sábado, 27 de fevereiro de 2010

Só pro meu Prazer


"Noite e dia se completam no nosso amor e ódio eterno
Eu te imagino
Eu te conserto
Eu faço a cena que eu quiser
Eu tiro a roupa pra você
Minha maior ficção de amor
E eu te recriei só pro meu prazer
Só pro meu prazer..."

Te fiz ruivo, sardas no rosto. Precisava de algo diferente para acalmar minha alma.
Te fiz forte mas frágil, delicado nas palavras e decidido nas ações. Te moldei ao meu corpo, do tamanho certo para me agradar, para me satisfazer.
Te ensinei minhas canções, fiz com que lesse os meus livros, que decorasse Drummond e sempre recitasse Vinícius.
Você odiava matemática, era do time de futebol, tinha muitos amigos e de preferência amiga alguma.
Tinha os olhos do Peter Pan e acho que até saberia voar se fosse preciso.
E então esbarrei com você naquela esquina, olhos fortes, toque delicado, roupas largadas, cabelos castanhos escuros.
Como te reconheci nem sei, afinal, onde estava o menino que gostava de poesia? Onde estava aquele carinha que eu sabia que se encaixava com minha vida?
Não, não vinha com você. Em lugar nenhum.
Vai ver os amores perfeitos estavam mesmo fora de moda.
E quando eu vi já nem valia a pena mais inventar nada, não valia a pena te recriar, porque você era o que eu queria, numa versão com defeitos de fábrica.
Uma versão mais interessante, nada do que eu pensava, mas isso não faz mal.
Hoje eu gosto de descobrir aos poucos o que tem em você daquele garoto fictício, mas eu enxergo mais você nele do que ele em você.
É, agora o molde mudou, ele é todo desigual, todo complicado de entender, sei lá, de algum modo, ele me remete a você.

(Texto pra Postagem Coletiva da semana / Ao som de: Só pro meu prazer - Leoni)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Carinha que via estrelas e a Menina que amava o Sol

'Vento solar e estrelas do mar
A Terra azul da cor do seu vestido...
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer dançar comigo?'

Era assustador o modo como ele queria tanto estar com ela, o modo como ele precisava da risada dela para achar mais graça, como ele precisava da presença dela para idolatrar aquele Sol tão lindo que brilhava, afinal, o Sol era feito especialmente para ela, não?
Como era mesmo que ele se sentia antes de tudo aquilo? Ah, na certa ele não sentia, ele vivia de meias verdades, não conhecia o conhecer.
Não havia no mundo vestidos coloridos nem histórias de amor. Não como aquela.
Não havia vontade de cantar todas as canções juntas em um ritmo insano, não havia sede de palavras novas e nem casas pré-fabricadas sob medida.
Amor pré-fabricado já havia tempos tinha saído de moda!
Afinal de contas, como as pessoas diziam, era certo se amar quem estava ali pronto para receber e fazer bom proveito.
Mas ela fazia. Ela guardava o melhor amor, como se guarda as bolinhas mais preciosas da árvore de Natal, com medo de que se expostas antes da hora, no tempo certo elas tenham se perdido.
Ela regava com um regador doce e com palavras ditas em silêncio.
E só restava então esperar. Não uma espera cansativa, ele sabia que o melhor sempre estaria por vir.
Sabia que a casa estava pronta, não havia como negar.
E seria capaz de amarrar mil balões se ela quisesse ir com ele até a Lua.
Mesmo ela amando o Sol.
Mesmo ele a amando.
Troço engraçado esse tal de amor.

(Ao som de: Um Girassol da Cor do Seu Cabelo - Nenhum de Nós)
(Para o Cara que vê estrelas e a menina que é sempre tão doce).

Because I had a bad Day


'Raindrops keep falling on my head...'
(Gotas de chuva continuam caindo sobre minha cabeça...)


Voltou a chover lá fora e aqui também, mas em mim a chuva sempre vem trazendo coisas boas.
Lógico que traz a nostalgia, mas eu aprendi a sobreviver a ela.
A chuva me trouxe muita esperança dessa vez, era tudo que eu precisava.
Ela veio me mostrar que é a confirmação de que o que foi plantado brotará, não se pode desistir, o vento por mais forte que seja não arranca o que tem raízes profundas, sempre digo isso.
Ontem durante o temporal me deixei ficar sentada no meio do vento e da chuva violenta, deixei transbordar tanta coisa boa e agora que a chuva está calma sinto novamente que as coisas têm solução, sempre têm.
Às vezes eu gostaria de fugir em um balão para ver a vida lá de cima, para ver como os problemas que parecem imensos são tão pequenos olhados por outros focos.
Estou mais forte, espero.
Quero muito continuar com todos os sonhos, quero a realização deles e a presença de pessoas que me são tão especiais.
Quero e vou lutar, porque não combina comigo essa postura de samambaia de quintal.
Deixa chover, deixa brotar as sementes, renovar o solo e transbordar o novo.


PS: Muito obrigada mesmo aos amigos tão queridos que estão sempre ao meu lado, obrigada a amiga que mesmo sem entender me estende a mão, e a tantos outros que eu conheci através do blog e que fazem parte de algo maravilhoso dentro de mim!
Obrigada também aos novos seguidores do blog e àqueles que me visitam a partir do orkut. Esse espaço existe pra vocês!

(Ao som de: B. J. Thomas - Raindrops Keep Falling on My Head)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A dona do Fim


'Se existe outra dimensão
Em que você não é você,
Quem é que sabe a direção
Pra encontrar quem não se vê?'

Não era bem dor o que ela sentia, olhando compulsivamente o telefone. Gostaria que fosse, gostaria de gritar por socorro e de desmaiar, gostaria de ser levada a um hospital e de tomar remédios para amenizar.
Ela sentia o fim. Será que alguém já havia sentido isso?
Era quase como um órgão dentro dela, pulsando de um jeito disforme de todo o resto, um órgão gritando em meio ao silêncio. Um órgão que precisava de algo que não estava lá.
Adiantaria chorar? Ela sabia que não, fazia tempo aprendera que lágrimas longe de aliviar, trazem lembranças. Se chorasse ela se lembraria da primeira vez em que teve certeza de que o céu era mesmo tão azul, foi ao lado dele. Se lembraria do passeio sem rumo que tinha um caminho tão perfeito que a fazia querer estar ali para sempre.
Se chorasse ela se lembraria do fim. O fim presente ali dentro dela, até mesmo sem lembrança.
O telefone nunca mais tocaria durante a madrugada, ela não ouviria a voz de adolescente quase rouca dele, não falaria baixo para não acordar os pais, ela não sentiria o coração se alucinar ao ouvir o trim.
Ele tinha partido. Ela tinha partido. O coração tinha partido.
Uma palavra só para tantos significados.
Eles estavam juntos desde quando? Vai saber, o conceito de tempo era algo tão relativo para ela, agora não sabia mais se aquela última semana tinha sido toda uma vida, ou se toda uma vida tinha se transformado em uma semana.
Ele agora estava do outro lado do mundo, aprendendo o novo e longe dela, longe de tudo que viveram, longe da vida que sonhara.
Ela disse o primeiro não. Gritou adeus e acenou o mais forte que pode.
Ela, a dona daquele Fim sem tamanho dentro do seu corpo.
Certas coisas estavam fadadas a acontecer, fora perfeito, mas fora era um tempo verbal que não tinha futuro.
Terminou porque ela não poderia estar com ele e não queria ser nada pela metade. Não queria uma felicidade de mentira com um pseudo-namorado. Não queria que ele desistisse, não queria a responsabilidade por algo que era maravilhoso, mas que era incerto.
Ela disse adeus. Disse que para ele nunca mais ligar. Disse que mudara o número.
Mas o Fim ainda mantinha os olhos no telefone, ainda esperava que qualquer sinal de movimento quebrasse aquilo tão diferente que agora estava ali perto do coração.
E o telefone então ficava ali, uma ponte entre uma vontade não concretizada e um não dito sem querer-querendo.
Uma fina linha transpondo um abismo.
Trim.
Sonho.
Trim, trim, trim.
'Oi. Não, não é. Aqui quem fala é a dona de um Fim mandão e teimoso. Um Fim que parece que não vai abrir mão de mim nunca mais. Tudo bem.'
Era só engano, mais uma vez.

(Post proposto por Bloínquês, ao som de: Espirais - Marjorie Estiano)


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Viva La Vida - ColdPlay


I used to rule the world
(Eu costumava reger o mundo)
Seas would rise when I gave the word
(Mares se agitavam ao meu comando)
Now in the morning I sleep alone
(Agora, pela manhã, durmo sozinho)
Sweep the streets I used to own
(Varro as ruas que costumava possuir)
I used to roll the dice
(Eu costumava jogar os dados)
Feel the fear in my enemy's eyes
(Sentir o medo nos olhos dos meus inimigos)
Listened as the crowd would sing
(Ouvia como o povo cantava:)
''Now the old king is dead, long live the king''
(Agora o velho rei está morto! Vida longa ao Rei!'')
One minute I held the key
(Um minuto eu detinha a chave)
Next the walls were closed on me
(Depois as paredes se fechavam em mim)
And I discovered that my castles stand
(E eu percebi que meus castelos estavam erguidos)
Upon pillars of salt and pillars of sand
(Sobre pilares de sal e de areia)
I hear Jerusalem bells are ringing
(Eu ouço os sinos de Jerusalém tocando)
Roman cavalry choirs are singing
(A Cavalaria Romana cantando)
Be my mirror, my sword and shield
(Seja meu espelho, minha espada e meu escudo)
Missionaries in a foreign field
(Meu missionário em uma terra estrangeira)
For some reason I can't explain
(Por alguma razão que eu não sei explicar)
Once you'd gone there was never
(Quando você se foi não havia)
Never an honest word
(Não havia uma palavra honesta)
And that was when I ruled the world
(E era assim, quando eu dominava o mundo)
It was a wicked and wild wind
(Foi o terrível e selvagem vento)
Blew down the doors to let me in
(Que derrubou as portas para que eu entrasse)
Shattered windows and the sound of drums
(Janelas destruídas ao som de tambores)
People couldn't believe what I'd become
(O povo não poderia acreditar no que me tornei)
Revolutionaries wait
(Revolucionários esperam)
For my head on a silver plate
(Por minha cabeça em uma bandeja de prata)
Just a puppet on a lonely string
(Apenas uma marionete em uma solitária corda)
Oh who would ever want to be king?
(Oh, quem realmente ia querer ser rei?)
I hear Jerusalem bells are ringing
(Eu ouço os sinos de Jerusalém tocando)
Roman cavalry choirs are singing
(A Cavalaria Romana cantando)
Be my mirror, my sword and shield
(Seja meu espelho, minha espada e meu escudo)
My missionaries in a foreign field
(Meu missionário em uma terra estrangeira)
For some reason I can't explain
(Por alguma razão que eu não sei explicar)
I know St Peter won't call my name
(Eu sei que São Pedro não chamará meu nome)
Never an honest word
(Nenhuma palavra honesta)
But that was when I ruled the world
(Mas isso foi quando eu dominava o mundo)

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(Escolhi postar essa música por vários motivos: acho a canção espetacular, acho a letra fantástica, gosto bastante de ColdPlay e queria muito ir ao show deles no Brasil... E também porque Viva La Vida foi meu moto durante algum tempo, já escutei essa música e chorei, já escutei essa música e pulei de alegria, já escutei essa música e senti que tudo tinha se modificado de fato, que talvez não ser rei fosse ser melhor. Tenho que postar selinhos que ganhei da Dudiinha Cazé e da Alice, mas ainda não deu tempo! Beijos a todos e obrigada aos novos seguidores!!)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Meu Lado Ilha


'Tenho quase certeza
Que eu não sou daqui!'


Outro dia acabei esbarrando com um texto do Saramago chamado 'A Ilha Desconhecida', mais pelo nome que pela curiosidade comecei a ler, e que coisa é o destino! O texto me falou tanto que fiquei uma boa hora com o som ligado em uma canção internacional simplesmente olhando pro teto.
O conto fala sobre busca, sobre a busca por algo novo, algo desconhecido, sobre a felicidade que só se alcança quando se encontra. E me trouxe tantas lições preciosas!
Já disse aqui e aqueles que me conhecem sabem que passei por um período louco, que depois se acalmou aos poucos...
Descobri que é assim mesmo e será assim para sempre, a gente só se encontra quando se lança ao mar mesmo, em busca da tal Ilha Desconhecida, eu fui em um veleiro fraquinho, aos pedaços já, não tinha segurança e nenhuma tripulação.
Aos poucos fui descobrindo que não estava sozinha, a jornada era minha e muito pessoal, mas sempre haveria alguém para guiar meu leme. Ainda bem!
A Ilha? Eu encontrei.
E como no texto só entendi que ela estava dentro de mim quando pensei que não fosse mais capaz de alcançá-la.
Sobreviver às buscas pessoais requer muita força de vontade, mas ainda é fácil se comparado ao fato de se lançar.
Assusta ver o mar revoltado, assusta ter que repensar valores, critérios, preferências e princípios, nem sempre é necessário, mas sempre é possível tentar se encontrar. No fim o máximo que pode acontecer é você se perder em auto-mar e acabar tendo que se reinventar.
Corri meus riscos mas cheguei àquele lugar onde se é feliz de um jeito mais ingênuo, porque se sabe que quem está na água é para se molhar mesmo.
Que venha sempre as ondas para balançar meus alicerces e me fazer querer buscar aquelas Ilhas Desconhecidas que só podem ser descobertas por mim.
E que eu sempre tenha com quem dividir meus paraísos particulares, afinal, se não são os amigos, quem mais você levaria para uma Ilha Deserta?

(Ao som de: Meninos e Meninas - Legião Urbana)


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tempo de Delicadeza


'Par délicatesse J'ai perdu ma vie'

Pensando sobre delicadeza hoje, resolvi reler uma crônica do Affonso Romano.
Sinto saudades da época em que as pessoas se esbarravam e pediam desculpas, saudades de quando adolescentes se levantavam para idosos sentarem, de quando dar um lugar na fila acontecia de verdade.
Talvez seja a velocidade das coisas que tenha causado tudo isso, não há tempo a se perder, os mais velhos, bem, eles já tiveram a vez deles, não é mesmo?
Não, não é. Só que eu me descobri com pouca delicadeza também, ruim isso de apontar defeitos alheios e esbarrar nos próprios.
O fato é que eu ando me escondendo atrás de algumas palavras, em especial a 'senso crítico'. Ando dizendo verdades, isso é fato, mas verdades que poderiam ser ditas com mais delicadeza, não custa nada.
Ser sincero é uma coisa, ser crítico ao extremo é outra, tem mais a ver com crueldade, eu penso.
Mas apesar de pensar, acabo dizendo assim mesmo. Saudades da minha delicadeza.
Vai ver a gente vai se acostumando a tomar marteladas que acaba respondendo do mesmo modo, coisa banal.
Eu queria um manifesto a favor da delicadeza, um manifesto pelos sorrisos abertos e pelas palavras doces. Conheci um amigo faz pouco tempo e já gosto dele porque ele é doce. Sabe usar as palavras.
Ser doce é tão bom, é ser criticado também, afinal de contas, a gente vive em um mundo tão mais bruto e tem gente ainda que fica pedindo perdão e agradecendo por tudo, fala sério, não há tempo para isso!
A delicadeza está fora de moda, fazer o quê... Se antes haviam muitas palavras e vários modos de se falar, hoje nos contentamos com 140 caracteres e dane-se o que o outro achar, isso é o que eu penso e pronto.
Ai. Tudo errado!
Não dá para se ter a classe do século XIX, mas será que dá para tentar não ser tão rude?
Eu quero. Quero tentar ser leve, tentar ser forte mas não ser cruel.
Dá certo, conheço uma amiga que é tão forte, a gente olha para ela e enxerga pedras no olhar. Nunca a vi perder a classe, nunca a vi levantar a voz e fazer ofensas e olha que já pediram para ouvir.
Ser delicado, ainda que o mundo pregue o contrário.
Ser delicado, ainda que essa delicadeza signifique engolir alguns sapos em silêncio, sofrer uns arranhões sem revidar. Troquemos as palavras duras por palavras de faces redondas, que o tiro seja de afeto e que as balas perdidas não nos atinjam em cheio.
Que a delicadeza nos invada como um raio de Sol insistente ultrapassando a janela e a cortina cerrada da nossa alma moderna.

(Frase de Rimbaud: Por delicadeza eu perdi minha vida / Título da crônica de Affonso Romano Sant'anna)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Agora ou Nunca


'Felicidade
Eu quero andar na vida
Namorando você...
Eu faço exatamente o que eu sempre quis
E é muito importante
Que eu seja feliz!'

Com o buquê nas mãos ela correu para os braços dele, deixando de se preocupar até mesmo com o penteado ultra chic de madrinha de casamento:
'Amor, agora nós seremos os próximos, eu peguei o buquê'.
Ele sorriu um sorriso sem graça na frente dos amigos, aceitou o abraço, mas ela sabia que não seria assim.
Ela sabia que já tinha acabado fazia tempos, sabia que os sonhos não eram mais em comum. Tentou ainda aproveitar o resto da festa, no entanto o pensamento não mudava, rodava e caía no mesmo ponto: o seu casamento.
Alguns goles a mais, no fim da festa, ainda com o buquê nas mãos ela se aproximou dele novamente, chamando-o para uma volta.
'Quer saber, eu sempre imaginei que passaria a vida inteira com você. Não porque você fosse o melhor, mas porque eu não conseguia me imaginar longe desse abraço tão aconchegante, eu não conseguia imaginar uma vida em que você não estivesse'.
Silêncio, o buquê pesando uma tonelada, o vazio do lugar onde já deveria morar uma aliança no mínimo de compromisso.
'Faz tanto tempo que eu até desaprendi que o que a gente tem que buscar não é isso, não é alguém que faça da sua vida a vida dele, é alguém com quem se compartilhe, com quem se crie algo novo. Nós não temos algo novo'.
Ela não se aguentou mais e jogou o buquê no chão. Não queria mais aquelas flores, não queria mais casamento algum, não queria ninguém. Queria-se sozinha, inteira.
'Você não perguntou o que eu penso sobre isso, mas eu penso como você, como sempre, nós pensamos juntos. Não dá mais para viver uma vida assim, sendo metade. Não quero mais ver você como aquela menina que vive em busca de um sonho, não quero mais ter um relacionamento que se constrói com um objetivo único: o altar. Eu quero algo novo, totalmente novo, diferente do que já vivi com todo mundo e também com você. Não quero mais isso'.
Os olhos de ambos se prenderam nas flores jogadas no chão, não se sabe de quem foi a iniciativa, mas se abraçaram em silêncio mútuo e sentido.
Se desprendendo dos braços dela, ele sorria de novo, enquanto podia notar lágrimas nos olhos sempre quentes e ativos que ela tinha.
Às vezes tudo que é preciso ser dito acaba saindo de uma vez, sem pedágios ou curvas, em velocidade máxima arriscada.
'Só mais uma coisa' - ele respirou fundo para fazer suspense - 'a gente não pode subestimar assim as tradições. Você pegou o buquê'.
Secou com as costas da mão uma lágrima indecente que estragava a maquiagem já cansada.
'E mesmo sabendo que agora você se quer inteira, mesmo sabendo que eu tive muito tempo para fazer isso e acabei planejando tudo para ser de um modo diferente. Mesmo correndo o risco de ouvir um não merecido. Eu te amo, sua boba. E eu quero construir algo novo com você. Para sempre. Dia a dia'.
'Novo?'
Balançou a cabeça.
'Você não me merece, seu besta'.
'Mas você é a alma mais caridosa que eu conheço'.
Sorriram e se abraçaram, ela entediada por ter feito todo um espetáculo, sentindo enfim uma aliança não só no dedo da mão direita, mas na alma. Ele feliz por ter acertado em cheio a hora do pedido.
Com ou sem buquês, seriam os próximos.

(Pelo som de: Felicidade - Chicas)
(Tema proposto por Bloínquês)

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2° lugar na quarta edição fotográfica do Bloínquês, obrigada gente!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cannonball - Bola de Canhão


"Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannonball"

Talvez a palavra da vez seja ilusão.
Não a ilusão que os outros nos causam, mas aquelas que são produzidas dentro dos nossos corações.
Acontece que eu sempre pensei que fosse uma pluma, sempre procurei minhas verdades e sempre busquei ser feliz fazendo quem amava feliz.
Eu estava iludida. Ninguém vive como pluma, todo mundo tem o seu lado negro, todo mundo é preso ao chão, ainda que com a alma no céu.
Não é só pela música, mas eu já pensei no modo como as pedras voam quando são jogadas sob um lago em alta velocidade. Não é sempre que a gente consegue decolar, eu aprendi a voar com as pedras. Aprendi que não é só o impulso que vai tirar você do chão, é o jeito do arremesso, aprendi que você vai tocar de leve a superfície e vai pensar que vai cair quando na verdade está pronto para decolar de novo, aprendi que uma hora você vai cair de fato, mas isso não quer dizer que seja ruim, quer dizer apenas que você estará indo para algo novo.
Gostaria de dizer que o amor me ensinou a mentir, mas em algum ponto isso soaria mentiroso. Não foi com ele que aprendi, não acho que o amor minta, talvez ele dissimule uma verdade, mas cheio de boas intenções. As mentiras que contei aconteceram por medo de não ser amada, mas isso não quer dizer amor. Isso quer dizer que eu deveria amar mais e entender que se for para ser, não é preciso mentir, não é preciso não ser quem se é. O medo me ensinou a mentir e acreditar em mentiras ditas em nome do amor. Isso foi perigoso e me fez cair muito, mas como foi dito ali em cima, uma hora o vôo termina mesmo e a gente sempre pode tirar uma lição de tudo.
Quanto à morte, aprendi com a vida sim, a gente descobre sempre como as coisas são olhando os opostos. Só que descobri também que isso tem a ver com voar, com voar como as pedras, com ir para algum lugar depois de pensar que já era o fim algumas vezes.
Eu sou mesmo uma bola de canhão, uma pedra que voa, incerta do seu destino final, mas ciente de que é preciso ir para algum lugar. Acabaram de me dizer que sou inconstante, que preciso me decidir. Não dá, não consigo. Vai ver que é por isso, eu queria ser como aquele pomo dourado e alado do Harry Potter, que voa tranquilo, mas não sou. Minha alma procura a leveza mas nem sempre alcança. E eu vou voando, esbarrando no lago, decolando novamente. Tentando fazer das quedas um novo impulso. Tentando fazer do meu reflexo na água algo lindo e novo, tentando não me molhar mas ciente de que isso também é inevitável.

(Tradução da canção Cannonball - Damien Rice:
Pedras me ensinaram a voar
O amor me ensinou a mentir
A vida me ensinou a morrer
Assim, não é difícil cair
Quando você flutua como uma bala de canhão)
(Post para Postagem Coletiva)

Who are you?


'Sou um animal sentimental,
Me apego facilmente ao que desperta o meu desejo...
Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade...

Inspirada por um texto que a Martha Medeiros escreveu há mais de dez anos e que republicou com um pedido de novos textos em seu blog, resolvi falar um pouco sobre quem sou. De fato uma amiga me perguntou no começo da semana passada quem eu era e eu fiquei meio sem saber o que responder.
Estou tentando me descobrir e te mostrar.

''A gente é muito do que a gente fala, mas é principalmente o que a gente cala. Somos o silêncio que escolhemos para pensar, para agir e para viver. Somos as ações feitas e inevitavelmente as que não se realizaram por medo.
Eu sou parte de todos os que amo e também parte dos que abomino, sou feita dos meus livros de cabeceira e dos que comprei e nunca vou ler. Sou o que minto também, o que escondo por trás de sorrisos tímidos e o que escancaro tentando me poupar.
Sou os discos que coleciono e as canções de mpb que me lembram uma época em que não vivi, sou fotos de alguém que gostaria de ter conhecido melhor mas que a saudades não mata, sou filmes que nunca revelei e que sei que não vou revelar.
Sou comédia romântica, suspense, aventura ou drama, depende dos meus coadjuvantes. Vou sendo conforme a história passa e se não gostar, começo a ser de novo.
Sou as folhas de rascunho das cartas que não mando e os emails que jamais serão enviados.
Sou as canções que sempre tocam. Sou Moinho. Sou as chuvas de Londres e o verde da minha terra. Sou Minas Gerais em cada pedaço de corpo.
Sou batata frita, pipoca com guaraná Antártica, sorvete de casquinha e banho de mangueira gelado. Sou pipas coloridas e peixes que eu não pesco. Sou as borboletas que não tenho tatuadas e as palavras que ficam escritas na alma.
Queria ser xampu, mas sou condionador.
Sou campo, praia, sol e chuva. Verão com amigos, inverno com namorado.
Sou oito ou oitenta, sim ou não, agora ou nunca.
Sou caminhada ao ar livre, não esteira e academia. Sou carinhosa, mas às vezes sou tão fria.
Sou fraca e chorona, mas me faço de forte. Sou metida a besta.
Sou os sonhos que tenho. Sou menos passado que futuro. Sou a busca do novo e o sempre esperar.
Sou confiar. Acreditar.
Sou os amigos que tenho. Que tive. Que terei.
As brigas que ganhei e tudo que chorei.
Sou Lispector, Luft, Proença ou apenas Martha.
Sou sendo. Gerúndio. Edifício em construção.
Mas aviso, hei de ter um sub solo mais atraente que qualquer outro andar.
Sou a dúvida, deu pra você notar.
Só sei que vou ser pra sempre esse eterno buscar.''


Essa sou eu, com os pés de barro, mas pronta pro que der e vier. Não espero agradar a todos, estou perdendo a ilusão de que isso é possível. Espero agradar quem gosta de mim e me aceita com os defeitos de sempre.
E espero ser feliz. Dizem que no fim, é o que importa.

(Ao som de: Sereníssima - Legião Urbana)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O garoto que vê as Cores


'Não sei se o mundo é bom
Mas ele está melhor
Desde que
você chegou
E perguntou:
Tem lugar para mim?
Não sei se o mundo é bom,
Mas ele está melhor
Desde que você chegou
E explicou o mundo pra mim...'

Existe um substantito muito abstrato chamado afinidade. A gente não entende, talvez se entendesse conseguiria explicar as mais loucas histórias de amor e de amizade.
Pois é, a afinidade é a personagem principal dessa história, porque foi no primeiro olhar que eu vi que tinha tanta afinidade com ele, foi numa conversa sobre matérias da Veja que entendi que ele era muito mais do que um garoto qualquer, foram através de conversas no msn que eu enxerguei que ele seria o menino que me transformaria em alguém melhor.
O menino que nunca me negou um favor, que nunca me fez chorar de tristeza, que sempre teve as melhores palavras para me consolar, mesmo quando também estava triste.
Entre nós existe muita afinidade! Ele é como um irmão, um irmão irritante que sempre chama a atenção e me manda ouvir músicas novas, me manda ser menos chata e me manda colorir minha vida. Sabe, ele é isso, minha cor.
Por causa dele eu aprendi tanta coisa nova, porque ele nunca desiste de me mostrar o novo.
Por ele eu pulei de alegria quando fiquei sabendo que ele tinha passado no vestibular...
Afinidade que se conhece de olhar.
Ele é meu melhor amigo, é o carinha pra quem eu contaria tudo, mesmo ele insistindo que não quer saber mais, ele é o amigo que eu defendo, que eu protejo e que quero adotar.
Eu queria achar palavras lindas pra falar sobre ele sabe, as melhores e mais significantes palavras, mas ele me conhece tão bem que o post vai saindo assim, nessa simplicidade, porque acho que isso traduz a nossa relação, algo tão simples.
Ele descomplica a minha vida, me desambígua e inventa comigo os melhores neologismos.
'É impossível não gostar de um homem que não só enxerga as cores, mas ainda fala sobre elas'.
É ele sabe, o cara que vai ser muito grande ainda, que vai voar e conhecer o mundo que um dia eu pensei que conheceria.
Ele realiza sonhos meus com tanta alegria, porque ele sonha parecido.
Afinidade.
A base de toda boa relação, a base de uma história de amizade duradoura, a base de uma história de amor.
Meu melhor amigo amigo.
Obrigada por tudo, Felipe Eller.
Por tardes inteiras no msn falando mal da vida alheia e da própria, por desenhos que eu jamais seria capaz de imaginar, por declarações explícitas que é o modo como a gente sente, por correr atrás dos seus sonhos e fazer o possível e o impossível para não me magoar, nunca.
Obrigada por me arrastar de casa, por fazer de mim uma pessoa menos anti-social e por corrigir meus erros de português.
Obrigada pelo abraço sempre pronto e pelas palavras que eu sempre preciso ouvir.
Meu 'homem que enxerga as cores', meu 'sacudidor de palavras', meu irmão.
Te amo e isso é mérito só seu, me ensinar a demonstrar afeto novamente.
PS: Se eu fosse sinestésica, seu nome teria a cor mais bonita.

'Estranho mas já me sinto como um velho amigo teu...
Seu all star azul combina com meu preto de cano alto'

(Pelo som de: Espatódea e All Star - Nando Reis)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Segredo do Carnaval

'É segredo não conto a ninguém
Sou Tijuca, vou além!'

E o Carnaval continua com ritmo total. Ontem começaram os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e eu tenho que dizer, o que é aquilo?
Gente, é muita arte! Aposto como muita gente abomina tudo aquilo, também penso que existe ali muito dinheiro investido que poderia ser destinado a outros fins sociais, mas se a gente não puder investir na alegria, vai investir em mais o quê?
Fico encantada com os desfiles, com a arte que está por trás daquelas fantasias minuciosas, das milhares de pessoas dançando e cantando na mesma harmonia, acho esse Carnaval fantástico!
Ontem consegui assistir por completo apenas o desfile da Unidos da Tijuca, que foi sobre mistério, só na comissão de frente eles colocaram casais que imitavam mágicos e mulheres que mudavam de figurino cinco vezes! A cada nova troca era uma alegria ver como tudo aquilo funciona tão bem, fico imaginando quantos ensaios, quanto envolvimento teve de cada um, todas as costureiras, os passistas, os mestres de alas, tudo!
Acho que muitas pessoas que menosprezam não têm ideia do quão complicado deve ser organizar um espetáculo tão grandioso e famoso.
Valorizo sim, jamais consegui organizar um bloco com vinte pessoas, que dirá uma Escola!
Poderíamos nos preocupar menos com o valor investido e pensar no esforço de todos, pensar em como o mundo poderia ser melhor se cada um fizesse o seu melhor e procurasse se superar a cada novo dia, em busca de algo que move o mundo deles.
Eu queria de presente de Carnaval a motivação que faz com que pessoas com mais de setenta anos consigam desfilar por toda a Sapucaí.
Isso chama-se amor.
E como eu disse no post anterior, para mim, toda forma de amar vale a pena.
Parabéns às Escolas que fazem do Carnaval uma festa conhecida mundialmente, não só uma festa da carne, como tanta gente pensa, até porque hoje em dia quase não existe nudez explícita nos desfiles, mas que fazem essa festa tão boa de se ver.

(No ritmo do samba enredo da Unidos da Tijuca)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Às pessoas Favoritas


Tem a ver com isso, com ser a pessoa favorita em toda a Terra.
A ver com escolher estar ao lado dessa pessoa não por ela ser perfeita, mas porque ao lado dela você não precisa ser nada além do que você é. Você.
Tem a ver com perdoar erros incorrigíveis, entender que algumas promessas não serão cumpridas, haverão dias ruins e dias bons.
Amar alguém tem a ver com algo que a gente sente pra gente. É, todo sentimento a gente sente primeiro pra gente. Consegue entender ou não como ele tá nascendo ali, onde não tem espaço, onde você queria plantar outra coisa. Amar é isso, é deixar de entender tudo e passar a concordar com essa voz que diz pra você fazer a coisa mais louca do mundo, essa voz que fica em silêncio quando você precisa da palavra certa e que fala asneiras quando você precisa pensar em algo prático.
Não tem muito a ver com todas as rimas ricas ou pobres que tantos poetas ultra românticos fizeram, nada a ver com a métrica perfeita, nada a ver com as canções baratas. Ou talvez tenha a ver com as canções sim, mas com aquelas que você ouve uma vez e não consegue parar de cantarolar, como uma vez me disse uma amiga. Ou ainda com o que disse Lulu, uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor obrigação de convencer.
Amar tem mais a ver com amizade do que com muita coisa. Aliás, amizade é amar.
Eu tenho amigos que amo tanto! Amigos que me ensinam diariamente a ser melhor, que me ensinam em silêncio e com palavras duras. Amar é isso, é ensinar do modo que for possível, ainda que seja do pior modo.
Hoje em muitos países do Hemisfério Norte se comemora o 'Valentine's Day', e eu queria comemorar o dia do Amor.
O dia de dizer aos outros que eu amo, porque eu passei algum tempo com essa frase entalada por medo de não estar pronta para dizer novamente.
Quer saber, a gente nunca tá pronta pro amor! Pode-se esperar uma vida inteira pela segurança e ela não vai chegar, porque o Amor não é sossego, ele é rio que corre, que move moinhos, Amor não pega dengue, não pára nem pra pensar.
Se ele vier e não te fizer tremer, não te fizer ter medo, não te mostrar coisas absurdas, aí sim, diga que não está preparada. Não escolha viver um não-amor. Se é pra amar que seja da melhor forma possível, intensamente.
Que seja com noites de tormenta e noites de glória, que seja maravilhoso e caótico. Que seja o seu amor, diferente do que dizem as revistas, os livros. Diferente do que eu digo, porque essa é minha forma de amar, e toda forma de amar vale a pena!
O fato é que eu amo algumas pessoas, é, já pensei que amava muitas, mas na verdade não são tantas assim... Tenho as minhas pessoas preferidas do Planeta, preferidas até do que os amigos invisíveis. Preferidas até do que a solidão e o silêncio.
E eu espero que elas tenham o melhor dia dos namorados do Planeta. Que tenham um dia do Amor, que procurem a felicidade e que encontrem o seu Valentim. Aos meus amados, obrigada por aguentarem o que há de pior em mim e por me proporcionarem tantas coisas loucas e divinas.

'E a gente vai à luta e conhece a dor
Consideramos justa
Toda forma de Amor'

(Tradução do cartão: Você é minha pessoa favorita em todo o mundo. E isso inclui as pessoas imaginárias)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carnaval de Alma


'E brincar o Carnaval
Viver uma fantasia real'

Então já é Carnaval, a festa das cores, da alegria...
Não tenho grandes pretensões até porque não sou o tipo que sai pulando atrás de trio elétrico ou em blocos, se tem mais de cinquenta pessoas reunidas debaixo desse calor pode apostar que eu não estou lá!
Mas é bom ver a alegria estampada no rosto de todo mundo, é bom ver tanta gente animada, tanta gente de rostos pintados e querendo ser feliz.
Espero o melhor Carnaval de todos, com muita cor, muita alegria, muito descanso e até um pouco de agito!
Que seja Carnaval nas nossas vidas, antes até de ser no mundo, que sem vergonha a gente saia com o melhor sorriso, tire a fantasia de dentro do armário e vá em busca daquela Colombina misteriosa, a Felicidade.

(Ao som de: Colombina - Ed Motta)

Delícia!


As regras são:
Link de quem me indicou -> Criativo Compulsivo

Cinco coisas que deixam minha vida mais doce:
-> Livros legais
-> Filmes ao lado de pessoas especiais
-> Sorvete com amigos
-> Conversas necessárias
-> Escrever

Indicar quatro blogs:


Obrigada!

Burguesinha, burguesinha...


Ah Coração! Um ano né?!
Um ano daquele primeiro contato desastroso, um ano do primeiro email, da aula que me fez odiar menos o português...
Um ano contando com uma pessoa que foi chegando aos poucos, com a sua força de vento que move moinho delicadamente, pouco a pouco.
Quando você chegou era uma completa desconhecida, passou a ser a garota antipática de Juiz de Fora, tornou-se a garota de Juiz de Fora, depois a professora legal e quando foi que você virou essa amiga pra quem eu sempre peço socorro?
Não sei em que momento exato eu vi que você era a Carol, não mais a Anna. Não sei como foi que eu transformei tudo e nem se fiz isso direito, mas eu sei que olhando para a mocinha que entrou naquela sala com o olhar mais seguro que já vi e com o jeito de quem quer algo mais, eu vejo alguém tão familiar.
Eu vejo emails trocados, silêncios compartilhados, superlativos empregados, abraços dados, lágrimas e lágrimas contidas e guardadas dentro de um aperto bem firme de mãos.
Eu não sei o que teria sido do meu ano sem você.
A minha fada-bruxa preferida, a que mais me fazia sorrir quando dizia: 'geeente, não acredito!', a que me matava de raiva por nunca ter tempo para mim, a que me encantava falando de mundos que eu nunca tinha visto, a que procurava me fazer melhor, sempre.
É ultra infantil isso de 'melhor-amiga', mas eu não sei porque não tenho medo de dizer coisas infantis e bestas com você! Não sei porque rasgo o meu coração e ligo chorando para ouvir você apenas dizer que vai ficar tudo bem.
Mas eu sei porque eu peço todas as noites por você, sei porque quero tanto a sua felicidade, quero o seu bem, sei porque fico feliz quando algo bom lhe acontece.
Quando eu me perdi e pensei que não dava mais para entender ninguém, quando achei que fosse incapaz de acreditar em algo sólido de novo, quando achei que não tinha amigos porque tinha feito a coisa errada, você me fez ir em frente.
Você me disse que a dor passaria, o ódio passaria, a cicatriz se fecharia.
Como eu ainda subestimo o que seu poder de previsão?
Eu me sinto tola perto de você às vezes, porque você é tão mais madura, tão mais cabeça que eu... Mas eu sei que quando eu entro no msn e você está on o papo vai ser no mínimo engraçado.
Um ano né?!
Ainda bem que você entrou na minha vida então, ainda bem que me permitiu tanta coisa linda e caótica também, ainda bem que se permitiu uma amizade nova, ainda bem que tudo.
Obrigada Pessoíssima, mesmo.
Com toda a pieguice do mundo, desse coração ultra meloso que você conhece bem.
Espero muitos anos de uma amizade entre a menina que tinha a cabeça nas nuvens e a fada que caiu na vida dela pra trazê-la pra um mundo mais real.
Beijos!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O que teve de ser, foi



'Bem mais que o tempo que nós perdemos
Ficou pra trás também o que nos juntou...'


No começo ele era o primo da minha melhor amiga, era o menino que eu adorava odiar porque ele era mais rápido, mais inteligente, mais mais do que todo mundo.
Nossa primeira conversa foi uma briga por um motivo totalmente infantil e acabou saindo dali uma amizade que mudaria quase tudo em mim.
Ao lado desse grupo de amigos eu passei os verões mais inesquecíveis da minha vida e foi com ele que eu aprendi porque os poetas rimavam tanto amor com dor.
Infelizmente eu sempre soube que as coisas iam dar no caminho que deram, porque eu devo ter olho clínico para a coisa, mas nem por isso eu deixei de me apaixonar, no auge dos meus treze anos ele era tão diferente de todos os garotos que eu conhecia, ele era o carinha da cidade grande, o que tinha o cabelo lindo e um jeito destemido de falar com todo mundo.
Na difícil escolha entre ser criança e adolescente a gente foi descobrindo junto, eram dias inteiros brincando de pique-esconde e noites jogando jogo-da-verdade, querendo-não-querer revelar tanta coisa.
O verão terminou, ele foi embora e as coisas não mudaram, eu ainda gostava dele, quando ele voltou nas férias estava tão mais bonito, tão mais especial, o tempo tinha moldado ainda mais fantasias a respeito dele na minha mente.
Eu ficava mais próxima dele e começava a sentir muito ciúmes de todas as minhas amigas que tinham contato com ele, eu o queria só pra mim. Tinha feito minha escolha, não era mais criança, eu queria que ele deixasse de ser meu amigo e passasse a ser qualquer coisa mais que amigo.
Devia ter imaginado mais uma vez que as coisas não dariam certo, relacionamentos construídos em cima de fantasias nunca dão.
Acabei confessando todo o meu sentimento, acabei ganhando o melhor presente de Natal que era possível e no outro dia quis morrer porque estava me mudando para uma cidade do outro lado do Estado, eu provavelmente não o veria nunca mais.
Fiz tudo que pude para que meus pais entendessem que eu não podia morar tão longe do amor da minha vida e eles enfim entenderam. Voltamos.
Era Páscoa e eu não me cabia de tanta felicidade. Cheguei e nem desfiz as malas, fui para onde eu tinha certeza que ele estava. Não estava. Mas naquele dia eu comecei a ver quem era de fato o garoto por quem tinha me apaixonado.
Foi a primeira decepção amorosa que eu tive eu achei que minhas lágrimas iam se acabar todas naquele dia.
Eu ainda assim podia ter desistido, podia ter entendido que não era para ser, que ele não era o meu príncipe encantado. Não entendi. Não gosto e nunca gostei de perder, passei por cima da decepção e continuei confiando que se eu o amava tanto tinha que ser recíproco.
Mais dias de sonhos realizados e dias de decepção. Toda vez que a gente se encontrava eu descobria algo pior sobre ele e descobria que eu não era nada mais que um objeto nas mãos de alguém que eu gostava tanto.
O pior é que eu me permitia ser esse objeto simplesmente porque não queria admitir para mim que estava enganada, que ele não era nada que eu tinha sonhado, que eu era só uma amiga e que nunca ia deixar de ser isso.
Em um dia de Halloween minha ficha caiu.
Eu não queria mais ser metade sozinha, não queria mais um conto-de-fadas com um príncipe que ia sempre pro lado errado. Dei um basta e me fiz entender que eu tinha perdido.
Não era pra ser desde sempre, não daria certo, eu tinha entendido tudo errado desde o princípio mas a culpa não era só minha, ele tinha gostado de me ter por perto, tinha aceitado me usar, me magoar, me ofender.
Aprendi a lição, não existe amor sem amor-próprio, é impossível gostar do outro se não gostar de si mesmo.
Hoje nós somos bons amigos, amigos mesmo, ele me conta as conquistas dele e eu morro de rir de ver que enfim tudo passou.
Minha decepção passou, o carinho ficou. Aprendi demais com ele para não desejar que ele seja feliz para sempre com a princesa dele.
Achei outro príncipe e fui com a cabeça erguida entendendo que esse também não seria perfeito mas que talvez fosse a hora de aprender a perdoar defeitos de fábrica.
A felicidade só vem quando você entende que tem que começar a procurar por ela.


(Ao som de: Resposta - Skank)
(Post para Postagem Coletiva com o tema 'O que tiver de ser será - Marjorie Estiano')
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