quarta-feira, 1 de junho de 2011

Da firmeza que não se deseja


You got me locked out here, dancing in the rain
Você me prende aqui, dançando na chuva
Drunk with the thought of your smiling face
Embriagado com o pensamento do seu rosto sorridente

Eu o vejo todos os dias, sinto a apreensão dele por esperar por alguém que nunca chega, quase consigo tocar o silêncio constante em que ele se joga naquele mesmo banco a esperar.
Ali na frente o mundo e o canal que parece ter levado você, toda aquela água que ele admira e vez ou outra toca, e eu fico querendo dizer a ele que tudo tem um propósito, toda água caminha para o mar e que talvez, se ele desviasse um pouco os olhos, a grama ficaria menos pálida ele notasse que ao redor existem mais pessoas com sorrisos para compartilhar.
Existem braços ansiosos da vontade de aquecê-lo, da vontade de bater de leve nas costas dele e dizer que já chega de sofrimento, que de drama em drama se constrói uma bela história, quem sabe até um romance. Necessita só olhar pra frente, em direção diversa, preferencialmente.
Eu estava bem aqui, plantada em posição privilegiada quando o vi correr pela primeira vez com você, que jeito de desviar os olhos que você tinha, aquela cor de verde seco e frio, seus olhos tinham uma cor que me dava medo, a cor do outono.
Ele veio até mim e com força e desejo de eternizar rabiscou com o canivete roubado do pai suas iniciais. Combinavam tão bem, eram letras de sonoridade gostosa, eu as diria facilmente.
Notei quando ele te roubou um beijo passando por cima do medo que eu sentia nele, daqui. Notei quando você jogou o pescoço para trás e gargalhou de um jeito delicioso que até os vizinhos teriam sentido o calor que saia da sua risada. 
E agora eu noto a falta que você faz de propósito e acho feio toda a história de fazer um verão que foi lindo virar um inverno seco, indigno até de flocos de neve.
Você partiu menina, é o que sempre acontece quando as férias acabam e a cidade volta a ser pacata e vazia. Deserta para ele agora.
Vez ou outra ele vem até mim, retira a casca que se formou em cima das iniciais e me abraça, queria poder dizer a ele que tivesse eu mesma braços, seria recíproco.
Queria dizer a ele que você foi só uma menina de olhos de folha levados pelo vento, que não cabe dele se sentir tão perdido e desorientado no meio de quem sempre foi sua companhia.
Possível fosse eu diria apenas uma frase ao quase homem que todos os dias se senta naquele banquinho pra sentir doer a sua ausência: 'Nem todos nascem para ser árvores e plantar raízes'.
Mas talvez ele não entendesse que o destino dela era ser água.
Como eu não entendo até hoje como o meu é esse, ser árvore.


Texto para a edição visual do Projeto Bloínquês.
(Ao som de The Stand In - Leighton Meester)

3 comentários:

  1. Tem um selinho pra tu lá no blog!
    Beijão ;*

    ResponderExcluir
  2. Que Lindo *-*
    " de drama em drama se constrói uma bela história, quem sabe até um romance. Necessita só olhar pra frente, em direção diversa, preferencialmente. "

    Amei essa parte, me diz muito!
    (Gostaria de pedir pra postar essa parte no meu blog, e colocar o nome da autora e o blog. Permite-me?)

    ResponderExcluir
  3. è uma belíssima história, me prendeu do início ao fim. =D

    Ótima semana

    bjos

    Nina

    http://devaneios-fragmentos.blogspot.com/2011/06/o-grito.html

    ResponderExcluir

Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...