terça-feira, 22 de maio de 2012

Do frio maio


Pequeno,
Estamos no fim de maio e não parece um milagre que eu tenha chegado até aqui sem nenhum arranhão profundo? Estou pelas beiradas, acredite.
Certa vez te disse que só podia ser o medo dos fantasmas de maio. Sinto o som de maio, sinto o cheiro... Isso me assusta!
É como se nos trinta e um dias desse frio mês eu andasse pisando em ovos, como se eu andasse vendada, ouvidos atentos, tateando o vento gélido e tocando com os pés em ovos.
Existe um susto pronto para acontecer em mim e os dias passam tranquilos, protelando o pulo, o choro, aumentando ainda mais o medo. É como se o ar de uma hora para a outra fosse faltar, sei das coisas mas não sei do tempo.
Maio arrasta correntes e deixa meu pulso de menina enlouquecido.
Não posso negar sua beleza clássica, o céu daquele azul dos seus olhos que eu nunca vi mas sei que existem. Esse vento cantante e o cheiro do chocolate se afogando no leite quente.
Acho que já morri em maio. Outros tempos, eu sei. Você vai dizer que não convém chorar defuntos que já se decompuseram mas a memória não mata a matéria nesse tempo.
Não é o choro. Não é.
Só não sei o que fazer de mim, fica uma previsão e até uma forma diferente de sorrir faz com que toda louça suspensa ameace cair e fazer um estrondo em mim. Sinto muito, você me ensinou que não cabe medo em coisas tão certas. Não cabe. Mas não é disso, juro. É só medo que maio me leve a alegria certa que virá em  junho. Que maio me leve o resto de sanidade.
Por favor, tenha paciência. 
Tenho passado dias me evitando, evasivamente ando, sendo deserto ou não, respondo, sorrio quando questionada. Há um receio de que por distração boba eu perca o foco, receio de que eu adormeça sem fazer prece pra que se sobreviva mais uma noite. E mais uma e pra sempre.
Houve dor sabe, anos atrás, anos. Mas maio ainda tem o cheiro de flores e santas e igrejas cheias de rostos nublados desse inverno antecipado. O cheiro da dor de tudo.
Sorria pra mim. Dê-me a mão. Eu sei ser alegre, você que me conhece tão bem sabe mais que todos. Você sabe da minha capacidade de em dois minutos me distrair de tudo e rir com você de forma única. Ando bem, ando feliz, só um pouco assustada. Há tanta coisa boa ao redor, tenho sido grata.
Só gostaria realmente que você viesse. Venha porque sinto tanta a sua falta e não sei se dizendo isso você vai compreender, não sei se você vai querer. Espero o sorriso e te direi que maio passou, tudo é sólido outra vez.
Não me julgue idiota por ter medo de um mês, não ria e por favor, não se afaste. Já basta a distância que eu estou de mim.
Há caminho para ir e o Sol, mesmo sem aquecer tanto, ainda brilha.
Pergunte por mim, me reconheça mesmo quando eu disser que não é nada, acenda a luz e me conte uma história para que eu pegue no sono e esqueça.
Fantasmas só existem porque nossos medos os alimentam. Me ajude a enxergar que já estou grandinha.
Me mostre que não haverá mais interrupção no meio da noite para arrancar o sono em todos os maios vindouros.
Aperte firme minha mão, sorria do outro lado e me diga que toda dor que maio poderia trazer já veio. Agora são outros maios.
Outros.

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Beijos!

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