sexta-feira, 25 de maio de 2012

Do que é Sol em mim

Querido,
Faz dois meses que estou aqui, a cidade já começa a ter mais a ver comigo e eu já posso me arriscar a descer do ônibus pontos mais cedo. Uma hora ou outra a gente sempre se adapta.
Verdade incabível que eu ainda vejo sombras tortas, essa miopia que você apontava e ria. As nuvens ainda formam figuras estranhas e o mar, o barulho do mar, me faz ter ânsia de sair correndo quase sempre.
Talvez se eu corresse o suficiente o ritmo da Terra se alteraria e a gente pudesse ter de novo aquele dia.
Fiz promessas vãs que não falaria mais sobre você, que não pensaria mais em você, que seguiria em frente como você insistiu. Sinto por quebrá-las.
Quando eu era menina me diziam que eu tinha talento e que poderia ser uma estrela. Eu ficava por horas durante a noite olhando o céu quase negro e aqueles pontinhos de luz brilhantes, eu queria ser uma estrela.
Coisa difícil de entender na época e que só agora começo a vislumbrar é que aqueles pontinhos brilhavam muito, mas estava sempre tão só. Tão dolorosamente sós.
Na primeira vez que eu vi seus olhos brilhando por algo que eu fiz quis me transformar na pessoa mais talentosa do mundo para que você me amasse para sempre. Eu pensei que conquistando o mundo você viria junto.
E agora veja onde estou? É alto aqui, é sim. Posso ver as pessoas lutando para ter um lugar ao Sol, posso ver o quanto outras meninas queriam essa posição de ser chamada por alguém que se admira. Eu posso até sentir o sangue de todas as pessoas que escutam quando eu digo que eu venci, eu venci querido, o sangue delas parece fervilhar.
Mas eu continuo seguindo como se tudo não bastasse. Eu continuo esperando você irromper pela porta do teatro durante um ensaio e dizer alguma coisa atrapalhada, eu continuo esperando você.
Tenho dormido muito mal e você como ninguém sabe o que isso faz comigo. Perco o sono no meio da madrugada e vejo você tocando a cortina levemente para assistir as luzes da cidade, vejo você andando devagar para não me acordar e logo em seguida deslizando na sombra e indo embora.
Faço o possível para você ficar, mas você sempre vai. E então eu saio do transe e noto que você não está aqui. Eu pareço não estar também.
Perco o ritmo e a voz não é a mesma, sento e faço longas cartas pra ninguém. E é só você que eu quero sentir por perto, é só o seu cheiro de homem que ainda é um menino e tem medo de altura que eu preciso respirar. 
Eu deveria vencer por nós dois? Perdoe-me por estar sendo tão fraca a ponto de não desejar vencer mais, nesse instante eu até deixei de me importar se os outros estão ou não gostando de mim, me dando valor.
Algumas atitudes me envergonham tanto. Os outros esperam que eu seja um orgulho, eles esperam que meu nome esteja nas capas e que possam mostrá-lo, satisfeito. Eu só queria que ele estivesse dentro da sua carteira, fotinha tirada no colegial e a gente sorrindo de bobo que era por ter a certeza hoje idiota de que o futuro, ah, o futuro era nada perto do que a gente seria.
Sabe querido, se eu dissesse que descobri que mais do que ser reconhecida eu quero que seus sonhos me conheçam como parte deles, você vai me odiar?
Você vai me odiar por ter passado por cima de tanta coisa e ter alcançado pra notar que não era nada disso? Eu sempre tive problemas de entender as coisas na hora certa.
Por favor, por favor, esqueça tudo. Esqueça a carta, esqueça minha conquista, esqueça o que poderia vir dela. Pense só que amanhã pode ser nada se a gente continuar assim. Uma  hora a vida passa, acaba e a gente não leva os títulos que conquistou.
Sabe, isso de morrer nunca me assustou antes, mas agora eu sinto que há tanta vida pra viver aí do seu lado que não me contento em ficar aqui, esperando a hora de virar aquela estrela linda e solitária.
Não quero mais.
Será que você poderia pegar essa carta, apertar junto ao peito e me ajudar a sair dessa roda gigante? Não quero mais estar no topo e ver toda a cidade, quero sua parceria no jogo de tiros, a gente pode ser feliz com um ursinho de pelúcia, pode sim.
Nem toda paisagem, nem todo brilho, nem todo céu me contém se é nos seus braços que eu queria morar agora.
E se nada der certo e eu não for uma estrela, basta que você saiba só uma coisa, você é o Sol. Você é o meu Sol.
Preciso me aquecer antes que tudo isso se vá para sempre.
Amo você.


Rach.

2 comentários:

  1. Tudo lindo aqui!
    Tinha esquecido como é bom fazer um tour aqui no blog e achar sentimentos meus em textos teus! rs
    sucesso, rufles!

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  2. Que carta linda! Quanto amor!
    Quando amamos muito uma pessoa, o coração aberta, sufoca e tudo o que mais queríamos era o sorriso e a presença serena do alguém amado.

    Beijos em teu coração. Estou ficando por aqui.
    http://luzia-medeiros.blogspot.com.br/

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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