quarta-feira, 7 de abril de 2010

O primeiro 'Quase-Amor'


'A boêmia é meu mau
E a minha estrada é dura
Nada do que eu digo é real,
Não tenho medo,
Sou impura'


Tinha treze anos e toda a sorte do mundo que cabia no sorriso metalizado. Tinha os olhos de conquistadora do universo e as mãos ainda um pouco trêmulas de medo e timidez pelo primeiro-enfim amor.
Era a sua vez de tentar ser real, sua vez de largar os livros e tentar fazer um conto de fadas mais interessante, um conto de fadas onde a Cinderela tinha os cabelos encaracolados e o príncipe acabara de chegar na cidade, em um circo.
Passou a semana toda esperando o momento certo de se aproximar, assistiu a todos os espetáculos com a sede que só a idade lhe permitia, o via saltar de um trapézio ao outro e sonhava com a força que aquelas mãos poderiam ter, quando ao fim do espetáculo o seu príncipe virava palhaço ela se divertia por saber que ele, mesmo sem saber, já a fazia feliz.
Durou uns bons cinco dias os suspiros poéticos a procura da palavra certa e ela veio em uma tarde de matinê: queria uma pipoca e ele estava no comando do carrinho.
Um sorriso, um pedido e ela foi sincera de um modo que nunca mais soube ser: 'quero que você me beije'.
Quando viu já havia falado, ele não mais tão menino, tão diferente de todos os garotinhos ingênuos que ela conhecia soube o que dizer e talvez até já estivesse esperando por aquilo.
O espetáculo da noite prometia, ela se vestiu como se fosse para um casamento, colocou o melhor sorriso e deu mais brilho aos olhos agora cientes de que algo novo aconteceria. Vestiu-se de borboletas interiores e calçou sapatos delicados.
Ele estava esperando por ela atrás da lona, do lado do picadeiro, podia sentir o cheiro doce que vinha da barraca de churros e ainda o cheiro estranho de grama pisada e animais largados.
Só que ainda tinha o cheiro dele, o cheiro de algo errado, de algo diferente do que todas as amigas viviam, o cheiro que ela sentia sair de si e que queria se misturar ao cheiro dele, e o cheiro que mais tarde ela descobriria fazer parte de quase todos os beijos de 'amor', o cheiro de menta da bala que ele mastigava.
A puxou pelo braço sem pensar no hidratante que ela passara, havia preparado uns tijolos para que ela ficasse da altura certa e a beijou.
Ela distante do universo se deixou ficar nos braços até desajeitados dele, deixou que ele mordesse com jeito os lábios incertos, deixou que percorresse todo o rosto dando mínimos beijos e deixou até que as mãos dele a segurassem com força, porque ali ela finalmente começava a ser real.

6 comentários:

  1. Me descobri perdidamente apaixonada por esse conto.

    E é simples assim... Não existe nada como o primeiro amor, nada como o primeiro beijo, nada como se tornar real. ;)'

    Falando sério... Você tem um jeito com as palavras que me deixa boba. '-'

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  2. Simplesmente lindo, sem ironias complicadas ou coisas do tipo. :*

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  3. Lindo, lindo :´)
    Ando apaixonada pelo circo, e pelos romances sempre fui.

    Sim, você disse que leu água para Elefantes. Eu já terminei, mas ainda nem tive tempo de trocar a imagem no blog. E que livro lindo, viu? Um primor. Com certeza minha paixonite pelo circo vem daí.
    ;*

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  4. Amor construindo corações, segurando emoções e tornando-nos humanos, ah queria ser tomado por tal força com mais eficácia, sinto me desbotando mais de saudade do que de amor de verdade!

    Charlie B.

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  5. Irmã...
    depois de um dia tão cansativo, faz bem pra alma e pros olhos ler suas palavras!

    Te admiro TAAAAAAANTO!

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Lembre-se que você me faz feliz. Críticas serão sempre aceitas, desde que você use de um mínimo de educação. Eu jamais ofendo ninguém, tente prezar a reciprocidade.
Beijos!

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