terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nosso Amor de Quintal


O meu primeiro amor tinha cheiro de jabuticaba e adorava brincar de lego.
Para os muito novinhos de plantão, lego era a sensação nos meus sete, oito anos...
Erámos da terceira série e eu sempre estive com ele, nossos pais eram tão amigos que nós às vezes dormíamos juntos o fim de semana inteiro, um na casa do outro. Acho que eu sentirei saudades eternas daquela inocência maravilhosa.
Sonhava sempre com ele, morria de vergonha nas festas de aniversário onde o 'com-quem-será' sempre sobrava para mim, mas a felicidade que sentia quando conseguia passar uma fase no 'Mário Word' e ele me sorria em parabéns, ah, ela nem dá para descrever.
Meu amor de menina sofreu muito, principalmente quando ele descobriu que sentia ciúmes de mim, éramos da mesma sala de aula e eu não podia falar com ninguém que ele me batia, batia mesmo! De dar confusão e ter que chamar os pais na escola... Depois ficava alguns dias sem olhar para mim, com vergonha e no fim sempre me sorria aquele sorriso tão perfeito e lá ia eu novamente com meu lego brincar no quintal imenso da casa dele.
Foi com ele que aprendi a sonhar, com ele que aprendi a aprontar, a mentir, com ele que aprendi a ser essa pessoa de gênio difícil, porque ele me cobrava respostas, me pedia sugestões e me obrigava a me revoltar.
Certa vez ele me perguntou se eu tinha segredos e eu toda inocente disse que sim, que eu tinha, que eu achava que gostava dele. Ele me deu um beijo então, um beijo simples, estalado nos lábios e eu fiquei uma semana chorando todas as noites porque tinha medo de jamais sentir tanta coisa ao mesmo tempo, como tinha sentido naquele instante.
Um dia estávamos no mesmo quintal de sempre, eu acho que posso esquecer tudo dele, mas esse dia vai ficar para sempre. O pai dele chegou, perguntou se estávamos bem, saiu, a irmã dele esteve por lá, deu uma olhada e saiu também, até que a mãe dele chegou. Eu adorava a mãe dele porque ela fazia a melhor limonada do mundo e tinha o mesmo sorriso que ele, tinha um abraço que não podia ser mais perfeito e acolhedor.
Ela sentou no chão conosco, pegou nossas mãos e disse que era preciso que a gente entendesse algumas coisas, no mundo dos adultos, para que quando nos casássemos as coisas fossem um pouco melhores.
Eu fiquei mais vermelha que catchup, ele nem ligou.
E então ela nos contou que eles estavam indo embora, ele também não sabia, os pais estavam se separando, eles iriam todos para outra cidade, um tanto longe dali.
Eu fui embora tão devagar, porque eu sabia que era a última vez que eu estaria naquele quintal do nosso primeiro beijo, no quintal dos nossos sonhos, do nosso amor.
E ele foi embora, antes de completar uma semana do anúncio da separação.
Naquele ano eu fiz onze anos e meu aniversário foi uma chatice, eu esperava ele entrar para podermos cantar 'com-quem-será', mas ele não chegou.
Veio dois anos depois, passear por aqui, os pais acabaram nem se separando no fim, acho que a mudança fez bem para o amor deles.
A mudança que afogou meu primeiro amor.
Ele estava lindo, não era mais criança, mas tinha o mesmo olhar e o mesmo sorriso. Era véspera de Natal e ele me beijou, acho que um beijo tão doce que foi quase imperceptível, nós sabíamos que era o último, não porque ele estava indo embora novamente, mas porque não havia mais espaço em nós para aquele amor tão puro.
Dessa vez eu não chorei, fiquei apenas uns bons minutos sentindo o perfume da minha infância, o cheiro das jabuticabeiras florescendo.
Ele me ensinou como era amar alguém, sofrer, chorar, ter explosões de alegria e morrer de vontade de estar para sempre dentro de um abraço, tudo ao mesmo tempo.
Outros amores vieram e aperfeiçoaram o sentimento...
Hoje quando eu digo que amo eu vejo reflexos daquele primeiro amor, não da pessoa em si, reflexos daquele sentimento que se permitia ser tão inocente e infantil.
(Texto para Blogueando - Tema: Meu primeiro Amor)

6 comentários:

  1. Hum, Tay. Minha melhor previsão - JÁ GANHOU!
    Uhul! Realmente, você sabe. Se eu fosse elogiar tanto quanto quero, não caberiam aqui.
    Então é isso. Mantenha-se viu.
    Beijo.

    Saudade de vc.

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  2. Liindo lindo seu texto.
    Eu consegui sentir a inocencia do amor q voc descreveu! amo textos assim, textos que me fazem relamente imginar a cena .
    perfeito parabens!

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  3. aah que lindo! me fez me sentir um tanto quanto arrependida, de não ter me permitido viver um amor de infancia, sempre fui tão turrona e desacreditada desse negócio de amar... mas se não aconteceu, era pq realmente não tinha que acontecer... texto lindo, lindo, emocionante!

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  4. Olá!
    Sou a Rebeca, parceira da Jamylle do Blogueando.
    Lendo teu texto, me identifiquei muito.
    Não estou dizendo que você ganhou, mas o meu voto com certeza você terá!

    Abraços!
    Lindo texto, lindo mesmo!

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  5. Adooooreeeeei, simplesmente ameei!
    *------------*
    beijos e sorte para 'nozes' :*

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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