sexta-feira, 27 de julho de 2012

Do que a manhã não traz


"Picture perfect memories
(lembranças perfeitas)
Scattered all around the floor
(todas espalhadas no chão)
And I don't know how I can do without
(eu não sei como vou fazer)
I just need you now"
(apenas preciso de você agora)

A manhã chega e com uma palavra ela consegue o que veio buscar. Seu nome rebate em mim e forço a mente pra acordar, forço o peito para puxar o ar, forço a janela para abrir e trazer o sol, mas não tem vestígio de verão nesse inverno que faz tempo habita aqui.
No ritual diário de tentar te expulsar incoerentemente te puxo pra dentro, enrolo a coberta, pego as fotos e volto aos dias em que as nuvens traziam desenhos, alguém bate na porta e eu insisto que está tudo bem, já já estarei pronta, o rosto limpo, os olhos fundos, a maquiagem sorrindo com cara de quem foi em frente.
Até fui sabe, até vou. Novos amigos, novas tentativas de amores, mas toda manhã vem e traz o cheiro que ficou da última conversa, da última vez que tempos atrás suas mãos esbarraram em mim como gesto bobo e eu perdi o controle. Eu perdi o foco e te fiz ficar, eu perdi a chance de ter deixado na mente a vontade e nunca mais ter que acordar pelas manhãs sentido o buraco do peito doer por gritar que já ouve tanto compartilho, tanto preenchimento que agora qualquer sombrazinha faz vazio.
Guardo as fotos na gaveta, guardo o telefone na bolsa e resisto à vontade de discar o número conhecido, abro a porta e resisto ao medo de ir lá fora e ter novamente aquela certeza de que não haverá mais flores no chão, nem vestígios de velas, nem sombra de dúvida de você esparramado no sofá como meu menino amigo que sempre fora.
A gente era fadado ao sucesso sendo amigo? Porque sabe amor, hoje quando eu acordo de manhã e penso que você está do lado dela, dela que tão menos que eu te conhece, hoje quando eu abro os olhos e quase posso sentir a textura da sua mão me dizendo adeus com medo daquela última vez eu enlouqueço e penso que eu podia ter feito mais, eu podia ter insistido pra ser escolhida, mas como eu ficaria com o que sou? É uma escolha só sua, fosse nossa somávamos o sonho e pronto, manhãs seriam diferentes.
E todos os dias se fazem claros e me buscam a paz, porque de noite eu sonho com a gente. O Sol nasce e eu abro os olhos e não te enxergo. Eu aperto as mãos e elas não têm nada pra se prenderem. Eu respiro fundo e cadê o cheiro do seu perfume estampado em todas as minhas memórias de menina? Cadê você amor, cadê você que não vem me descobrir toda manhã, me beijar o rosto e me desejar bom dia?
Então eu fecho a porta, tranco o mundo lá dentro e vou vivendo. Alguém me liga durante a tarde e convida pra vida, eu invento alguma desculpa razoável. Eu invento que tenho você, que o desencontro acabou e que eu tive tempo de te dizer que era o seu amor, você me pegando no colo e rindo maroto. Você me dizendo 'princesa, a gente constrói um mundo'.
Você entendo que construído está faz tempo, pegando poeira de Sol de manhã esperando só você. Só.


(Ao som de Need You Now - Lady Antebellum e Stairway to Heaven - Led Zeppelin)

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