sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nuvem


Era uma vez uma princesa que morava num conto de bonecas e quando ela sorriu da primeira vez houve tanto Sol que ficou iluminado até o que era distante.
Minha menina que está fazendo vinte, essa idade que dá medo de ter porque dizem que traz tanta responsabilidade.
Que venha o melhor, que sopre o vento e bagunce o cabelo, que faça sorrir desse seu jeito bom que cativa pessoas de longe, que faz com que desejem estar próximas, bem próximas. A gente pode trabalhar pra que seja a melhor idade, mesmo vindo todo o terror de estar finalmente se tornando cada dia mais adulto, cada dia mais próximo da realização do futuro quando a gente ainda tem aquele pezinho enraizado num passado bom.
Era uma vez uma menina nuvem, porque sendo nuvem era leve feito passarinho e era água, água que era mar e rio e que cumpria seu ciclo tão lindo de renovar, de fazer viver o que tocasse. Tão cheia da matéria prima dos sonhos, quase feita de algodão doce.
Criança que eu fui e assistia Ursinhos Carinhosos eu sempre acreditei que um dia teria uma nuvem pra mim, a gente não pode duvidar do potencial de realização dos nossos sonhos de infância, olhe só que sorte, hoje tenho você.
Então que venha todo o Sol do mundo pra que te encha de luz, que venha o vento e traga pipas lindas, que o sorriso não se canse de inundar tudo e que quando for preciso, chova. É em chuva que brotam as sementes plantadas. Que você seja forte e tempestuosa, mesmo sendo assim tão linda e doce. Que alcance o que desejar e que nunca, nunquinha, deixe de morar no céu estrelado e ensolarado que é tudo ao mesmo tempo, esse céu que eu pinto todo dia.
Feliz aniversário, que os vinte venham pra trazer coisas lindas, que a idade de forma clichê traga o melhor, e que até o próximo aniversário você consiga se lembrar de que a força pra realizar o pedido quando a vela for soprada, a força mora aí dentro.
Amo você minha menina.



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Da razão das sem razões


Porque você me beijou.
Você se aproximou e rompeu com meu silêncio, com minha relutância por achar inapropriado o que de fato eu queria tanto. Você puxou o ar e eu fui junto, ou você veio e se fez ali, encostado em mim, minhas mãos que já pareciam estar ali na sua nuca sentindo que você tinha acabado de cortar o cabelo. 
Você me beijou e eu esqueci o tempo que não houvera isso, o tempo que eu respirava fundo pra tentar preencher o vazio do que se fazia sem você pra me desafiar a levantar os pés e ficar da sua altura.
Porque eu te beijei e então não notei que todos estavam lá, que havia lá, que havia alguma coisa além do que pulsava tão forte dentro de mim, como eu pude não notar que eu queria tanto estar ali de novo? Que eu quisera o tempo todo não insistir pra ser inteira pronta em você, no seu lábio sugando o meu?
Não era a música lá fora, era dentro da gente. De um jeito ridículo de tão bobo e infantil, parecido com filmes água com açúcar eu queria que chovesse porque eu queria sentir que minha pele estava numa temperatura insana porque sabe, ali estava a sua também.
Você me beijou e eu perdi o ar. Eu perdi o medo de fechar os olhos outra vez e apaguei da mente indícios de fogos de artifício em uma infância de pedidos em viradas do ano, eu não sentia mais a grade fria do portão, havia algo me segurando? Eu só podia sentir o cheiro da gente sendo tão feitos inteiros com um gesto tão simples, só podia notar que sua mão tinha um novo toque, ela estava mais dura, estava mais certa, ainda mais certa do poder de posse. Eu estava inteiramente ali sentindo você menosprezar com os lábios em movimento cada frase que eu deveria ter dito, cada imposição que deveria ter feito e agora não mais conseguiria ter sentido que bastasse pra dizer porque haveria verdade em mim ao afirmar que não queria? Se quando eu mais me encontrava no beijo. Se quando eu mais queria e poderia me deixar ficar e estava entregue?
Havia algo que eu queria tanto que não vinha espetando com gostinho bom da sua barba por fazer?
Eu queria sua força contida, o beijo esperado tanto tempo pra acontecer que a gente fingia ter delicadeza pra dar, queria suas mãos me puxando pra mais perto sendo que era impossível eu estar mais perto que ali, eu já estava lá, já estava. Eu queria que se findasse ou não, que durasse pra sempre porque não pensava o suficiente pra saber se o melhor era começarmos de novo a cada minuto ou prolongar meu encanto até não ter mais tempo de ter fim.
Porque você me beijou e eu voltei a ser gente, a não responder por mim, a não saber o que fazer, não ter certeza de mais nada a não ser de que eu passaria o que fosse preciso porque você me beijou.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Do Redemoinho



"Vem
Que a sede de amar
Me faz melhor."


Querido,
Você não está aqui mas em muito tempo não te sentia tão presente. É possível que eu esteja abrindo outra vez a janela, tirando a cortina e aceitando novamente correr os riscos?
Talvez eu devesse me manter desacreditada de paixões que nos fazem suspirar ao som de músicas que estão longe de serem minhas favoritas, mas me trazem você. Eu poderia fechar os olhos e cavar, poderia buscar por sofrimento, mas como se agora parte de mim parece não se lembrar exatamente dele?
Sorrio e passo de incoerente, você me bagunça e tumultua tudo em mim amor, faz ventar quando preciso de paz e veja bem, você me acalma quando eu estou completamente perdida no meio do mar que fica dentro de mim. Você faz alguma coisa comigo que não sei dizer o que é e não saber direito me assusta tanto, você sabe disso. Estou me permitindo passar por cima dos meus medos porque quando você se aproxima e respira próximo demais ao meu pescoço parece sugar todo o oxigênio de dentro de mim e não sei mais o que mora em meu sangue e faz a cabeça girar nesse nível. Algo parece mais fácil. Mais leve.
Não sou de paixões e olhe, mire e veja, meus olhos te seguem a ponto de me fazerem teimar com os outros que não, que tudo é normal, que não existe isso, que não te quero pra mim esse tanto, que tenho o controle.
Fico na esperança de que negando me convença que te querer é comum, de que feito assim seja mais fácil. Você faz com que eu me desligue, com que deseje fugir mesmo amando tanto tudo isso aqui, com que eu sorria da vida. Me pego brincando com seus dedos finos, você deitado no meu colo eu perdendo a linha mexendo no seu cabeço, meu menino.
De lealdade mútua a gente se cala, mas escrito está na expressão. Não sei se podia te querer, quem é que pode dizer o que é certo ou errado nesse ramo? Mas eu quero, quero até a bagunça que vem junto, o vento que descabela, o coração que não sei mais manter quieto, as mãos que se agitam quando pensam que você está próximo, já está ali, vindo pra mim.
Quero a sintonia que a gente tem, a vontade de te abraçar forte e depois ir dormir com seu perfume em mim, o seu beijo que me morde o lábio inferior e não sei mais se me pertenço depois.
Venha. Traga suas palavras e questionamentos, acabe com meu silêncio. Faça sujeira na minha exatidão, espalhe as roupas, pregue suspiros nas minhas paredes lisas de quem sempre achou que de paixão não se perecia.
Venha porque te espero e hoje entendo que em se tratando de sentimento é sempre bem mais que por obrigação. Traga o caos e venha logo, com paixão.




(Ao som de Como Vai Você - Daniela Mercury e Você me Bagunça - O Teatro Mágico)
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