segunda-feira, 14 de março de 2011

Memorial de um Banquinho



'Me deixe sim
Mas só se for
Pra ir ali
E pra voltar'

É só mais um banquinho e para qualquer outro vai continuar sendo, desconfortável madeira encaixada e modelada, concreta. Um banco de praça idêntico aos outros.
Mas ele presenciara tantas coisas nos dois últimos meses que teria histórias pra contar para vidas e vidas que ali parassem para descansar o peito ou o corpo mesmo, fosse como fosse.
Ele diria de duas meninas bobas que achavam graça do modo como as coisas comuns aconteciam, e questionavam sempre e sempre tudo, nada, o mundo e até mesmo as questões.
Contaria que ouviu quase segredos e deixou de ter inveja dos outros banquinhos que abrigavam casais apaixonados, era um banco símbolo de uma amizade, isso tem lá um valor imenso!
Ele leu cartas, acho graça do jeito tímido da outra, do sorriso e dos olhos brilhantes, das mãos sempre em movimento, ele se projetou e até tentou expulsar quem ali estava quando não eram elas. Porque aquele banco se encantara de tal forma com a reciprocidade de sentimento, a cautela de gestos e palavras e abraços que ele não queria de outra forma ser abrigo para o corpo de outro alguém. Era o pouso dos dois corações diversos e tão próximos que compartilhavam o sentimento com ele, daquele jeito que o Pequeno Príncipe ensinara ao aviador no meio do deserto, aquele jeito de esperar sempre não no mesmo horário, mas no mesmo lugar.
Agora que ficara lá sozinho por algum tempo sentia uma falta doce feito os algodões vendidos ali e sedenta como quem come dois saquinhos de pipoca, mas sabia-se presente nelas, onde quer que elas se sentassem agora. Era o banquinho de um verão, mas seria sim de todas as próximas estações que viessem, seguro e firme, feito de concreto e calor humano, de lembranças e sonhos, ficaria ali para o próximo encontro.
Para a amizade delas, sempre.


(Ao som doce de: Grão de Amor - Tribalistas)

3 comentários:

  1. Ah, adoro banquinhos de praça, quando vejo um logo dá vontade de dar uma descansadinha... Nunca sentei com amigos, mas acho que eles combinam mais com namorados porque dá pra sentar juntinhos. Me lembra romantismo dos anos antigos... ^^

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  2. Isso é diferente de tudo que já li, fantástico! Menina, tu tem talento nato. Mas um banco de praça nunca é igual ao outro. Eles sempre tem histórias pra contar, histórias diferentes... Muito bom esse texto, beijão!

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  3. Que lindo! *-* Parabéns por conseguir de uma coisa tão banal como um banquinho de praça criar um texto tão lindo e tão leve!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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