segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Que lugar ou não-lugar?



- Onde você vai quando está triste?
Ela quis dizer novamente a mesma coisa, que ia para os braços dele, mas ele não estava ali agora. E para onde ela iria?
Havia apenas um não-lugar que outros escritores já tinham descrito, e todos os lugares do mundo que em nada alteravam o seu estado, seu humor ou ainda o seu sorriso triste de Monalisa arrependida.
Sentou-se na pedra mais alta e o balanço do mar trouxe uma paz gostosa, as coisas iam e vinham-se mesmo, que aceitasse o movimento insano do mundo, tão diferente dos ciclos de rotação e transação que tinha aprendido na escola. Nem dava pra saber se aquilo era mesmo um ciclo ou uma reta ou outra forma geométrica, ela tinha fugido dessas aulas também para estar lá nos braços dele.
Na distração ela descobriu um bom lugar, um lugarzinho bem dentro de si, lá no escondido da memória onde ela conservava a pureza dos dias da infância e dos dias com ele, não tão infantis.
Quando caiu a primeira lágrima a tristeza começou a se dissolver, seria esse o remédio?
Chorando ela adentrou na própria história e cavou o mais rápido possível em busca de mais indícios da presença boa e reconfortante dele. Achou.
E o choro ganhou proporções devastadoras e mais tarde, bem mais tarde, ela entenderia que o lugar para onde ela ia quando estava triste era tão dela, tão dentro dela, que até nele ela o encontrava. Não era para os braços dele que ela ia sempre, era para dentro dela, ali naquele abraço tão bom com cheiro de chuva começando a cair em tarde de muito Sol.
E só mais tarde, quando entendesse que a causa e o remédio de tudo estava lá guardado bem debaixo do seu nariz, no peito de batidas inconstantes, ela poderia voltar para os braços antigos dele, e dizer sorrindo que ele não a fazia triste, nem feliz, nem nada.
Ele não a fazia, simplesmente.
Ela se fazia sozinha e com ele, se dividia, se completava, mas inteira.
Porque ela tinha finalmente compreendido a ideia boba de que para enxergar e aproveitar o mundo, as pessoas e tudo mais que ele lhe oferecer, é preciso estar bem ali dentro, é preciso conhecer o pedacinho que cabia somente a ela. 
E talvez nunca mais ela fosse triste, mas mesmo assim, ela voltaria ali sempre. Acredito que na verdade, ela passaria a morar ali.


(Texto para a Edição Musical do Bloínquês)

4 comentários:

  1. Ela moraria dentro dela...

    Mas e se ele resistir e não quiser se mudar?

    Parabéns pelo texto, boa sorte!

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  2. Deixei dois selinhos para você no meu blog.
    Beijos
    http://meulocus.blogspot.com/2011/01/selinhos.html

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  3. Oi minha linda! Saudades de você, do nosso tempo de risos, do tempo "solto", das confissões, até das lágrimas. A saudade aperta e parece ser uma palavra grudada em meu peito.
    Te amo!
    ;*

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  4. Nossa, que liindo *-* Espero que você ganhe!
    Meu blog: http://prontaparacrescer.co.cc/

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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