terça-feira, 2 de agosto de 2011

Das alegrias alheias





Tinha uma frase da Clarice que ela vivia tão delicadamente nos seus anos de fim de infância.
Com o conta-gotas roubado da prateleira ao lado do filtro Ana Terra espremia, tampinha na mão direita, esquerda colada ao rosto. Ali bem embaixo do olhar ela coletava todas as lágrimas, revezando com o tato hábil o olho brilhante de onde caiam.
O pai passou e não reparou a menina sentada lá no cantinho da varanda, mas a mãe sempre notava, custava a entender aquela menina, mas enxergava tudo que dizia respeito a ela.
Não careceu nem pedir explicação, vendo o jeito questionador da mulher a menina levantou um pouco os olhos e soltou como quem segreda tolices sem importância:
- É que um dia podem precisar delas pra felicidade. Não sei ainda, mas um dia, um dia... Quem sabe.
Anos mais tarde a menina poderia espalhar as lágrimas pueris guardadas cuidadosamente em um conta-gotas, ela pingaria carinho passado em cada gota, a gente nunca sabe o que o outro precisa pra ser feliz.

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Beijos!

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