domingo, 12 de setembro de 2010

Bem forte e sem açúcar



Vieram as xícaras de café e a conversa tomou outro rumo. 
Ela deixou a franja cair sobre os olhos por alguns minutos ignorando a força que ele fazia para notar se havia ou não lágrimas em seus olhos.
Quis dizer que sentia muito, mas era desnecessário expressar qualquer sentimentalismo bobo, talvez ela nem sentisse. Lá dentro era uma garota crescida que não mais acreditava em amores eternos, sabia que ele era especial, mas se tinha que ir, que fosse então. Logo.
Uma vez ela cortou o dedo e o sangue saía como se fosse possível escapar todo por aquele buraco mínimo, não sabia porque, mas tocando com a unha a pontinha do pires, ela se lembrava disso.
Encarou-o e segurou a gargalhada.
- Eu queria fazer parte do seu mundo, eu tentei sabia? Eu li seus livros, ouvi suas canções preferidas e busquei compreender o universo que você habitava. Eu fiz sonhos para nós dois e imaginava as brigas que teria com você ao ver o modo como você educaria os nossos filhos. Teríamos uma menina e ela não teria seus olhos, mas o seu olhar. Eu fugi tantas vezes do clichê porque sabia que ele te desagradava, desisti das frases feitas e me cansei de notar o jeito doce como você sorria ao ser olhada. Eu fiz tanto e hoje eu jogo tudo fora, porque de que me valeu usar neón pra dizer te amo, se você não entende nem em braile? Vê. Eu estou aqui agora dizendo que vou partir, eu nem sei para onde, talvez eu nem vá, mas me ver livre de você é uma necessidade para notar se você vai ao menos olhar para trás quando eu partir.
Ela achou tão delicado a forma como a luz teimava em pousar nos dedos dele, reparou que a camisa estava com a gola direita desarrumada e sentiu amor como jamais sentira antes. Ali estava ele, frágil, com medo e dor, pedindo socorro e virando as costas para ser notado. Um menino perdido sem seu urso de pelúcia ou seu cachorro companheiro.
Deu uma golada no café e pousou a xícara com força, haviam revistas nas prateleiras, de algum lugar ali os Beatles acenavam e diziam para ela ir em frente.
- Se você não fosse tão a réplica de sonhos infantis que tive, se não fizesse tudo em câmera lenta e não me matasse de rir por dentro achando que sou tão insensível a ponto de notar que você já não está aqui, que já partiu para voltar triunfante ao ver minha saudade, se você não fosse tão esse complexo ambulante eu não sei se sentiria esse quase amor, que vai ver você consegue moldar. Ainda bem que você vai, porque eu vou te esperar, se é o que você quer ouvir.
Ele saiu então, ventou na porta do café e ela segurou com força a xícara dele.
Minutos depois ele estava ali, rindo de tudo aquilo, e mais xícaras vinham, e o assunto já havia se transformado em banalidades amorosas, como de costume.



Post para a 32º Edição conto/história do Bloínquês.

(Ai que saudades do meu mundo aqui do blog! Setembro veio, a primavera está chegando e enfim eu consigo organizar os pensamentos para postar novamente!! Espero um mês lindo para todos nós! E lógico que não ia esquecer de me lembrar, mesmo ela não lendo o meu blog, hoje é aniversário da minha mãe!  Feliz aniversário para ela!!! Te amo mãe!)

11 comentários:

  1. Nossa, entrei na história de uma forma que poucos escritores conseguem me fazer entrar. O cenário a as falas foram escolhidas a dedo. adorei!

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  2. hãaaaa! Você comentou no meu blog ao mesmo tempo que eu comentava no seu. *-*

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  3. que lindo *-* parabéns pra sua mãe!! :*

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  4. Ótimo o texto e o blog!
    Espero que seja mesmo um bom mês com chuva, afinal, onde moro está a cento e poucos dias na escassez.

    []'s

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  5. Que lindo! Bem melódico no começo, mas o fim foi bom. Gosto de finais felizes, haha!

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  6. A-do-rei! Às vezes a gente precisa de um sinal do outro para se sentir amado, né? Isso soa meio estúpido, mas somos tão carentes... Adorei mesmo o texto, ficou muito interessante, o modo como você escreveu e tudo mais! (:

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  7. amei seu blog, amei seu lay, amei seus textos... parabáns vc é mt abençoada msm!!!

    bjs

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  8. Uma chícara de café bem forte por favor!
    Adorei o post
    XD

    Fica com Deus

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  9. Parabéns pra sua mãe amore, e sabe, eu sei o que é sentir isso, acho que eu sei o que é sentir de tudo. Mesmo sem ter vivido nada, eu imagino como é. Mas essa coisa de nao saber se o sentimento é mutuo dói muito, a gente passa noites chorando por isso. Quando podemos simplesmente perguntar, e descobrir.

    beijos, se cuida :**

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  10. Às vezes acontece comigo de o amor apontar no coração em momentinhos banais, numa expressão expontânea, uma gola desarrumada... Linda a crônica, amei o ambiente!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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