segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pra aquecer



"Querido,
Você provavelmente está rindo o seu sorriso mais doce ao ver o meu embrulho chegar, em algum lugar aí dentro você deve ter previsto que cedo ou tarde eu enviaria meu coração dentro de uma caixa, já que a chave você julgou sempre pertencer.
Por dias eu quis arrancar o peito e te enviar sim, depois veio a raiva e tivesse eu contatos terroristas um pó estranho chegaria pelo correio.
Mas passou o temporal e veio o vento com seu cheiro sabe? Maldito perfume esse seu que não há banho que afaste.
Então por favor, para começar, desfaça o sorriso, não te mando boas novas, sinto muito. Não são boas e nem novas, são apenas notícias de uma vida que vai seguindo em frente. Aqui e ali tropeço com suas roupas jogadas no sofá, sua toalha sobre a cama e a sua mania de apertar a pasta de dente no meio. Eu te persigo na memória e te expulso na vida real, coisa insana.
É que não dá pra te querer pra sempre, não com você aí, sem saber ao certo o que fazer. Não dá pra deixar a janela aberta todas as noites esperando e confiando que uma hora você vai se tocar da minha ausência, se tocar da sua ausência e me trazer de volta o que me falta. Maio vem aí amor e está esfriando aqui, preciso fechar as portas que te esperam.
Foi sua opção, não a minha, mas que bem que lhe quero aqui dentro!
Sabe aquela coisinha da gente passar a tarde de mãos dadas olhando para as árvores balançando suas folhas e dizendo que com a gente ia ser tudo diferente, é.
É diferente porque as pessoas dizem que a gente acabou, mas eu me lembro de você me deixar sorrindo com um beijo na testa e ir-se indo. Gerúndio não aceita ponto final, é contínuo e a gente ainda vai construir alguma coisa, sei que vai.
E mando então madeira. 
Sou uma tolinha amor, mas eu sei que não há calor aí também. Sei que o frio que faz nos meus pés não são suas meias que vão alterar.
Mando matéria-prima da fogueira que preciso que te aqueça, imagine que fui até a árvore que era nossa paisagem distante e pedi permissão para arrancar alguns galhos. Expliquei que era causa justíssima amor. Ela deixou.
Lembrei você lendo Clarice e me dizendo que me amava do seu jeito de apanhar gravetos.
Pega a caixa e sente, tem fogo morto esperando nascer aí. Faz favor de ligar.
Faz favor de colocar aí no seu peito murcho que você está tentando fingir de cheio, deixa aquecer e colorir seu rosto, deixa avivar os olhos e quando estiver queimando tudo, vem pra mim.
Imagine a confusão pra eu me convencer que não enlouquecera de vez ao te enviar pedacinhos de pau, insistia que era o jeito, não há que se fazer quando o outro insiste em comer terra pra esquecer que já foi mais que um.
Agora amor, aquele sorriso do início, quando você colocou os ouvidos no embrulho e tentou ouvir um turu-turo desafinado, volte com ele.
Razão não queria lhe dar, mas é sua a chave.
E é seu o fogo.
Junte tudo com carinho e me traga uma fogueira linda.
Faz favor amor de vir logo que o fogo é grande e pode queimar tudo se você não dividir.
Tenha medo não que está escuro, mas a claridade vem contigo, e se a janela estiver fechada incendeie que acordar em meio ao fogo nosso vai ser no mínimo maravilhoso.


Com carinho de um coração teimoso,
Beijo,
Tay.



(Texto escrito para a edição cartas do Projeto Bloínquês)

4 comentários:

  1. Seguindo, segue? http://wwwgirl-teen.blogspot.com/ Obrigada. Beijos.

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  2. Ler suas cartas é sempre uma perda de tempo. Da próxima vez darei 10 sem ler!

    Brincadeira Tay, mas a carta estava linda D-E-M-A-I-S! Eu particularmente adoro textos que acabam com finais tecnicamente felizes.

    Tecnicamente porque eles não são felizes de fato. Na verdade não são finais. Eles deixam um gostinho de quero mais sabe?

    Eu amei, de verdade!

    Parabéns, tenha um ótimo final de semana! *-*

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  3. Tay,

    Que bonito seu canto. [Não sabia onde comentar e acabei entrando nesse sem saber se é o blog oficial]. Ainda bem que cheguei aqui e pude sair leve depois dessa leitura tão doce. Será que a fogueira foi montada, então? Tomara que sim. E que não deixe nunca de aquecer.

    Ó, obrigada por aparecer no Líricas. Volta sempre que quiser, viu?

    Beijo.

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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