Eu daria qualquer coisa"
Era uma tristeza repentina de nome barato, feito novela mexicana com protagonista chorão. Uma tristezazinha pejorativa. A rua vazia, a chuva que tinha passado, o esmalte meio descascado e até o laço me diziam que o buraco do peito era fácil de ser preenchido, voltasse eu lá para a festa, para todos os que dançavam e riam e bebiam e se divertiam misturando humores e eu estaria melhor.
Mas não queria.
Me fizera em muro alto pra ninguém ver o que havia por dentro, me trancara em cofre suíço pra que os segredos fossem só meus, inventara códigos e artifícios para me isolar, petrificara o peito e agora, logo agora, eu via que você roubara a chave, você com os olhos travessos e as mãos hábeis. Você sabia tudo de mim, assim, de graça.
Porque então eu não aceitava que qualquer coisa ou o destino ou o nome que quisessem dar tinha nos unido? Tinha dito que seria assim e pronto, fim de novela, de filme, os créditos subindo e eu adiantando na velocidade máxima, eu queria ver o que vinha depois, sempre vinha algo não é?
Então meu corpo te dizia algo e você viu, o laço era vermelho como as joaninhas que você desenhou horrorosamente no guardanapo, a mala indicava que eu partiria ou já partira, o choro, bem, esse tinha uma explicação que eu não queria dar, nem pra você.
Eu iria embora porque eu precisava de novo da solidão gostosa de estar a sós comigo. Porque estar com você tinha um quê de magia e todo esse mundo lindo e utópico que toda garota sonha, e isso me assustava, mesmo tão poucas coisas me assustando.
Eu iria embora porque não dava pra ficar e ser feliz com você, não sem saber que amanhã ou depois ou sempre eu olharia e você estaria lá, sem me pedir pra contar segredos, sem me exigir a mão em dias ruins, sem brigar por eu ser tão parecida com o mar e tão mandona assim. Gêmeos e leão, você entenderia?
Eu sei que não, então, a festa acontecia e eu estava lá, apenas enfeitando a paisagem e pedindo que você não me seguisse, não me quisesse bem, não me ensinasse mais, não me tocasse o cabelo, não me pedisse pra ficar.
Mesmo assim eu te esperava, quem diria.
Texto para a 59ª edição visual do Bloínquês
(Ao som de: Who Knew - Pink)
Lindo, lindo ><
ResponderExcluirOlha eu li, tá ,rs.
Sabe, às vezes essa coisa de querer ficar só nos prega peças, nos faz voltar ao mesmo ponto inicial, o de esperar...e esperar.
Muito lindo seu texto e boa sorte (:
Que texto perfeito, adorei as palavras que você escreveu, cada frase, tudo. "Mesmo assim eu te esperava, quem diria." É tão dificil tentar driblar algo, e sempre quando tentamos enganar nós mesmas percebemos que é em vão, ao mesmo tempo em que queremos a maxima distancia de alguém a saudade de sua presença está junto e muitas vezes é mais forte. Como eu disse, adorei tudo nesse texo, muito bom. Boa Sorte !
ResponderExcluir'' Eu sei que não, então, a festa acontecia e eu estava lá, apenas enfeitando a paisagem e pedindo que você não me seguisse, não me quisesse bem, não me ensinasse mais, não me tocasse o cabelo, não me pedisse pra ficar.
ResponderExcluirMesmo assim eu te esperava...''
Ai, essa sensação descarada de quem se sente arrebatada por alguem e já não sabe se fica ou vai.
adorei esse texto
fazia tempo que eu não entrava aqui. e devo dizer que me surpreendi. no bom sentido, claro.
ResponderExcluirÉ, era fictício. E infelizmente eu nem ganhei :/ Mas é isso mesmo! Gostei do teu blog, gostei desse texto... vou seguir ;) Beijão ;**
ResponderExcluirLi o teu blog do inicio ao fim e amei.
ResponderExcluirAmei cada texto e cada palavra. E este não fica nada atrás, está lindo *-*