segunda-feira, 10 de junho de 2013

Da possibilidade que não existe



"Não vá dizer que eu estou ficando louco
Só porque eu não consigo odiar ninguém"


Tem quem mereça afeto eterno e como as folhas que enfeitam primavera sem ser de tudo flores, tem quem mereça afeto de temporada. Tem quem te acorde de manhã com beijos e quem te faça dormir com lágrimas nos olhos. Tem quem te espere num dia de chuva com uma notícia triste que dada pelos lábios certos tem um tom de esperança bonita e tem quem faça um dia de Sol nublar por proferir palavras duras naquela voz típica de veludo.
Tem quem faça a vida valer cada segundo e tem quem faça alguns segundos especiais pra toda vida. Tem tanto tipo de gente que é comum a gente amar e desamar.
E tem gente assim que haja o que houver não sabe odiar.
Não é prazer pelo desprezo alheio, longe disso. Cabe análise científica do coração com mais de vinte que insiste em parecer um coração tolinho de menina no jardim de infância que recebeu areia nojenta nos olhos e após chorar rios e limpar toda a sujeira sorriu com timidez desculpando mesmo sem ouvir do outro o pedido de perdão.
A gente odeia o fato de ser menosprezado. O fato de ser deixado pra trás. Odeia o caso que por horas parece ser pouco. Odeia repetir e não ser ouvido. Odeia explicar em vão, sorrir em vão, amar em vão.
Mas cadê que consegue odiar alguém?
Cadê a força que faz o sangue pulsar e gritar e proferir palavrões e desejar que o outro suma/exploda/vire poeria cósmica bonita que faz aurora boreal?
Não tem.
Não há Amanda Clark que ensine o ramo da vingança tão bem a ponto de convencer o coração abestalhado a ser indiferente. A revidar. A odiar.
Que se odeie a chuva que vem e estraga os planos de verão e sol e piscina. Que se odeie o calor que se faz em horas que se quer cobertor e filme. Que se odeie do fundo do ser a vontade que a gente tem de brigar e gritar e proferir injúrias mas que engasgam nos olhos mirando a imagem alheia.
Fácil ia ser por demais se eu soubesse odiar. Fácil do nível de zerar Super Mário World depois que já se fez vinte anos.
Quando se é capaz de odiar não se quer mais ser parte da vida que o outro tem. Quando se é capaz de odiar é possível gastar com raiva e gritos e socos na parede todo o carinho que a gente deposita e o outro nem paira os olhos por lá.
Sucede apenas que, infantilmente ou não, o amor não cede. Morre até sabe? Já testemunhei e juro que no fim de um amor moribundo a gente até agradece quando a morte vem visitar e deixa ali o leito vazio sendo limpo por raios de Sol pra que outro habite. Agora ver o amor virar ódio, ah, só na tevê mesmo.
Aqui dentro o amor vira qualquer coisa, até enfeite de prateleira, mas nunca vi virar ódio.
Agarra uma raiva por parecer tão besta aos olhos alheios, um quase ódio por dar pra tanta gente poder de não me permitir odiar, mas a verdade, ah, a verdade, é que eu consigo seguir bem aquele trecho lindo, eu odeio no fundo no fundo, não conseguir odiar nada em você.
Mesmo você merecendo.
Mesmo você causando o ódio.
Eu não consigo odiar você.


[talvez seja bom né?]


Ao som de Não Consigo Odiar Ninguém: Engenheiros do Hawaii

Um comentário:

Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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