terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A dona do Fim


'Se existe outra dimensão
Em que você não é você,
Quem é que sabe a direção
Pra encontrar quem não se vê?'

Não era bem dor o que ela sentia, olhando compulsivamente o telefone. Gostaria que fosse, gostaria de gritar por socorro e de desmaiar, gostaria de ser levada a um hospital e de tomar remédios para amenizar.
Ela sentia o fim. Será que alguém já havia sentido isso?
Era quase como um órgão dentro dela, pulsando de um jeito disforme de todo o resto, um órgão gritando em meio ao silêncio. Um órgão que precisava de algo que não estava lá.
Adiantaria chorar? Ela sabia que não, fazia tempo aprendera que lágrimas longe de aliviar, trazem lembranças. Se chorasse ela se lembraria da primeira vez em que teve certeza de que o céu era mesmo tão azul, foi ao lado dele. Se lembraria do passeio sem rumo que tinha um caminho tão perfeito que a fazia querer estar ali para sempre.
Se chorasse ela se lembraria do fim. O fim presente ali dentro dela, até mesmo sem lembrança.
O telefone nunca mais tocaria durante a madrugada, ela não ouviria a voz de adolescente quase rouca dele, não falaria baixo para não acordar os pais, ela não sentiria o coração se alucinar ao ouvir o trim.
Ele tinha partido. Ela tinha partido. O coração tinha partido.
Uma palavra só para tantos significados.
Eles estavam juntos desde quando? Vai saber, o conceito de tempo era algo tão relativo para ela, agora não sabia mais se aquela última semana tinha sido toda uma vida, ou se toda uma vida tinha se transformado em uma semana.
Ele agora estava do outro lado do mundo, aprendendo o novo e longe dela, longe de tudo que viveram, longe da vida que sonhara.
Ela disse o primeiro não. Gritou adeus e acenou o mais forte que pode.
Ela, a dona daquele Fim sem tamanho dentro do seu corpo.
Certas coisas estavam fadadas a acontecer, fora perfeito, mas fora era um tempo verbal que não tinha futuro.
Terminou porque ela não poderia estar com ele e não queria ser nada pela metade. Não queria uma felicidade de mentira com um pseudo-namorado. Não queria que ele desistisse, não queria a responsabilidade por algo que era maravilhoso, mas que era incerto.
Ela disse adeus. Disse que para ele nunca mais ligar. Disse que mudara o número.
Mas o Fim ainda mantinha os olhos no telefone, ainda esperava que qualquer sinal de movimento quebrasse aquilo tão diferente que agora estava ali perto do coração.
E o telefone então ficava ali, uma ponte entre uma vontade não concretizada e um não dito sem querer-querendo.
Uma fina linha transpondo um abismo.
Trim.
Sonho.
Trim, trim, trim.
'Oi. Não, não é. Aqui quem fala é a dona de um Fim mandão e teimoso. Um Fim que parece que não vai abrir mão de mim nunca mais. Tudo bem.'
Era só engano, mais uma vez.

(Post proposto por Bloínquês, ao som de: Espirais - Marjorie Estiano)


5 comentários:

  1. tem selinho pra vc no meu blog
    http://manu-desouza.blogspot.com/2010/02/mais-selinhos.html
    Bjs :*

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  2. Você me arrepia demais com os textos, com a narrativa, com o jeito com aspalavras!

    Eu gosto a cada dia mais de te ler, a cada dia mais de você! :)

    Obrigado pela paciência e amizade de sempre! ;D

    beijoo

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  3. aaaaaaah ficou ótimo, sério mesmo ^^ você escreve muito bem :)

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  4. Ah, Tay... Por que existem os fins, as despedidas. Não quero mais. :,O

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  5. q depre '-' aai to sem inspiraçao pru meu blog =(

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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