sexta-feira, 1 de junho de 2012

Do melhor feito


"In my place, in my place
(em meu lugar, em meu lugar)
Were lines that I couldn't change
(estavam linhas que eu não podia mudar)
I was lost, oh yeah
(eu estava perdida, ah sim) 
Crossed lines I shouldn't have crossed
(cruzei linhas que eu não deveria ter cruzado) 
I was lost, oh yeah
(eu estava perdida, ah sim) 
Sing it please, please, please
(cante por favor, por favor, por favor) 
Come back and sing to me"
(volte e cante para mim)


Existem dentro de todos os baús que escondo dentro de mim pedaços de você. Existe o cheiro curtinho que vinha do seu pé balançando e atrapalhando a entrada de luz pela janela. Existem fios de cabelo preto ondulado que crescem em meio aos cabelos brancos que hoje me assolam.
Eu me lembro da primeira vez que você esteve aqui, nos meus braços, eu me lembro da tonalidade acinzentada que seus olhos tinham e de como eu tive medo de um dia esquecer tudo isso, como eu tive medo de que você não fosse forte o suficiente para armazenar meu cheiro, minha digital em você.
Fiz tantas escolhas nesse mundo e o passaporte carimbado é marca delas, de todos os idiomas que aprendi durante todos esses dezesseis anos a sua língua é a que eu mais queria saber falar.
Eu te contaria a minha história, a primeira história que você ouviria vinda dos meus lábios, nesse som da minha voz que cantou o amor pra você quando ainda era parte de algo em mim.
Não haveriam princesas nem bruxas nem finais felizes de contos de fadas, minha história traria uma menina ingênua apaixonada pelo mundo e por um homem, ela te faria viajar por um inverno gélido em ruas tristes, uma barriga imensa e a certeza de que metade da vida do universo estava ali dentro dela. Eu poderia te dizer todos os detalhes de todas as palavras que já pronunciei, mas minha linda, eu ficaria te devendo como foi dizer adeus. Eu nunca entendi como fui capaz, faltou ar, faltou luz, faltou coragem. E então você não era mais que um pingente pendurado no meu colar, você não era mais que uma motivação para tudo.
Hoje faz tanto tempo que parti que não sei mais como voltar. Todos os lugares por onde passei durante esses dezesseis anos me trouxeram para essa esquina de sempre, a que nunca esqueci.
E agora que eu sei tudo sobre você, sei dos amigos que tem, dos amores que sonha, sei dos filmes que te fizeram sorrir de um jeito que eu nunca vi, sei dos seus medos bobos de adolescente e tenho uma vontade inumana de te proteger, sei que te contaram a história do Pequeno Príncipe todos os dias antes de dormir como haviam me prometido e sei que você é linda e jovem e que talvez não haja espaço aí para alguém que desde o início te quis todo o bem do mundo e por isso preferiu te deixar, hoje, quando eu te ligar cantando aquela velha canção, quando você estiver com os olhos distantes esperando os amigos para a escola e seu telefone tocar com um número desconhecido insistindo em te trazer de volta do mundo que você sempre vai enquanto espera, quando você ouvir a minha voz e a minha respiração falar por mim tudo que eu não sei se terei forças para dizer, por favor, por favor, não me julgue. Por favor.
Não posso pedir para me amar, não posso pedir para voltar depois de tanto tempo e ter direito a fazer parte da sua vida, mas eu posso te pedir para me deixar cantar como eu fazia quando você dentro de mim estava com soluços.
Talvez aquela velha canção te explique quase umbilicalmente o quanto eu te amei, desde sempre.
Desde sempre.


(Ao som de: Tant Pis - Joyce Jonathan e Aquela Velha Canção - Marisa Monte)
[Texto para o Bloínquês]

Um comentário:

Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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