quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O que teve de ser, foi



'Bem mais que o tempo que nós perdemos
Ficou pra trás também o que nos juntou...'


No começo ele era o primo da minha melhor amiga, era o menino que eu adorava odiar porque ele era mais rápido, mais inteligente, mais mais do que todo mundo.
Nossa primeira conversa foi uma briga por um motivo totalmente infantil e acabou saindo dali uma amizade que mudaria quase tudo em mim.
Ao lado desse grupo de amigos eu passei os verões mais inesquecíveis da minha vida e foi com ele que eu aprendi porque os poetas rimavam tanto amor com dor.
Infelizmente eu sempre soube que as coisas iam dar no caminho que deram, porque eu devo ter olho clínico para a coisa, mas nem por isso eu deixei de me apaixonar, no auge dos meus treze anos ele era tão diferente de todos os garotos que eu conhecia, ele era o carinha da cidade grande, o que tinha o cabelo lindo e um jeito destemido de falar com todo mundo.
Na difícil escolha entre ser criança e adolescente a gente foi descobrindo junto, eram dias inteiros brincando de pique-esconde e noites jogando jogo-da-verdade, querendo-não-querer revelar tanta coisa.
O verão terminou, ele foi embora e as coisas não mudaram, eu ainda gostava dele, quando ele voltou nas férias estava tão mais bonito, tão mais especial, o tempo tinha moldado ainda mais fantasias a respeito dele na minha mente.
Eu ficava mais próxima dele e começava a sentir muito ciúmes de todas as minhas amigas que tinham contato com ele, eu o queria só pra mim. Tinha feito minha escolha, não era mais criança, eu queria que ele deixasse de ser meu amigo e passasse a ser qualquer coisa mais que amigo.
Devia ter imaginado mais uma vez que as coisas não dariam certo, relacionamentos construídos em cima de fantasias nunca dão.
Acabei confessando todo o meu sentimento, acabei ganhando o melhor presente de Natal que era possível e no outro dia quis morrer porque estava me mudando para uma cidade do outro lado do Estado, eu provavelmente não o veria nunca mais.
Fiz tudo que pude para que meus pais entendessem que eu não podia morar tão longe do amor da minha vida e eles enfim entenderam. Voltamos.
Era Páscoa e eu não me cabia de tanta felicidade. Cheguei e nem desfiz as malas, fui para onde eu tinha certeza que ele estava. Não estava. Mas naquele dia eu comecei a ver quem era de fato o garoto por quem tinha me apaixonado.
Foi a primeira decepção amorosa que eu tive eu achei que minhas lágrimas iam se acabar todas naquele dia.
Eu ainda assim podia ter desistido, podia ter entendido que não era para ser, que ele não era o meu príncipe encantado. Não entendi. Não gosto e nunca gostei de perder, passei por cima da decepção e continuei confiando que se eu o amava tanto tinha que ser recíproco.
Mais dias de sonhos realizados e dias de decepção. Toda vez que a gente se encontrava eu descobria algo pior sobre ele e descobria que eu não era nada mais que um objeto nas mãos de alguém que eu gostava tanto.
O pior é que eu me permitia ser esse objeto simplesmente porque não queria admitir para mim que estava enganada, que ele não era nada que eu tinha sonhado, que eu era só uma amiga e que nunca ia deixar de ser isso.
Em um dia de Halloween minha ficha caiu.
Eu não queria mais ser metade sozinha, não queria mais um conto-de-fadas com um príncipe que ia sempre pro lado errado. Dei um basta e me fiz entender que eu tinha perdido.
Não era pra ser desde sempre, não daria certo, eu tinha entendido tudo errado desde o princípio mas a culpa não era só minha, ele tinha gostado de me ter por perto, tinha aceitado me usar, me magoar, me ofender.
Aprendi a lição, não existe amor sem amor-próprio, é impossível gostar do outro se não gostar de si mesmo.
Hoje nós somos bons amigos, amigos mesmo, ele me conta as conquistas dele e eu morro de rir de ver que enfim tudo passou.
Minha decepção passou, o carinho ficou. Aprendi demais com ele para não desejar que ele seja feliz para sempre com a princesa dele.
Achei outro príncipe e fui com a cabeça erguida entendendo que esse também não seria perfeito mas que talvez fosse a hora de aprender a perdoar defeitos de fábrica.
A felicidade só vem quando você entende que tem que começar a procurar por ela.


(Ao som de: Resposta - Skank)
(Post para Postagem Coletiva com o tema 'O que tiver de ser será - Marjorie Estiano')

9 comentários:

  1. "Aprendi a lição, não existe amor sem amor-próprio, é impossível gostar do outro se não gostar de si mesmo."

    Fico feliz que tu tenha superado isso tudo, pois serve de incentivo pra que eu também consiga um dia superar o que preciso.
    E, bah, tenho que elogiar teu texto, gostei demais! O fechamento, então, tem frases marcantes, que me fizeram refletir por vários minutos...

    Parabéns!

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  2. Eu li tudinho Tay..
    Que coisa não..
    Não exitem principes, e de contra partida, princesas também não estão à nossa volta.

    Otimo texto.

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  3. Gostei bastante!!

    Realmente, os defeitos também fazem parte. Amar é isso: buscar o melhor da pessoa e perdoar eventuais erros!
    ;D

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  4. A vida gosta de pegar as coisas boas e transformar em ruins, para testar e ver se, como você, a gente aceita que errou e transfoma a coisa ruin em boa de novo.
    Segue o meu blog, fia?

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  5. Obrigada gente! Foi com o coração!
    E Bia, já estou seguindo o seu blog!!
    Obrigada de novo.
    :D

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  6. amor verdadeiro é tão bom.. mas doi tanto.
    é veridico?
    bjs

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  7. "A felicidade só vem quando você entende que tem que começar a procurar por ela."
    Achei tão profundo isso. Mas por que será que queremos tanto ser feliz quando a única coisa que fizemos é reclamar? O.o

    Beeijos!

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  8. Sempre passaremos por decepções amorosas, infelizmente. Acontece que a gente sempre acaaba esperando que seja diferente com certa pessoa.
    E, claro, temos de procurar a nossa própria felicidade.

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  9. Obrigada de novo gente!
    O texto é real sim, mas tudo isso aconteceu faz um bom tempo, uns cinco anos, quase seis... Então, faz tempo que deixou de doer!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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