segunda-feira, 18 de abril de 2011

De pano e chumbo




"Chega pra envolver
Envolver querer"


Era uma vez uma boneca de pano e um soldadinho de chumbo.
Ela tinha no peito costurado um coração-botão firme e decidido. Ele tinha nas pernas a força do metal trabalhado. Mas tinham que se encontrar pra distrair certezas porque uma vida toda feita antes da gente nascer não é tão bela quanto uma história inventada aos poucos, palavra por palavra.
Dele veio aquele encanto pela alma bailarina que ela tinha, o olhar desenhado que prometia tanta coisa. É que ela sorria, ele dizia. É que ele calava, ela não entendia.
Sem ensaios ou frases prontas, mas cheio de um medo que não é comum em soldados ele tentara uma aproximação, mas não haviam planos e mapas para se achegar ao território da boneca de tecido e alma leve.
Por palavra não fora, por receio bem menos, cautelosamente ele ia desejoso de que a paciência vencesse o receio, teimosia ou o nome que dessem.
E ela com aquele sorriso tão delicado enxergava a aproximação sem entender o burburinho interno por ver o desajeito de um soldadinho.
Ela queria que ele conseguisse, no fundo e no meio de um monte de algodão ela queria que ele a tocasse para que o tecido se misturasse por alguns instantes com o bronze.
E então, da forma que só quem acredita em contos de fadas entende, em uma noite comum a prateleira ficou pequena pra grandeza de um toque. De um abraço. 
Do que veio e fez a história.
Ela sorriu aquele sorriso de boneca de pano.
E ele teve a certeza típica dos soldadinhos de chumbo.
Junção poderosa que fizera lá longe estrelas no céu, porque não era só a força e a delicadeza que abraçadas perfumavam o mundo.
Era um carinho que agora era parte dos dois e tornara o algodão mais macio, o bronze mais brilhante.
Ele adorava perguntas. Ela vivia de questões.
E sem respostas mesmo quem sabe conseguiam ir em frente, mãos dadas.
É que tinham uma vontade de ser mais lá dentro deles e não sabiam a força que essa vontade tinha.
E quando lá na frente fossem contar a história de dois personagens tão atípicos as pessoas se lembrariam de como é mágico o jeito dos contos se tornarem reais.
O jeito que o encanto acha para acontecer em corações-botões e de se fazer agir em pernas tortas de chumbo.
Era uma vez uma história que começava a ser escrita.


(Ao som encantado de: Tema de Amor - Marisa Monte)

9 comentários:

  1. Nossa Thay quanta delicadeza! Tanta que me faltam palvras do mesmo porte para comentar. Então só me resta pegar uns versos emprestados de um grande poeta para ilustrar a emoção que seu texto transpôs!

    "Um amor tão puro que ainda nem sabe
    A força que tem
    é teu e de mais ninguém...
    Aqui ou noutro lugar
    Que pode ser feio ou bonito
    Se nós estivermos juntos
    Haverá um céu azul
    Um amor puro
    Não sabe a força que tem..." (Djavan)

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  2. Menina, adorei o teu texto. Você encheu ele de leveza e encanto, de novidade.

    Pra a gente ver que diferenças também podem fazer uma unidade.

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  3. Esses brinquedos encantados são mais duráveis que um simples organismo vivo, mas sem sentimento. é que o encanto dá força para possíveis momentos de maiores dúvidas.
    Diz o caio: "o que vem de dentro tem valor". Tão lindo o texto, lindíssima! Espero que seja tão conto, quanto encantado!
    Sorte pro soldadinho e a boneca de pano.
    Meu beijo

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  4. Thay, minha escritora incrível, parabéns por conseguir colocar em forma de texto uma coisa muitas vezes difícil de explicar: o amor, ou melhor, o início de uma linda história de amor.
    Desejo que essa doce boneca e esse forte soldadinho continuem a se encantar e maravilhar as pessoas com sua história.

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  5. Own, que lindos!
    O cheiro de todo esse perfume veio até aqui bater em mim!
    Quero saber como continua a história desses dois!
    *-* é muitamô

    bjos mamae!

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  6. Muito obrigada pelos elogios Tay. Confesso que já tive por aqui algumas outras vezes e que li alguns textos seus -maravilhosos por sinal- mas como o meu dia é literalmente corrido, falta-me tempo para deixar comentários. Tentarei fazer isso mais frequentemente nesses blogs com escritores fascinantes.
    Bem, o que posso dizer desse texto de um lado áfavel e doce e do outro 'ríspido' e sólido? Um encontro perfeito não? A sutileza das palavras me conduziram a um som vibrante. Há palavras que nos chegam aos ouvidos como melodia. Assim foi.

    Grande beijo.

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  7. A minha menina de Minas...
    Tava com saudade de tu e das tuas histórias lindas...sempre tão cheia de sentimento.
    Te amo visse!
    Me visite sempre que puder e o espaço continua aberto aos seus comentários.
    Fiz um post novo, se chama Rosana...é uma história sobre sonhos!
    Xeiro flor
    ;)

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  8. Nem sei porque eu ainda tento comentar seus textos.. Sempre comentam antes com interpretações formidáveis e como sempre, voce é espetacular.
    Beijo Tay.

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  9. Ah Tay, que lindo, incrível como você pegou essa história e deu toda uma vida a ela! =D
    "como é mágico o jeito dos contos se tornarem reais." *------*

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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