sexta-feira, 25 de maio de 2012

Do que não sei dizer



It's a quarter after one,
I'm all alone and I need you now.
Said I wouldn't call
but I lost all control and I need you now.
And I don't know how I can do without,
I just need you now
And I wonder if I ever cross your mind
For me it happens all the time.

As mãos frias discaram aquele número tão conhecido e por cinco segundos entre um toque e outro eu acreditei fielmente que nada havia mudado, no fundo eu sabia que não era a minha voz que você queria ouvir mas foi impossível não correr o risco.
Você atendeu. Você atendeu e como se fosse capaz me roubou todo o ar na angústia por não ter certeza se você simplesmente não reconheceu meu número ou desejou ouvir minha voz.
Eu precisava, eu precisava muito te dizer tudo porque não havia mais modo de prender tudo isso em mim, eu sufocava dia a dia e não mais podia suportar todo aquele mundo estranho que se formara por minhas próprias mãos.
Então com a voz que me foi o despertador mais perfeito por tanto tempo você disse alô e eu precisei seguir em frente, eu precisei te entregar tudo que tantas vezes te negara.
- Eu nunca quis. Eu corri o risco porque pensei que fosse ser melhor e mais fácil sem você. Eu sempre soube que era loucura mas eu não poderia me machucar mais, entende? Você desde o princípio alterou minha rota, e eu não sabia mais o que fazer daquela menina boba que tinha me tornado. Eu que nunca acreditei em filmes tolos, nunca acreditei que uma voz alterava tanto. E agora eu só queria que fosse menos frio aqui porque seu corpo fez um buraco no colchão que eu nunca vou ser capaz de cobrir. Ainda tem o cheiro do seu perfume em todas as minhas blusas, por mais que eu insista para que todos lavem e lavem e lavem. Ainda tem o seu perfume dentro da minha narina, só pode. Não quero acreditar que ficou tão marcado assim.
Do outro lado só havia silêncio e eu quase pensei que estava tendo uma alucinação, continuei:
- Eu gostaria tanto que você tivesse notado tudo isso, que tivesse me apertado a mão, me comprado uma pipoca e se sentado comigo no banco da praça. Eu gostaria de ter acreditado que te dar tudo que eu te dei, desde o princípio não era em vão, não era nada em vão. Precisava que você me estendesse os braços e me permitisse passar ali as dúvidas mais pesadas que já tive, sem perguntas, sem cobranças, só lealdade. Só amor. Eu preciso disso ainda. Não é estranho que depois de todo esse tempo e eu insistindo que passou e dizendo que você foi e me trouxe o que tinha que trazer eu ainda queira ter seu toque? Eu ainda não saiba o que fazer do que ficou, do que escapou do meu controle e precise que você dê cabo porque não dou mais conta de não sentir outra coisa a não ser isso. Preciso que você me devolva a minha parte. Preciso que você me traga de volta o que eu te dei e que me permita, por favor, me permita tentar recuperar o fôlego e dizer que se eu não quisesse, se eu não tivesse desde aquele primeiro gesto, olhos pequenos, sorriso grande, eu fui o que podia ser, o que soube ser. Eu sei que não sou mais nada e que para alguns a velocidade é distinta, é múltipla. Em mim está tudo parado ainda.
Já não sabia desde quando estava chorando, ele estava mesmo do outro lado?
- Vem.
Era preciso ser sincera, era o que eu esperava. A única coisa que esperava.
- Diz que você ainda não me esqueceu, diz que eu marquei e que você ainda pensa em mim, diz que até dá pra ir em frente mas que a gente pode ficar junto e ir aos poucos, passo lento de valsa nipônica. Vem porque eu descobri em mim um querer que não sei de onde brota, mas me atordoa não conseguir nem abrir a janela sem lembrar algo que você tenha dito, ou feito, ou vivido. Não sei mais o que sou eu e o que é lembrança inventada do meu melhor amor que eu tive medo e estraguei. Talvez eu tenha me tornado outra e tenha aprendido coisas fundamentais, talvez você não. Talvez você ainda seja esse cara turrão que é o dono da razão e que queria coisas tão distintas de mim por muitas vezes. Mas só agora eu preciso de um jeito mais físico impossível. Doem os músculos...
Do outro lado da linha alguém pigarreou e eu fiquei esperando uma resposta. Coração na mão e razão começando a voltar ao normal eu quase me arrependia de ter sido tão sincera, tão puramente objetiva, eu notava a minha súplica e sentia até um pouco de vergonha, o que todo mundo diria se me visse assim, pedindo amor?
Um barulho interrompeu meus pensamentos e ele não estava mais lá. O toque de chamada encerrada fez com os dedos doloridos se soltassem do telefone.
Nenhuma resposta dele, nenhum sinal de que viria ou que ficaria preso assim em mim para sempre. 
Olhos na porta eu dormiria chorando e no outro dia o frio me acordaria me lembrando que era inverno e as coisas são assim mesmo no inverno, carecem de mais proteção.
A noite estava só começando, eu poderia esperar.

(Ao som de: I need you Now - Glee)
[Tradução: São uma e quinze/ Eu estou completamente sozinha e preciso de você agora/ Disse que eu não ia ligar/ Mas eu perdi todo o controle e preciso de você agora/ E não sei o que vou fazer sem você/ Preciso de você agora/ E eu quero saber se ainda passo pela sua mente/ Para mim isso acontece o tempo todo.]

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