terça-feira, 14 de setembro de 2010

A vida lá fora


'Ninguém nunca te disse como ser tão imperfeito?
Você tem tão poucas chances de alcançar o seu destino'

Soltou a corda do balão e sentiu as mãos coçando de vontade de detê-lo, mas foi impulso tardio, estava livre e partira já.
Aquele vento que levava embora o que a gente não dava atenção por cinco segundos.
Sorriu pro destino então, lá longe reparou no olhar dele, insatisfeito com o time que jogava, tão imerso em seu mundo futebolístico, incapaz de sentir o suor que escorria do lugar onde nasciam os cabelos na testa. Incapaz de notar que ela o despira com pressa e sede, porque isso de amar aos poucos não cabia na estação.
Sugou o ar e mastigou o picolé, chutou alguma pedra por ali e procurou se lembrar da definição de felicidade que lera em um livro da Clarice Lispector, em vão. Talvez o calor não combinasse também com frases estudadas e retiradas de livros cultos.
Os sentimentos deviam variar conforme o tempo e a passagem das estações, sobrava vez ou outra o desespero de ver tudo mudar tão sem consciência.
Foi até ele e jogou-se ao seu lado, esbarrando nos braços tão maiores de longe. Era banal mas ainda assim era amor.
- Casa comigo.
Nem perguntou, ele não se daria ao trabalho de responder. Saiu como ordem mesmo, como sentença de vida. Casa comigo pra eu te tirar desse caos interno que sei que você também vive, idiota.
Ele olhou ao redor e notou a menina, cabelo despenteado pelo vento, dedos melados e olhos vidrados.
- Aquele era o seu balão, não é? Quer que eu lhe compre outro?
- Eu o soltei de propósito. Ele é livre.
- Você não é muito nova para expressar tudo isso?
- Sou muito nova pra quase tudo.
Ele não achou a graça que ela imaginou do comentário e o assunto acabou assim, sem nem ter pausas constrangedoras.
Fim de amor em pleno verão ainda.


(Ao som de: Algum Dia - Capital Inicial)

2 comentários:

  1. "Casa comigo pra eu te tirar desse caos interno que sei que você também vive, idiota." Gostei dessa parte, em particular!! =D

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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