quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Por que você se fez tão linda?


Paris, 05 de fevereiro de   2001.
Lívia,
Eu sei que a primavera enche seus dias de luz e flores, aqui no velho continente o outono é como nas imagens que víamos na tevê, milhares de folhas tomam o chão e o vento torna quase insuportável sair às ruas sem um bom agasalho.
Sempre soube que Paris era linda, quase como sabe-se que o Brasil é quente e o Rio de Janeiro é a cidade maravilhosa. Existe em cada esquina um ar tão romântico... Sinto sua falta.
Queria seguir o protocolo e te enviar uma primeira carta narrando cada milímetro da minha escolha, essa que desejo veementemente que culmine em uma carreira de sucesso e a mulher que amo do meu lado.
Amor, não entendo seus motivos, não entendo porque de um dia para o outro os sonhos tornaram-se pesadelos e não entendo porque você abdicou de tudo assim, tão fácil.
Sabe, eu não entendo como você desistiu de viver nossa história de amor, não por ser Paris ou pelo curso de dança ou por qualquer motivo. Não entendo como você abriu mão tão fácil do que era pra sempre em mim.
Durante algum tempo tive medo de que a verdade nua e crua fosse que era em mim, só isso. O sonho, o amor, tudo. Mas Paris me mostra você em detalhes, durmo, acordo, estudo, trabalho e o seu cheiro impregnado nas minhas mãos não sai ainda que eu as lave compulsivamente. Em cada milésimo eu penso em você. Em cada café sinto o seu gosto. Em cada livraria sinto sua falta. Em cada 'cada' eu penso que não poderia ser tão forte se fosse apenas em mim.
E a lembrança do seu rosto, do seu sorriso e do seu sotaque forçando um francês fofo me arremessam ao chão cheio de folhas mesmo, praticamente nu em meio ao vendaval. Nossas canções foram expulsas do som, mas elas não me deixam descansar a mente sem trazer você de volta.
Queria que tudo fosse mais simples e se resumisse em 'eu te amo' e 'você me ama'. Talvez o amor não exista ou resista. Mas algo me mata e quero muito morrer nos seus braços. O que é isso então? Me canso de analisar tudo e não consigo mais não sofrer os minutos pingando e me lembrando que em outro continente está o brilho de olhos que mais procuro. Paris é a cidade luz e eu procuro uma sombra que não está passeando por aqui.
É uma carta estranha, eu sei. E estranho mesmo é o fato de que eu não consigo te esquecer, ainda que pense que você desistiu de tudo e de mim, ainda que olhe ao redor e veja o meu futuro me esperando.
Eu assistia você dormindo e acreditava que ali naquele universo de sonho você era ainda mais encantadora, quase sempre sorrindo. E agora eu peço ao vento pra voar longe e trazer você pra mim, porque quando eu durmo não é suficiente a sua presença.
Por dias eu quero largar tudo e ir atrás de você, e Paris me olha de soslaio e eu entendo que escolhas não podem ser largadas assim.
Estou aqui e você não, mas sabe amor, não te deixo assim tão fácil.
A França, o Brasil, o mundo, tudo é bem pequeno se a gente olha de longe. E mesmo que você leia tudo isso, me ache louco e rasgue, eu vou voltar.
Eu vou voltar para você, porque você é a parte que me cabe desse Universo pequeno. Paris pode até não contar nossa história de amor, isso não a tornará menor, amores são amores, onde quer que estejam.
Sou seu.

Miguel.

(O Miguel e a Lívia são personagens do romance escrito por mim,  'Meus Pijamas em Paris?!', publicado pela Editora Biblioteca 24 Horas. As vendas por enquanto estão disponíveis apenas pela internet, aqui. Essa carta não é parte da obra, é apenas um conto que escrevi para a Edição Musical do Projeto Bloínquês. Mais detalhes do livro serão expostos em breve!)




3 comentários:

  1. Fiquei curiosa para ler o livro... Amo Paris, mesmo nunca ter ido lá rss Amo francês! Quero ler o livro!!

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  2. Que lindo esta carta Tay, me lembrou coisas do passado. Se cuida mamis, beijos <3

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  3. E SEU LIVRO, MAMIS, VAI SER O MAAAAAAAAAAAAIOR SUCESSO! <3

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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