sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Algumas coisas apenas são.


Tem poça que às vezes parece oceano, lágrima que às vezes vem feito temporal.
E tem coisas que são apenas.
Era o cão dourado, quase um leão, mas com cara de porquinho fofo. Eram amigos desde quando? Uma década inteira compartilhada, amigos passaram, entraram e saíram e ele sempre estivera lá. Aquela espécie de lealdade que as pessoas tentam imitar sem muitas vitórias.
Sabiam-se apaixonados, declarados eternamente donos um do outro. Não havia mesmo um modo de ter algo sem que algo a tivesse junto, aprendiam cumplicidade e ela enxergava tudo através dos olhos doces submissos.
Lembrava o cão ruivo da Clarice e a solidão da menina aos soluços debruçadas sobre os próprios joelhos.
Um encontro de almas afins, que se mereciam, se precisavam em silêncio compreendido.
Ela entendia o modo como ele era independente, ele levava na boa o jeito dela, tão cientes das suas missões na vida um do outro que não questionavam, vivenciavam uma amizade mística, um amor sem tamanho e sem distinção de raça.
Ele era humano, quase chorava ao vê-la mal, sentia sua fragilidade e se colocava aos seus pés, olhos fitados no olhar perdido que ela tem quando sofre, na falta de brilhos das pupilas.
Agora não mais poderia tocar a ponta do focinho no seu joelho e dizer que pararia de doer logo, ele não estava mais lá e doía a alma por conta dessa presente ausência.
Ela tão precisada de força naquele momento, e onde ele estava? Jamais poderia tê-lo acusado de abandono, talvez pressentindo tudo que estava mesmo por vir ele relutara tanto, não se deixara ir, abatera-se na necessidade de provar para ela que estaria ali, para sempre.
E estava.
Lágrimas nos olhos, nó na garganta, podia ouvi-lo latir, podia sorrir pelo fato de se sentir protegida ao lado dele, ou apenas amada com todos os defeitos compartilhados.
Ele se fora e o máximo que ela podia fazer agora era eternizar algo que nascera fadado à eternidade mesmo, amores assim com total cumplicidade de sonhos e vida jamais passam.
Partindo mais uma vez a alma, jogou-se no sofá e chorou toda a saudade incontida, chorou não para livrar-se, mas porque sabia, sempre soube, que ele estaria com ela, em qualquer lugar, amigos são amigos, onde quer que estejam, onde quer que vão. Amigos o são, apenas, do jeito que só ele sabia ser.

5 comentários:

  1. Triste... Perder um amigo é ruim, principalmente um amigo peludo. Mas, amizade é amizade: eterna no coração. :)

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  2. Triste, mas bonito como sempre. Amei a última frase!! [2] Beijo Tay *-*

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  3. Tay, os amigos peludos ou não, os amores do jeito que são, todos os nossos tesouros nos matam de saudade, estou passando por um periodo de abstinência da presença fisica de alguém que amo demais, e senti todas as suas palavras.
    Apesar de triste, gostei muito!

    Tb tenho blogs, se quiser visitar, será muito bem vinda! Mas o seu é super bacana e eu o estou seguindo! Sucrilhos combina com neurose...muito bom!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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