sexta-feira, 23 de março de 2012

Da paz que eu busco agora


"Não deixe o sol morrer
Errar é aprender
Viver é deixar viver"


Querido,
Fazem tantos anos ou faz tempo que não te escrevo, não sei contar mais nada desde a nossa última palavra que deveria muito ter sido doce. A propósito, não sei mais escrever. Verdade seja dita eu andei até mesmo um tempo não sabendo viver.
Foi você quem apontou o norte e disse que eu deveria ir. Foi você quem rabiscou a rota no ante-braço e me sorriu tão grande e me falou naquele inglês péssimo de secundarista que 'that's over. That's all'.
Posso te contar segredos bobos? Porque não sei mais o que dizer a não ser que a vida aqui foi estranha nos primeiros dias, chovia tudo que brotava dentro da minha tristeza bem guardada no fundo da minha alma. Chovia e eu queria me desmanchar em gripe ou febre ou tudo pra que quem sabe você doesse aí a minha ausência e viesse me buscar, mão na orelha pra dizer que me amava, de forma que só eu, mais ninguém, tivesse direito à verdade pura e límpida da nossa história. Você sempre me amou.
Fiz escolhas. Fiz inglês, peguei carona, conheci gente bonita e interessante e intelectualizada, visitei museus e praias e parques. Subi e desci tantas mil vezes em rodas gigantes metafóricas ou reais que fiquei um pouco confusa em relação ao que é chão e o que é céu.
Anos depois então estou de volta. 
Estou de volta pro meu lugar no mundo que dizem meus pais é o meu país. Iludidos eles são pois nunca me viram nos seus braços, ali, o meu lugar.
Tanta coisa mudou em mim que sei que não me cabe mais pedir abrigo. A língua está mais afiada, hoje digo verdades como quem compra pão porque haja o que houver é sempre melhor ser real. As roupas não ficam mais viajando da cama para a cadeira e da cadeira para a cama, aprendi a guardar tudo porque não cabe que o mundo veja como as coisas ficam desnudas da gente. Hoje quero ter filhos, quero sorrir pro cachorro do vizinho e jogar pedrinha no lago. Quero descongelar a geladeira e deixar a água inundar a cozinha sem medo de ter que limpar toda a bagunça causada depois. A gente sempre precisa, uma hora ou outra, limpar a bagunça que vem das coisas que descongelam.
Eu quero muito adotar uma criança, quero ensinar idiomas pra ela, quero contar histórias, quero doar sangue regularmente e me alimentar bem. Saltei de um avião, deveria ter te contado antes. Senti tanto medo lá em cima e enquanto todos me olhavam eu só pensava que gostaria tanto que você fosse feito de nuvem pra eu mergulhar dentro de você e me perder no branco céu. Eu estive tão longe amor, tão. Mas você se enraizou de tal forma aqui que foi comigo, teimando sempre, mas foi.
E agora que estou de volta, agora que fui correr o mundo e não sei se aprendi algo que não tenha sido o quanto você é meu, agora que eu estou pronta pra bater na sua porta madrugada caindo e interfone insistindo, agora que eu me tenho por inteira e posso te dar quantas partes minhas forem precisas para tapar todo o buraco de vida que eu sei que você tem. Agora que eu preciso de você mais do que sempre porque eu descobri que faz sentido o nada ou o tudo ao seu lado, por favor dê um passo e venha para a luz do sol.
Dê um passo e deixe que eu te puxe pela mão porque velocidade é algo que corre tão fundo nas minhas veias que não sei andar sem ser aos tropeços. Dê um passo e deixe que eu te faça parar, deixe que eu more no seu abraço, no seu sorriso, na sua casa.
Só venha, por favor. Venha e me diga que a gente agora vai aprender mais do que aprendeu separados nesse tempo bobo, trago festa, sorriso e balão pra você. Trago no bolso os mesmos medos da adolescência, mas trago em mim a marca de quem espera por anos apenas uma coisa: nosso encontro.
Quero ser parte inteira da gente.


(Ao som de Enquanto Ela Não Chegar - Frejat e Come Out Of The Shade - The Perishers)

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