quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Do que se tem


"Eu e você descobrimos a pólvora
A diferença nos faz tão bem.
Eu e você já moramos no mesmo céu,
Nossas estrelas combinam"

Ah coração, amizade é o quê mesmo?
Bem, sendo um conceito abstrato eu vou procurar uma boa metáfora pra ela... Diferente do amor que é 'uma coisa estragada que a gente não consegue jogar fora', a amizade é um pedaço de coisas estranhas juntas dentro de um caleidoscópio, é a junção de sensações boas mas inomeáveis, de lágrimas e suspiros, de apertos de mãos e braços dados, de sonhos compartilhados e abraços de despedida. Amizade é quando a gente sabe-se completo no outro, diferente de amor que traz tensão porque é rio que corre em velocidades diversas. Amizade é uma lagoazinha de água limpa que a gente atira pedrinhas brancas para ver as ondas que formam. É crescimento, pouco a pouco, lado a lado. É defender o amigo estando ele errado ou não, e dar conselhos que não segue, é vivenciar loucuras.
Amizade, como já bem disse Mario Quintana, é o amor sem asas. Não porque não saiba voar, mas porque de tão leve a alma voa de lembrar coisas lindas e boas, num jeito Peter Pan, vai voando sem sombra, para um lugar onde não há contagem de tempo porque para bons amigos não existe números exatos que indicam tempo, distância, essas coisas fatídicas e chatas de adultos comuns.
Amigos sabem-se sempre crianças.
Amigos sabem-se.
E de verdade, saber-se amigo basta para saber-se feliz.


Encontrei esse texto hoje em um email para uma grande amiga, anos atrás. Fez tanto sentido que precisei dizer tudo isso novamente.
Sendo eu essa pessoa tão estranha e de pensamentos tão múltiplos, não há felicidade maior que olhar e ver a reciprocidade, que calar e entender, que pedir e entender que algumas coisas sempre nos pertenceram antes mesmo de chegar a nossas mãos. Eu tenho os amigos mais especiais do mundo, porque são defeituosos como eu, gostam de coisas estranhas e fazem com que eu não me sinta tão normal, que eu me sinta apenas bem. É o que basta.

(Ao som de: Paisagem - Luiza Possi)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Descautelosamente


"E esse imenso e desmedido amor
Vai além de 'seja o que for'"

A manhã tinha gosto de chá quando começa a esfriar, aquela textura boa de chocolate começando a derreter em banho maria. Tinha uma cor tão linda como a cor que ela via nele, uma cor de vermelho desbotante e laranja sol se pondo. Cor de vida.
Pouco importava se ela estava indo na direção contrária ao que haviam escrito, destino cada um faz o seu, ela que rabiscasse e ousasse querer desmanchar algumas linhas depois.
Não era só porque era verão, era porque ela estava a frente daquela juventude dos anos 30, ela não era dali, não sabia-se de onde, mas essa certeza tinha.
Haviam os planos dos pais, o casamento com aquele moço bonito que voltou da guerra quase rico suficiente para sustentar toda a família, mas havia algo mais?
Haveria a partir daquele momento uma história de uma noite que foi diferente de todas as que as amigas contariam, uma noite que os pais classificariam como sua ruína e que ela contaria aos filhos cheia de orgulho por ter sido se não a melhor pra sempre, apenas aquela que foi única.
O vento da manhã fazia com que ela quisesse tomar o caminho de volta, mas então não seria mais perfeito.
Ela caminhava para casa onde toda a população talvez já estivesse esperando por ela, onde ela entraria com o ar de felicidade tão forte que quase ninguém ousaria questionar.
Uma vez na vida ela desistiu de ter cautela, ela quis arriscar quebrar a cara por prazer ou por desejo insano de experimentar algo novo e uma vez na vida ela foi feliz de um jeito que até assustava, ela que quase nunca se assustava.
Quando a manhã chegou e ela soube que teria de ir embora abraçou com força o pedaço de sonho realizado, pegou a velha bicicleta que seria eternizada como relíquia de santuário e pedalou sorridente até o destino que cumpriria ou não, naquele instante não fazia mais diferença.

(Ao som de: Linha do Equador - Djavan)
Texto para a 55ª edição visual do Bloínquês

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Difícil é a gente explicar


'Bom mesmo é a gente encontrar
Um bom amigo!'

Ter amigo é como ir até a lua todos os dias, você se inunda de uma beleza que todo mundo comunga e experimenta, mas cada um de um modo único.
É sentir que com algumas pessoas o papo flui sem medo de mágoa ou decepção, sendo você e sendo feliz do melhor modo que tem, na simplicidade.
Ter amigo é saber que quando choverem lágrimas e a pressão dentro do peito explodir, você terá alguém pra aliviar o pranto e te contar coisas engraçadas para te fazer rir.
Hoje em grande parte do hemisfério norte se comemora o 'Valentine's Day', em que namorados e amigos trocam cartões, expondo seus sentimentos.
Eu não faria isso em outra data, sou uma pessoa muito discreta...
Mas por meus amigos, esses que são antigos e que sempre estiveram ao meu lado e esses que chegaram faz pouco mas já têm cadeira cativa, ah, eu tenho que dizer alguma coisa.
Deve ser obrigada.
Eu sou mais feliz com vocês, comprovado cientificamente. E também fisicamente toda vez que a janelinha sobe no msn. Toda vez que você aperta minha mão e me conta alguma coisa. Toda vez que a gente vai tomar sorvete. Toda vez que eu visito posts antigos e vejo comentários seus. Toda vez que a gente senta na pracinha. Toda vez que passa horas falando sobre tudo ou nada. Toda vez que por sms você faz com que eu me sinta importante para você. Toda vez que a gente senta e relembra coisas antigas. Toda vez que eu vou arrumar meu mural e faço questão da nossa foto. 
Tão diferentes e com tantos pontos em comum? Como é possível?
Obrigada porque eu sou melhor com vocês, até no meu pior.
Eu sempre vou querer acertar mais por vocês, porque errar pode significar machucar alguém importante. Eu vou querer enriquecer e lançar meus livros para que vocês sejam convidados para festas de lançamentos e se sintam globais. Eu vou fazer o possível para que você não se esqueça do quanto é importante para mim, nem que para isso eu corra o tremendo risco de parecer ainda mais clichê e piegas do que sou.
Eu poderia ser feliz sozinha, mas eu quero ser feliz com a sua companhia.
Porque ela me faz bem e eu preciso retribuir de algum jeito.
Não tenho um milhão de amigos e nem quero ter, mas eu poderia cantar bem forte o quanto você me faz feliz.
E o quanto eu gostaria mesmo de te dar um abraço apertado agora, de ver seus olhos brilharem e seu sorriso se abrir.
Se eu tenho motivos para comemorar, você é parte deles.
Obrigada, obrigadíssima.
Happy Valentine's Day!





quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Serotonina




'Você me faz
Correr atrás 
Do horizonte dessa Highway'

Sem habitação mas com uma habilidade sem fim de se meter em problemas, ela ia aos tropeços seguindo rotas incertas pra chegar em lugares não prometidos.
Diziam os vizinhos que era o amor pelo vento batendo no rosto, o pai arriscava que deveria ter sido algo ainda na barriga, mas ela sabia lá dentro onde existem as perguntas que era só ela mesmo, afim de tirar a essência e brincar com os olhos fechados de cabra-cega com a vida.
Perseguir algo que não se sabe o quê.
Brigava pra ser feliz, teimava em não dar explicação do sorriso insistente até em dias de nuvens altas e cinzas e cruéis. Sua previsão do tempo tinha estragado em um dia ensolarado.

(Ao som de: Infinita Highway - Engenheiros do Hawaii)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Des-leal



'É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte'


Não é necessário, mas eu sinto que é preciso e isso até me faz lembrar como você dizia que eu era incoerente.
É como as cinzas velhas de um incenso que a gente joga ao vento fazendo pedidos que vá longe e alcance mundos diversos.
Jogo hoje as palavras de liberdade que senti ontem ao ver o seu olhar indiferente.
Como eu já odiei sua indiferença, como ela já me fez mal, me fez sofrer e me fez sentir pena de mim.
Ontem ela me fez apenas entender que era o mesmo olhar que eu te dava.
E eu procurei com força, tateando por todo o corpo o local daquela velha cicatriz, não achei. O colágeno de novas amizades e de gente que me faz tão bem sumiu com marcas de um inverno ruim.
E eu senti tanta pena do que foi e não é mais, uma pena triste mesmo por me lembrar de quantas vezes passei por cima de pessoas que amava por acreditar que valeria a pena, por você, mil vezes.
Não mais.
Você matou tudo, ou morreu por tempo e descuido mesmo, vai saber.
Não foram as milhares de queixas e indiretas, nem o perfeccionismo que eu me exigia quando se tratava de você.
Foi seu medo idiota de se assumir como alguém normal, que comete erros e dá a cara a tapa.
Não gosto de gente que mente pra esconder sonhos ainda não realizados.
Uma vez eu disse com tanta certeza que você seria um exemplo a seguir e hoje eu vejo que o que eu quero ser é tão além disso tudo.
Eu quero ser como aquela que sonhou e teve cautela sim, mas que não desistiu e sei que não desistiria se não conseguisse.
Se frustrar não é perder, é ter vergonha do que é de fato.
Não se preocupe, eu não vou mais pedir desculpas, não vou tentar me justificar mil vezes explicando o modo como penso ou executo meus pensamentos. Incoerente ou não ando bem satisfeita com o que sou e o que pretendo ser para ficar dando explicações.
Calma, não vou pedir que me aceite também, descobri que não o tipo de coisa que se pede, aceitação é mútua, ela existe e pronto.
Tudo isso é para dizer pra mim mesma que por mais que eu pense às vezes que tudo é um ciclo, algumas rodas gigantes tornam-se cansativas com o passar do tempo. Eu me cansei de tanto subir e descer atrás de estar entre os seus.
Quero carrinho bate-bate agora, quero segurar o volante e dar de cara com o novo sem medo algum de estar errada ou certa.
Obrigada por tudo que foi. Não é justo dizer que não aprendi, seria hipocrisia.
Mas agora quero lições em outra voz, em um tom mais ameno e mais disposto a me mostrar que é como sou, só mais um tentando aprender a realizar sonhos.
Agora eu quero me lembrar que leal eu sempre fui, embora você muitas vezes tenha duvidado disso, mas não serei mais.
Pense que serei apenas uma pessoa comum, daquele jeito que você muitas vezes já me avaliou mesmo. E pense que você agora responde do mesmo modo em mim, finalmente um pouco de reciprocidade.




(Ao som de: Boa Sorte - Vanessa da Mata e Ben Harper)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O medo que caminha com a força



'Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando um violão debaixo do braço'


Felicidade pode ter cheiro de coisa antiga ou nova, depende mais do seu olfato do que dela mesmo, pode acreditar.
É como aquela casquinha que secou e deixou uma cicatriz bem clarinha e você olhando pra ela enxerga a dor quando na verdade deveria se lembrar que por distração de amor ela aconteceu.
A gente sempre sabe até onde as pernas vão, mas insiste pelo fundo, porque vai ver lá encontra água pra saciar tanta coisa boba, afunda o coração e deixa ele quase perder o fôlego, antes de trazer até a superfície novamente.
O ser humano escolhe quase toda dor que sente, deve ter sido alguém lá do passado que disse que o sofrimento leva além e a gente quer mesmo ir lá, além, sempre além.
Não existe transformação sem dor, conquista sem sofrimento, alegria sem sombra.
Porque se assim o fosse, a gente nem valor ia dar.
É como ser feliz sozinho, é legal, mas falta algo.
A gente na teima faz perguntas que já sabe as respostas, mas precisa do movimento empurrando pra frente, ainda que nem sempre queiramos ir. Defeito de fábrica? Talvez esse não seja, seja herança genética de um povo que teve que evoluir muito pra ser superior aos outros da natureza, aqueles tão donos de instintos muito mais evoluídos.
Dá pra pensar é que quando for Sol é pra aproveitar, mesmo sabendo que nem todos os dias serão assim. E quando for chuva é pra aproveitar, porque ela faz brotar e renova o ciclo. E quando for inverno é pra calar e deixar o silêncio dizer suas verdades, e no verão é pra gritar e sorrir com os amigos.
E já me disse alguém que não me lembro que quando a vida oferecer um limão não é pra fazer limonada, de clichê basta as nossas pseudo-filosofias pagãs, se te derem um limão inove e invente, pingue na coca, tempere a carne, faça uma caipirinha. Mas não siga um caminho já traçado.
Melhor é tropeçar no seu próprio caminho cheio de pedras do que ir por um que já foi limpo por outras mãos. E se doer, deixa sangrar, e se o sangue não parar mais de sair, chore. E chorar inundar a terra, deixe.
Cicatriz é um jeito do corpo te dizer que ele aguenta, vale a pena, não tenha medo.
No fim você vai olhar pra ela e poderá sorrir imaginando que se tivesse parado antes, talvez não tivesse aprendido aquela lição preciosa.


(Ao som de: Diz que eu fui por aí - Fernanda Takai)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Pingos que são tsunamis


'Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu'

A chuva começava a se formar e Ana Terra lá longe quase conseguia enxergar as gotículas começando a cair, numa renovação daquele ciclo precioso.
Tão parecido com a vida.
Tirando o tênis ela plantou os pés no chão como foi possível ali naquele pedacinho tão mínimo de terra e esperou a chuva cair pra molhar e dizer que tudo se renovava, trazia energia nova, fazia fluir o bem.
Ser ultra-pensante que era nem quis filosofar, tentou não pensar em teorias, tateou de olhos fechados o vento e sorriu dizendo o quanto era bem vindo o vendaval.
Que o vento levasse embora o que não tivesse raízes, que limpasse o quintal e a porta da frente da sua alma, e que a chuva fizesse brotar tudo que fosse semente de algo bonito e sólido e puro.
De nariz empinado e com as mãos abertas ela recebeu as preces do mundo inteiro, ela agradeceu naquele silêncio de quem conversa com Deus bem segredado e ela sentiu, pensou, até teorizou sobre toda aquela leveza de pipa feita de pluma dentro dela.
Haveriam de pensar que ela era louca por pensar tudo aquilo, mas a loucura de uns era a sabedoria diante de quem realmente importava.
E que pensassem, pensar era movimentar a alma, e já era alguma coisa pra não deixar tudo virar limo.
Que os ciclos tivessem sempre força para se renovar e que ela, bichinho questiona-dor, questionasse mesmo tudo até tirar o pó de pirlimpim da vida e descobrir o bem para compartilhar, re-ciclar, sempre e sempre.
E a chuva chegou e jogou sobre ela a água já sedenta por fertilizar.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Moinho




Talvez se você olhar superficialmente para ela verá uma menina delicada e acreditará que isso é tudo.
Mas não é, nunca é tudo ao primeiro olhar.
Ela tem uma força que você vai descobrir aos poucos, tem as mãos sempre tão vivas e os olhos pulsantes. Aqueles olhos de folha descobrindo caminhos novos ao se desprender do galho.
Ela voa, o pensamento é o que a move e haja combustível!
Barquinhos a vela vão até a Índia, voltam para infâncias e pescarias, trazem tsunamis e de repente você não enxerga mais a timidez aparente.
Da família das bonecas, mas de pano, tecido simples e tão nobre, costurado à mão e cheio de afeto por dentro, cheia de cautela e doçura.
E sinceridade.
Tão complexo entender como habitam tantas contradições dentro de um espaço tão meigo, mas lá mora a força e a delicadeza, a sinceridade e a cautela, a razão e a emoção.
Tem razão não ter mesmo mais palavras pra dizer a ela ou sobre ela.
Ainda bem que eu tenho muitas teorias e que o silêncio quando reina diz palavras de confiança.
Ainda bem que o ano começou tão bem.


Feliz vinte, feliz todos os anos daqui pra frente, sempre!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cativo



'Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.'


Cativar: tornar cativo, preso.
Haja cadeia pra tanta coisa, pra tanto sentimento oposto que não pode ficar na mesma cela e pra tanta gente que vem nesses verões de alma, quando a gente acha que já não tem mais espaço interno pra caber e percebe logo que vai se achegando, tomando o lugar que lhe era devido, desde sabe-se lá quando.
Eternamente pode até ser tempo demais, não quero pensar nisso agora, basta saber que em algum lugar há um cativeiro que me cabe, como aqui dentro existe esse cheio de coisas e pessoas e sentimentos.
Cheio de tudo que está preso por livre vontade de complementar.



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