segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Do que não brilha mas é Sol em mim


Olá Amor,
Às vezes eu queria tanto que houvessem histórias maravilhosas para te contar. Aquelas coisas grandiosas de quando a gente ficava por horas ou minutos ou eternidades sentados rindo de quanto éramos ingênuos. Você ainda tem aquele jeito de espremer os olhos quando sorri? Eu ainda tenho a risada incompleta, aquele momento em que pego ar e nada mais sai. As coisas andam meio tímidas dentro de mim, nunca imaginei que isso aconteceria.
Sinto sua falta, não deveria dizer mais isso, quantas vezes foram necessárias para que eu parasse de reparar nossa foto e eu aqui novamente espalhando a verdade que me fiz calar. Não queria sentir nada, acredita? Mas não sentir implicaria não ter experimentado tanta coisa boa com você, então é mais uma questão incoerente dentro de mim, você não tem ideia de quantas já são.
Quando eu era criança e olhava para o céu lá da roça nos dias de férias e acabava sempre confundindo estrelas e vaga lumes. Coisa besta que só criança sabe fazer. Eu pensei amor, eu juro que pensei que eu tinha aprendido a diferenciar tudo que era celeste. Milhares de vezes eu fiz pedidos para os bichinhos piscantes, nem tudo que reluz é ouro, já dizia o bardo não é? Pois é amor, eu nunca pensei que grande como eu era conseguiria confundir minha estrela. Talvez eu tenha perdido alguma lição importante no caminho de volta pra casa, mas me diz como fui capaz de achar que você era passageiro? Eu vi o quanto você me encantava e no medo insano não quis arriscar, vai ver a luz se apagava fácil.
Bem, cientistas de plantão assumem que nem as estrelas brilham para sempre, mas a verdade é amor que você era muito mais que luz de vaga lume. Eu trocaria todos os desejos realizados por ver você brilhar pra mim outra vez, o seu sorriso de menino bobo, o jeito que eu considerava seus movimentos tentando decorar uma cadência que fizesse sentido. E eu olho para o céu todas as noites, incansáveis noites, ainda que chova. E nada mais brilha.
E sabe, as canções não são mais as mesmas e ainda assim elas me trazem você. O espaço aí é outro e eu ainda queria que você fosse meu a ponto de não conseguir soltar minha mão em dias de frio. Eu ainda te quero tanto que quase dói algum órgão que deveria ser retirado.
Não assumo, faço birra, teimo em vão. É você que eu espero descer as escadas sempre que escuto passos, é seu nome que vibra na mente junto com o celular avisando uma nova mensagem. É só você que eu nunca deveria ter perdido amor.
Quando eu me olho no espelho as perguntas surgem com tanta convicção que eu ainda espero resposta. Espero que alguém me diga que vale a cicatriz fina, espero que meus olhos sejam alegres e sorriam de volta pra mim, eu espero ouvir sussurrado de dentro de mim que a gente vai ter tempo de sobra pra olhar o céu juntos e você, porque é você quem precisa me mostrar o mundo, é você que eu preciso que mostre, você virá e me dirá que estrela brilha muito mais quando está escuro.
Agora está.


(Ao som de Skank - Resposta)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Da que faz nascer sorrisos



Como pode alguém ler Clarice e ser tão leve?
Ela tem olhos de vento, aqueles olhos que a gente se encanta, que sorriem e fogem pra longe deixando a sensação de que sinceridade não carece de tempo pra certeza.
Ela faz com que a gente se sinta bobo por querer um abraço no meio de uma gargalhada, e a gente vai seguindo descobrindo borboletas que dão sorte, canções que marcam, banquinhos que eternizam coisas boas. Ela tem é o dom de tornar concreto as coisas mais especiais que quase sempre são abstratas, porque ela toca.
É uma menina boneca de pano, é daquelas que nunca serão 'pessoas grandes', que sempre tentarão buscar carneiros em planetas voando de carona com pássaros. Ela voa.
Ninguém faz com que eu pense mais, com que procure mais respostas.
É o jeito como ela 'bem' faz as coisas, ou talvez seja afinidade ou vai saber o nome, nomes deixam de ter valor, coisas assim não.
Era uma vez uma rosa que não gostava de redomas porque o fato do vento atrapalhar o penteado era bom. Era uma vez uma princesa que voava e que visitava pessoas perdidas em desertos, cativava raposas e fazia com que horas iguais tivessem um significado mais real.
Ela rouba minhas palavras, ficam todas com medo de serem bobas, coisa tola isso de não saber dizer que gosta. Chego até a não saber o que desejar porque queria criar termos só para isso, criar carneiros pra combater todos os baobás imaginários que pudessem surgir e tomar espaço de pensamento bom, plantar árvores que dessem frutos de chocolate preto e branco com surpresa por dentro, encher um jardim de banquinhos com dispositivos que tocassem canções todas as vezes que a gente ficasse sem ter o que dizer porque as teorias já diziam em silêncio que a gente sabia de tudo.
Eu sempre sei quando você me ensina.
A forma como você acredita em mim, como sorri com cada vitória, ainda que as mais bobas, o jeito como demonstra um afeto tão puro e bom e que é aquele jeito só seu. Tudo indica que as coisas ficarão piores com as palavras, ou ficarei sem elas ou a pieguice me dominará.
E se fosse preciso eu prenderia todos do FBI para que ela continuasse tendo séries, eu faria Marisa Monte dar shows particulares, eu encheria todos os dias de Sol e algumas noites de frio e cobertor quentinho. Se fosse possível eu nunca erraria com ela e me desculparia sempre que pudesse, mesmo sem errar, para o caso dela se esquecer que eu posso falhar vez ou outra. Possível fosse eu transcrevia tudo que ela faz com que eu queira fazer, porque amizade é coisa tão boa de sentir, reciprocidade, vontade de ver o outro bem.
Nem só do que é possível se faz uma festa, então hoje, porque é o seu dia, mil cores vão encher sua sacada, canções tocarão só pra você, amigos mandarão o que de melhor têm, mensagens chegarão, teorias terão exceções, o mundo será um lugar mais sustentável, kinder ovo vai custar um real e tudo que for bom vai chegar até você num abraço forte que te mando, por aqui.
Esteja feliz, já que ser é um verbo que implica tempo demais. Esteja feliz a ponto da gente quase conseguir acreditar que é, sabe aquele sorriso bobo e o bater de mãos? Bem, agora eles vão pra você.
Eu sou terrível e não sei colocar em letras o tanto que você é especial para mim, faça como sempre faz tão bem, leia meu silêncio e entenda que você é.
É demais.
Mesmo mesmo.
Obrigada por tudo.
Feliz cinco de fevereiro boneca da pano.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Do que se aprende


"Será que ela é triste?
Será que é contrário?
E se ela só decora o seu papel?"

Eu sempre soube o que seria, mas você me fez querer ser mais. A menina que eu era você fez morrer e longe de matar tudo que fui um dia, aquela primeira morte em um teatro velho de cidade de interior fez brotar passos firmes.
Você merece uma explicação do início. Vamos por partes então.
Num primeiro momento eu te amei de longe, eu imagina figurações em que eu poderia aparecer e você me tomaria pela mão e seríamos felizes para sempre brincando de mudar o cenário. Eu te amei porque você trazia o brilho, você tinha o dom de ser o que quisesse, quem quisesse. Mais tarde eu entendi que na verdade você não era o melhor ilusionista. 
Talvez tenha sido culpa da vida, mas haveria modo de não me encantar? Você sorria e você chegou aqui, bem aqui onde eu estava! Menina que era acreditei que o destino me dava uma força, que ele queria mesmo que eu fosse a sua princesa dos contos. Acreditei que a gente seria um casal famoso, que tapetes vermelhos viriam, que a nossa vida seria exemplo. Eu acreditei que você me salvaria.
Sabe querido, em muitos aspectos você me salvou mesmo, estão aqui as minhas palavras para você, não estão? Você me conheceu o suficiente para saber que não dispenso vocábulo ao vento. Falo porque no fundo seu amor foi a coisa mais próxima de real que vivi durante a interpretação nada boa dessa minha vida. Merecíamos um Oscar.
Ainda perco o foco, como pode ver... Estávamos no teatro, eu e quase todas as meninas daquela cidadezinha. Seria capaz de sentir e identificar cada detalhe de todos os rostos ali, a lembrança dos cabelos desgrenhados de adolescente, o perfume caro guardado para ocasiões mais que especiais e que não era gasto nem para ir à Igreja, a luz que entrava por um vidrilho quebrado e que me permitia enxergar os flocos de poeira daquele lugar velho. E você.
Você e seus olhos de trovão. Nunca disse isso não é? É uma metáfora absurda, por isso sempre te poupei dela. Eu tinha medo dos seus olhos mas era maior a atração. Eu queria ser a direção deles, eu queria que eles fossem mais lentos que a luz e que se demorassem em mim. Que assustadores eram, mas eu sempre sabia que ao notá-los o pior já havia passado.
Leríamos qualquer coisa e você selecionaria a sua favorita, a que ganharia o papel, sua nova parceira de ficção.
Com o destino embaixo do braço eu fui e você se encantou com tudo. Era tanto medo meu que vai ver algo tenha se convertido em trejeito de atriz. Você me quis.
Sinto falta de acreditar. Sinto falta de sair daquele teatro e ter a certeza de que você era o que de melhor havia, não importando carreira ou qualquer outra coisa que viesse.
Fomos um sucesso. Meu amor por você era tão forte que eu seria capaz de interpretar que éramos felizes, quem sabe mostrando aos outros conseguiria me convencer? E o pior é saber que eu poderia ter mentido por muito mais tempo, não fosse você mudar todos os planos. Não fosse você ir até outro teatro, em outra cidade, depois de todos esses anos, depois de todos os sorrisos que plantei por você, você encontrou outra menina. E depois outra. E sei que teria até mais outra, não fosse seu estado agora.
Você vai morrer querido e eu estou aqui ao seu lado. Não foi de mentira. Não foi por fama, por vontade de estar na frente com você. Foi porque eu quis o tempo todo que você enxergasse que por trás da atriz havia alguém. Eu estava ali. E estou agora.
E justo nesse momento eu não vejo a hora de lhe dizer aquilo tudo que eu decorei na primeira vez que você parando sobre mim os olhos tão meus me entregou um script: 'a melhor coisa que se pode aprender é amar, e em troca amado ser'.
Por favor, não morra, preciso te ensinar isso ainda.
(Ao som de Beatriz - Ana Carolina e Ando Meio Desligado - Pato Fu)
[Na foto a atriz Nicole Kidman. O texto acabou sendo uma carta dela direcionada ao ex-marido, Tom Cruise]
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