terça-feira, 31 de julho de 2012

Do sim que eu quero ter


How can I just let you walk away,
(como eu posso simplesmente deixar você ir embora)
Just let you leave without a trace
(apenas deixar você partir sem deixar um traço)
When I stand here taking every breath with you
(quando eu fico aqui a cada respiração com você)
You're the only who really knew me at all
(você é o único que realmente me conheceu por inteiro)

Insistentemente cortando o temporal que se formara fora de época eu marchava. O vento fazia com que o ar se perdesse antes mesmo de chegar aos pulmões mas eu não precisava disso, eu não precisava de nada, eu respirava você naquela hora, sugava das memórias a força que te fizera me amar tanto tempos antes.
Os carros não se decidiam entre parar ou permanecer num movimento dançante e eu adivinhava o caos que se formaria já já ali, ele já estava morando em mim fazia horas. Em alguma hora a chuva pararia de nublar nossa visão e o Sol voltaria, só que eu não podia esperar por isso, não mais.
Chegaria até você nem que fosse a nado. Chegaria porque era preciso passar por cima do meu comodismo interno de deixar as coisas serem, de acreditar que de querer demais elas uma hora ou outra caminhariam para meus braços.
Era então um querer compulsivo, me doía a ponta dos dedos a vontade de puxar sua pele pra perto da minha, de ter sua boca beijando meu pescoço, sua voz sussurrando algo que eu não ia conseguir saber por não ter foco suficiente pra entender. Eu me pegara te querendo tanto, tanto, que me dera medo. Você precisava saber que eu estava esperando, que estivera longe acompanhando seu riso partir-se em outro que não o meu, seus olhos de príncipe da minha adolescência virarem fundo para o reflexo de uma mulher que eu, de longe, permitia te levar de mim.
Fosse necessário então arranjar um barco pra vencer o temporal, eu arranjaria. Precisava te dizer que queria experimentar ao menos mais uma vez seu beijo pra que tivesse a chance de ver se éramos assim de verdade, tão feitos sob encomenda celestial, um para o outro, do jeitinho que já era nos meus sonhos.
Que ficasse claro que eu te queria comigo. Que lutaria para ser o seu amor, o seu porto e que ficasse mais claro ainda em mim, lavado por toda a chuva e muito evidente, era preciso força e eu tinha de sobra.
Seu prédio sorriu pra mim, velho conhecido das noites de vigília interna quando eu me impedia de bater na sua porta. O porteiro que eu chamava pelo nome. O elevador acarpetado que eu encharcava com restos de chuva e do medo que eu perdia em choro. O número na sua porta e você.
E se fosse loucura, era preciso mesmo isso? E se eu me humilhasse em vão?
Só que eu era feito um rio sem desague, era preciso revirar aquele mar e dar àquela história a chance de ser real ou secar, de uma vez. Que eu já me cansara de chorar sozinha brincando de ter esperanças.
Seus olhos não me entenderam ao primeiro encontro, o cabelo colado ao rosto, o fôlego em um planeta sem atmosfera, bem longe dos meus brônquios. E as palavras que riscaram as paredes bonitas e recém pintadas e destoantes daquela cena de filme rebobinado mil vezes até ser compreendida como derradeira. As palavras que foram tremendo até morarem em você.
- Preciso que você me queira. Preciso que a gente viva de uma vez que lá vem o mundo e tira você de mim pra sempre, tenho medo. Preciso que você me escolha. Não porque ela não te mereça como eu mas porque eu quero isso mais que tudo em mim. Eu quero muito que seja eu. Que me escolha logo! Que me ame no chão ou em qualquer lugar que seja fora da minha mente. Preciso que me ame ou me solte a mão. Porque não podendo vou recolher o que sobrar e me amar até alguém ocupar por merecimento o lugar que lhe ofereço.
Tremia de frio e medo e ansiedade, tentava mas não conseguia me lembrar da última vez que puxara e soltara o ar.
- Não vim destruir seu mundo. Vim pedir de uma vez que me devolva o controle do meu porque não me cabe mais viver de respirar fundo e esperar você se dar conta de que te espero. Você foi meu antes de qualquer outra, não quero te roubar, quero só conseguir ir em frente, entende? Não quero mais te esperar pra sempre. É agora amor. Você vem? Você pode vir e me dar sua mão pra gente sentar e rir de como foi infantil até aqui insistindo em manter distante nossos pés gelados? A gente pode só sentar e eu ter a liberdade de pousar minha cabeça no seu ombro e te ouvir dizer 'princesa' sem a angústia de ver nos seus olhos a falta de certeza de algo? Vem.
Fiquei ali pensando que podia te beijar até meu corpo congelante começar a usar a sua temperatura pra ser meu Sol, eu podia te puxar pelos ombros até você me acompanhar pra qualquer lugar onde fosse só nosso ou podia apenas virar as costas e ir embora. Mas ainda faltava uma coisa a ser dita.
- Eu amo você.
Engoli em seco.
- E eu vou te amar pra sempre. Mas isso não quer dizer, sabe amor, isso não quer dizer que eu vá te esperar pelo mesmo tempo porque preciso tanto que exista, que seja real. Que alimente. Que ame.
Afaguei sua mão, aquele carinho tão nosso. Dei de ombros e permiti ficar ali até que meus olhos redecorassem cada micro ruga ou pelo de barba nascendo que tinha mudado desde a última vez que pousara nele os olhos. E veio o elevador outra vez, o porteiro, a chuva.
Já não fazia frio. Eu estava na luta. Estava viva e poderia finalmente dormir em paz. As cartas estavam sobre a mesa. Que se escrevesse o futuro.


Ao som de Take a Look at me Now - Emerson Nogueira (versão)

2 comentários:

  1. "- Não vim destruir seu mundo. Vim pedir de uma vez que me devolva o controle do meu porque não me cabe mais viver de respirar fundo e esperar você se dar conta de que te espero. Você foi meu antes de qualquer outra, não quero te roubar, quero só conseguir ir em frente, entende? Não quero mais te esperar pra sempre. É agora amor. Você vem? Você pode vir e me dar sua mão pra gente sentar e rir de como foi infantil até aqui insistindo em manter distante nossos pés gelados? A gente pode só sentar e eu ter a liberdade de pousar minha cabeça no seu ombro e te ouvir dizer 'princesa' sem a angústia de ver nos seus olhos a falta de certeza de algo? Vem."

    Irmã, você traduziu meu momento-coração.

    Te amo e que saudades que eu estava desses sucrilhos e neuroses!

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  2. Ai que lindo! Que saudade que eu tava daqui.. vc sempre me matando de orgulho, ruffles!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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