Não era como ela imaginara, não havia a luz do Sol para dar um ar romântico, não havia a chuva para fazer com que se parecesse cena de filme adorado, onde estava a Lua dos casais? O cenário de repente deixara de ter qualquer influência na história e ela adorava histórias descritivas cheias de detalhes sobre cores e aromas e os lábios dele que vinham, e os olhos. E as mãos.
Onde estava o coração dela nesse instante? Certamente ele saíra, pedira conta da tarefa de bombear todo aquele sangue, não era possível tarefa assim, não para um coração desajeitado e com tendências ao desespero.
As mãos dele ainda brincavam com as mexas recém nascidas próximas à orelha e ela não sabia não dizer não. Não conseguia conceptualizar qualquer frase que fosse, o tempo parecia não passar e de algum lugar vinha um cheiro de folha sendo pisada em quintal, de grama molhada e de tudo que fora lindo e ela apagara na dor de não ser mais.
Ele estava errado. Ela estava certa então? Isso significava que toda a dor era culpa dela, culpa de uma certeza que ela insistira para ter e então valia o que o fato de que ele estava ali agora, ele estava tocando sua pele novamente, ele estava com os olhos vidrados e ela quase conseguia contar os segundos da respiração tão próxima aos ouvidos.
As mãos doíam. As pernas pesavam um oceano inteiro e lá dentro icebergs começavam a degelar.
E então ela fechou os olhos. Precisava do beijo. Precisara antes da certeza, não mais. Coisa mais estranha de se sentir essa vontade alucinada de ter nas mãos um pedaço de raio. Trovejava a alma.
Veio forte, tempo demais esperando para ser acontecido. Ela não conseguia se concentrar para respirar e o ar desistira de sair de seus pulmões. Tudo nela queria ser parte do que estava sendo tão perfeito. Tudo nele era vontade de estar com ela. Tão ela, tão certa, tão de certa forma feita sob medida para ele.
Ele tocava seu rosto, ela respirava humildemente tentando arranjar substituto decente para o coração já na fila do seguro desemprego.
E o beijo terminou.
E os olhos se abriram.
Não fora sonho, não fora medo, não fora. Os tempos verbais passados não seriam mais precisos, o presente estava de volta.
(Ao som de Silverchair - Miss You Love e As Palavras - Vanessa da Mata)
No geral gostei, está bem escrito.
ResponderExcluirSó foi um pouco "melado" demais pro meu gosto, mas pra quem gosta de (muito) romantismo é um prato cheio.
"Filado seguro desemprego" foi engraçado. :D
Abraço.