco mais para trás e assistir um pôr-do-Sol atrás do outro, ajudá-lo a combater a praga dos baobás, experimentar um café feito em um bule aquecido no vulcão, e lógico, conhecer a Rosa. A Rosa dele, vermelha e dona da razão. Quem sabe eu me sentiria mais em casa lá?
Existem outros mundos fantásticos que me encantam e mereciam uma visitinha, com o maior prazer do mundo, a Terra do Nunca (se a Sininho me permitisse apertar as bochechas dela seria melhor ainda), Nárnia (já tentei entrar pelo guarda-roupa, em vão), O Mundo de Oz (vai ver o Mágico resolveria o conflito eterno entre coração-cérebro, eu que sou uma mulher da lata espantalha), o circo da época dos Irmãos Benzini (do livro Água para Elefantes), a Terra Média do Senhor dos Anéis...
Só que de todos os lugares, somente Hogwarts e o Asteroide B-612 me trazem a sensação de lar, haveria a possibilidade de ser uma princesa bruxa?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Da metade inteira


'E todo o abandono que eu sentia
Vai passar'

O frio ainda existia dentro de mim, bem mais do que externamente. As folhas enfeitavam o chão e aquele cenário parecia ter sido roubado de um filme americano em que o mocinho sempre salva tudo, aparecendo no final com um lindo ramo de flores campestres.
Mas não era a sua ausência que trazia o frio, eu não esperava por você, pela primeira vez em muito tempo, talvez até pela primeira vez na vida eu não esperava por ninguém.
Não havia necessidade de fixar os olhos no caminho, eu era o caminho agora, as minhas decisões, os meus receios e até os meus tombos. Decidira amar irremediavelmente mais uma vez, só que com o pouco de sensatez que sobrara daquela conversa derradeira eu olhei no fundo dos meus olhos e vi que eles brilhavam sozinhos também. Eles ainda tinham aquela cor que combinava bem com o outono lá fora, e se as árvores sobreviviam sem as folhas caídas, eu saberia encher tudo de vida outra vez.
Dizem que nós fazemos nossas escolhas antes mesmo de chegar na encruzilhada, eu não gostava dessas frases de senso comum, mas você escolheu me oferecer apenas uma chance desde o princípio, a de pular do trem. 
Era charmoso ver como seu humor se alterava diariamente, era encantador ter o desafio de te conquistar todo o tempo, de viver na linha, tentando não cambalear e atrapalhar o equilíbrio ensaiado. Até que tudo ruía e você fazia com que eu me sentisse um pedaço de nada, um nada inteiro era muito perto do que você colocava.
Todo o nosso amor desencatado, sem fadas madrinhas e sem felizes para sempre foi me cansando. Sabe, não te culpo. Quando a gente tem o caos por dentro não consegue oferecer paz pro outro. Triste é que eu não te pedia paz, eu já tinha isso pra mim, mas não sabia como te dar esse pouquinho de Sol da manhã sem que tivesse medo ao ver seus olhos abrirem. Eu desaprendi a conviver com a insegurança emocional porque, sabe Deus como, havia conquistado a minha estabilidade. Eu queria só que você fosse simples, jamais desejei perfeição.
Era amor e desamor demais para que eu fosse capaz de conceptualizar, sempre tive problemas com palavras opostas, gostava mesmo era dos sinônimos.
E amor não era. Tinha lido Caio Fernando demais ou assistido todas aquelas comédias românticas que você abusava. Eu tinha sido criada de outra forma. Tinha sido gente um dia e gente é querida.
Não me cabia desejar algo que me fazia mal, desculpe se pulei do barco, se disse não e te assombrei. Podia ter sido pior, podia ter jogado na cara, ter batido a porta ou rasgado o verbo. Mas eu apenas fugi.
Você pode estar em qualquer lugar acreditando que sou o que você quiser, fugir dá um ar de covardia para a coisa. Eu sinto o cheiro da liberdade, e ainda que não saiba ao certo, liberdade e covardia cheiram diferente.
O campo está lindo e eu não gostaria que você estivesse aqui para partilhar comigo essa memória. Me basta os pássaros, a grama, as folhas e todos os outros que passam por aqui. Deixe que eu me baste, porque tocar a própria mão e se deliciar por sentir a força necessária vinda dali é bárbaro.

Ao som de: As ruas de Outono - Ana Carolina
Texto para a edição visual do Projeto Bloínquês.

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